CRÍTICA: Mindhunter (1ª temporada)
Ed Kemper e Bill Tench (Foto: Reprodução/Netflix)

David Fincher está de volta com sua mais nova produção, dessa vez em parceria com Charlize Theron, na série Mindhunter. Distribuída originalmente pela Netflix, a primeira temporada estreou no último dia 13 e conta com dez episódios e já é uma das produções mais comentadas das últimas semanas. A série dividiu opiniões entre o público, mas a crítica especializada não tem poupado elogios.

No final dos anos 70, Bill Tench e Holden Ford são talentosos investigadores que buscam fazer uma análise detalhada sobre a mente de assassinos em massa a fim de encontrar padrões para prevenir futuros homicídios. Para isso, eles fazem longas entrevistas para descobrir não só como os assassinos agiram, mas o porquê.

Essa história é baseada em fatos, mas com liberdade criativa para mudar alguns detalhes. Para quem quiser mais informações sobre como as coisas aconteceram realmente, existe um livro de mesmo nome, de Mark Olshaker, que serve até como complemento para a série, contando os relatos do ex-agente John Douglas.

Tecnicamente, a série é um espetáculo. Desde a fotografia com lindos planos fixos, longos e simétricos, com uso de uma paleta de cores mortas alternando entre o amarelado e o azulado, até a direção de arte, com uma ambientação fiel daquela época, com figurinos, cenários, objetos em cena, tudo muito bem detalhado. A trilha sonora  também é um show a parte, com David Bowie, Led Zeppelin, George Benson, entre outros.

O roteiro é muito bom, e tinha que ser mesmo para a série funcionar. Geralmente histórias criminais são carregadas de flashbacks pra mostrar o criminoso agindo, mas aqui os diálogos são tão bem escritos que só os depoimentos bastam, o que torna a investigação ainda mais humana e imersiva, pois é como se a gente estivesse ali, cara a cara, se questionando se aquilo é verdade ou mentira através do seu falar, do seu olhar, das suas atitudes. Nos tornamos investigadores, de certa forma.

Vale ressaltar também os trabalhos de atuação e seus personagens repletos de camadas: Jonathan Groff traz um agente disposto a abrir mão de sua privacidade para desvendar a mente de assassinos e vemos o quanto essas investigações mexem com sua vida pessoal; Holt McCallany traz um personagem mais conservador, mas que está começando a entender a importância do novo projeto de investigação, e além disso, vive problemas familiares; e a Anna Torv é uma agente disposta a traçar os limites de cada investigação e esconde seu romance lésbico pra não afetar seu trabalho. Todos excelentes. Mas além deles, outros nomes merecem destaque, como Hannah Gross, que é muito mais do que a namoradinha do protagonista, trazendo discussões importantes pra trama, e o Cameron Britton no papel de Ed Kemper, um psicopata assassino de mulheres que possui monólogos incríveis e pode pintar nas próximas premiações.

A única coisa que eu acredito que poderia ter sido melhor foi o desenvolvimento dos plots secundários. Tínhamos coadjuvantes cheios de camadas e com histórias interessantíssimas para serem exploradas, mas tudo foi feito de maneira bastante rasa. Espero que na segunda temporada isso ganhe mais foco. O ritmo também pode ser um problema em alguns momentos, mas felizmente eles são poucos.

Mindhunter pode ser cansativa pra algumas pessoas por ser constituída quase inteiramente por diálogos, mas é um verdadeiro show de direção e roteiro, e obrigatória pra quem gosta de psicologia criminal. Uma das melhores estreias do ano e que deve ser lembrada na temporada de premiações.

VAVEL Logo