CRÍTICA - Star Wars: Os Últimos Jedi
Foto: Disney/ Divulgação

Mark Hamill foi enfático ao discordar do rumo que seu personagem tomara na saga. Opinião certamente respeitável. Alegando que um Jedi jamais se perdereia daquela forma quanto a sua vocação, ou mesmo se abateria com as dificuldades passadas. Do outro lado desse ringue, temos os argumentos de Luke Skywalker, personagem de Hamill. O Jedi alega que boa parte do que fez os Jedi se perderem em outrora foi o orgulho e ar de prepotência. Note que os pontos de vista de Hamill e Skywalker se embasam em experiências de vida, algo que cada um só pode - quase sempre - dar pitaco quanto apenas as suas próprias. Note também que eles são diretamente conflitantes em perspectivas. O ator ressalta a invulnerabilidade e perseverança Jedi, e o Jedi aponta tais percepções como pretensiosas e passíveis de queda. 

De cara, o conflito gerado por alguns fãs com a crítica agraciadora é enquadrado em mera crença do que alguém pode viver de fato. Convicções, medos. Discordar nisso é natural. Por sorte, escolhas de vida não fragilizam o roteiro, o técnico do longa e muito menos os personagens e suas subtramas. Particularmente falando, tendo a concordar com Skywalker. 

Fato é que, a fé abalada do Jedi é um tempero incrível nessa receita que há décadas ainda dá água na boca. O lado fragilizado é interessante, bem como o recobrar da convicção. Rey (Ridley) não é a pupila convencional, chegando a afrontar seriamente aquele que tanto deseja que se torne seu mentor. Parte desta recobrança das forças, ou melhor, Da Força, vem pela personagem que em nada decepciona. No lado negro temos Kylo (Driver), pupilo de Snoke, líder do Império, que deseja tornar seu aprendiz um Darth. Driver entrega uma construção incrivelmente boa de seu vilão, neste Star Wars: Os Últimos Jedi assim como no antecessor. Não existe mais birras. A sensação que Ren passa ao espectador é de uma ameaça imprevisível, uma vez que não sabemos quais serão seus próximos passos. A conexão com Rey é também, sem dúvidas, uma tacada de sucesso na trama. Irmãos? Amantes? Destinados? Fadados? Aliados? Isso fica no ar até o momento de ruptura do suspense. 

Um leque de personagens interessantes salienta a trama para que o sucesso não seja apenas de quem empunha um sabre de luz. Poe (Dameron), Finn (Boyega), Rose (Marie) e Amylin (Dern) estão entre os personagens mais bem construídos de toda a franquia, ressaltando o fato de que só apareceram em dois filmes, alguns apenas neste, em comparativo para alguns que passaram por trilogias ou mais. Convenhamos, Star Wars nunca foi uma escola de personagens profundos e bem desenvolvidos. Algo que nessa nova franquia, tem mudado. O brilho vem do cânone, que é na totalidade envolto no marco da saga original, criação de todo um conceito que daí expandiu-se. Pioneirismo nos efeitos e amor por tudo que o lado fã gerou atrelado aos personagens, conceitos, visual, Força. Esse é o glamour da saga. No entanto, só agora alguns elementos humanos são experimentados pela franquia cinematográfica. O que gera certa curiosidade. Reclamações de "chega de arma que destrói planetas!" são sobrepostas por "Isso não é Star Wars", com o novo longa. Vai entender essa bipolaridade... Os Últimos Jedi devem estar se sentindo como Batman vs Superman agora quanto às reclamações por inovação.

E o que dizer do aspecto visual? Primoroso. Parabéns a Direção de Arte e Fotografia. A ilha, o salto derradeiro para a dobra espacial, a batalha na planície de sal. Os ollhos captam a beleza das imagens e convertem no peso e na metáfora que aquilo trás. Exílio, guerra, ruptura, perda, sangue. Até a fauna alienígena é exaltada com esmero no filme. 

O longa inova positivamente! Demonstrações de poderes da Força inéditos no cinema, sentimentalismo bem explorado e personagens antes nunca tão aprofundados. Um roteiro que a cada momento joga algo novo para se lidar, alongando a experiência de quem assiste. Iludindo graciosamente quanto ao final do episódio, catapultando o climax para um momento belíssimo. 

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