Crítica: Black Mirror (4°Temporada)
Foto: Divulgação/Netflix

Black Mirror estreou 2011 de uma forma discreta, foi ganhando força com o tempo, porém após começar a ser produzida pela Netflix que virou um grande sucesso. A série aborda a interação dos seres humanos com a tecnologia. Além de reflexão sobre nossa atual sociedade e uma perspectiva de um futuro pessimista.

A quarta temporada estreou dia 29/12, finalzinho de 2017, um verdadeiro presente de fim de ano. Foram lançados seis episódios, que em ordem são:

1 – USS Callister;

2- Arkangel;

3 – Crocodile;

4- Hang The DJ;

5 – Metalhead;

6 – Black Museum.

Antes de começar o discorrer do texto em si, quero pontuar que abordaremos aqui a temporada de uma maneira geral e cada episodio de forma sucinta, podendo voltar dissecando episódio por episódio, ok?

A temporada traz gêneros diferentes em Black Mirror. Temos ficção cientifica, romance, perseguição, drama familiar o que é um ponto positivo. A reutilização de tecnologias já abordadas em episódios anteriores, trazendo outro ponto de vista para debates, a possibilidade de tudo estar acontecendo no mesmo universo e a presença de personagens interessantes, com tons de cinza, se assemelhando à vida real são pontos positivos a ressaltar.

A série é conhecida por seus plot twists e o impacto que causa no telespectador, que na grande maioria, termina de maneira depressiva e pra baixo. Nessa temporada nota-se certo otimismo e alegria ao fim de alguns episódios. Dos seis, três terminam com finais felizes, isso num mundo de Black Mirror.

Quem foi com muita sede ao pote, com uma expectativa altíssima, podem achar essa temporada previsível e inferior as passadas. Mas o bom de Black Mirror é a pluralidade em relação aos nossos gostos. Dependendo da nossa cosmovisão, enxergamos os episódios de diferentes formas, influenciando nossa preferência pessoal.

1) USS Callister

O começo pode causar certa estranheza, dando uma impressão de série antiga, parodiando Star Trek. Porém logo vemos que tudo aquilo é um jogo. Acompanhamos a dupla de protagonistas Daly e Nanette, tanto na vida real quanto dentro do game. O episódio acerta quando mostra que criamos mundos imaginários sejam em videogames, livros, filmes, séries, internet, redes sociais diferentes da realidade. Até aí tudo bem. O problema é quando você pensa que isso é real, como se fosse uma rota de fuga.

Com questionamentos sobre ver quem a pessoa realmente é, deus (seja em qual acredita, mesmo que seja você mesmo), relações no ambiente de trabalho e machismo. Todo o debate é excelente sobre a vilania do protagonista.

A analogia a jogos como The Sims e GTA é comparável. Porque nesses jogos o jogador pratica atos com seu avatar que não faz na vida real. Mas se os personagens do jogo tivessem emoções, memórias e consciência? Pensar sobre isso é muitíssimo interessante.

Tenho um problema com USS Callister, que são as decisões de roteiro tomadas do meio para o final. Foi muito ao acaso, que não faz sentido se parar pra pensar, parecendo ser algo feito para valorizar a protagonista.

2) Arkangel

Dirigido pela Jodie Foster, temos um drama de uma mãe que quer proteger sua filha dos males desse mundo. Apesar de ser muito previsível, a reflexão gerada é boa. Até quando um pai ou uma mãe pode interferir na vida do seu filho? Será que proteger demais é uma prova de amor? Qual o limite que se pode dar liberdade a alguém, se isso se tornar danoso?

Com todo questionamento do controle da mãe, das descobertas e rebeldia da filha, Arkangel prende sua atenção, trazendo no final uma das cenas mais impactantes da temporada. O fim poderia ter sido mais pesado, mas no geral, é um bom episódio.

3) Crocodile

Para mim é o episódio mais fraco da temporada. Trazendo reflexão sobre até onde uma pessoa pode ir para esconder um segredo seu, se tornando algo que ela não é de fato. A melhor coisa é acompanhar a protagonista e nos surpreender com as ações dela. Contém algumas cenas de se espantar, quem podem chocar. É um episódio ok.

4) Hang The DJ

Meu episódio favorito da temporada. Lembra um pouco San Junípero da temporada passada por ter uma pegada romântica, entretanto possui uma premissa diferente. Pensar num mundo onde os relacionamentos têm duração e controlados por um sistema que não pode ser violado. Hang The DJ é mais introspectivo, já que toca sobre nossas relações.

Mas também se percebe uma crítica a sistemas que tentam controlar ou ditar uma forma de agir ou pensar. Trazendo para nossa realidade, podemos relacionar com o âmbito político, social e até religioso.

Estar com alguém que você não suporta, a procura do par perfeito e da felicidade eterna, reflexões sobre ser solteiro, pular de relacionamento em relacionamento, questões sexuais acima das sentimentais são possíveis discussões abordadas. O plot twist é excelente e a cena final ao som de “Panic” do The Smiths é linda.

5) Metalhead

Episódio com fotografia em preto e branco. Temos uma perseguição frenética e um combate de inteligência entre o ser humano e uma máquina. Consegue prender a atenção, mesmo sem te explicar muita coisa em relação ao que a personagem principal procura e nem o que aconteceu naquele lugar. Com mortes sangrentas e cenas gore, Metalhead traz um final otimista, apesar do fim trágico. Posso nem comentar muita coisa para não dar spoilers.

6) Black Museum

Season finale fechando muito bem a temporada. Com referências a outros episódios, toques bizarros, sangrentos, toscos e impressionantes, acompanhamos o conjunto de três estórias em um museu bizarro de crimes. Black Museum consegue voltar a discutir White Bear, agora por outra perspectiva. Impunidade, se aproveitar da fragilidade das pessoas, justiça, vingança e entender de quem é a verdadeira culpa por trás dos crimes é excelente o que se é visto.

Meu ranking pessoal ao término da temporada é:

1 – Hang The DJ;

2 – Black Museum;

3 – Arkangel;

4 – Metalhead;

5 – USS Callister;

6 – Crocodile.

Black Mirror continua sendo relevante para nosso contexto atual, trazendo pensamentos e discussões fortes, mas sem bater martelo sobre o que seria certo ou errado. Fico feliz com a temporada, que é ótima. É minha série favorita, então vou continuar discutindo, indicando, pensando e amando.

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