Eu poderia dizer que minha história com os Eagles começou de uma maneira muito linda. Tipo, sei lá, fui à Philadelphia, conheci o time e me apaixonei. Tenho parentes lá, algo assim. Mas foi meio aleatório pra dizer a verdade, por meio de uma versão demo de um jogo em que eu era simplesmente horroroso. Esse texto, como é de costume, não vai ser nem um pouco curto. Mas vamos lá.

O ano era...não sei bem, mas estávamos entre 2006 e 2008. O Gabriel de dez anos de idade liga seu PlayStation 2 e resolve jogar algum jogo que eu já nem lembro qual era. Só tenho certeza de que, nesse game, vinham duas demos: um era de Burnout 3 - baita jogo, diga-se de passagem - e a outra era de algum dos NFL Street. Eu já gostava do Fifa Street e pensei: "por que não?" antes de tentar me aventurar na versão do futebol americano.

Como era apenas uma demo, mal dava pra jogar e eu só podia escolher dois times: Philadelphia Eagles ou Pittsburgh Steelers. Entre as duas franquias da Pensilvânia, eu sei lá por que escolhi os Eagles. Eu era muito ruim no jogo, mas a partir daí simpatizei com as águias, que tinham Donovan McNabb como QB.

Eu não fazia a menor ideia de quem tinha sido McNabb, mas foi o primeiro Eagle que conheci. (Foto: Nick Laham/Getty Images)
Eu não fazia a menor ideia de quem tinha sido McNabb, mas foi o primeiro Eagle que conheci. (Foto: Nick Laham/Getty Images)

Aperta o "fast forward" aí e vamos até 2015. Já com meus 18 anos de idade, resolvi dar uma chance à bola oval e fui assistir Seattle Seahawks x New England Patriots, pelo Super Bowl XLIX. Jogaço, decidido no último lance, final eletrizante. Eu não entendia praticamente nada do esporte em si, mas me apaixonei porque era emocionante.

Comecei a acompanhar a NFL de verdade na temporada 2015. Ainda tínhamos Chip Kelly como head coach e Sam Bradford como QB. Ali eu já comecei a passar nervoso com esse time. E olha que eu mal sabia direito o caminhão de lambanças que o nosso técnico e general manager tava fazendo. Terminamos aquele ano com um recorde 7-9, mas eu lembro de ter me animado com o desempenho de Bradford ao final da temporada e comemorei quando Kelly foi despedido.

Em 2016, entrei no famoso Bonde da Ilusão, que os torcedores de Philadelphia conhecem bem. Draftamos o menino Carson Wentz, nos livramos do legado chipkelliano - uma série de contratos horrorosos - e parecia que a franquia ia tomar um rumo. Confesso que o 34 a 3 em cima dos Steelers me iludiu muito e eu sonhei com os playoffs ali. Pra que? Só pra ter o trabalho de ver a gente eliminado. Mas a gente já sabia que torcer pros Eagles era a mesma coisa que sofrer conscientemente. E eu já tava acostumado com minha experiência em outros esportes.

Eu não acompanhava nada do college, mas ninguém sabe como eu torci pra você ser nosso franchise QB. Acertamos. (Foto: Jon Durr/Getty Images)
Eu não acompanhava nada do college, mas ninguém sabe como eu torci pra você ser nosso franchise QB. Acertamos. (Foto: Jon Durr/Getty Images)

Segue o baile, fui estudando futebol americano, entendendo mais o tempo inteiro e viciando no esporte. Fui acompanhar o draft e confesso que fiquei chateado com a pick dos Eagles. Desculpa, Barnett. Como eu errei nisso. Sonhei com um CB, mas você foi o cara que recuperou aquele fumble. AQUELE fumble. Obrigado por isso.

Eu não vi a maior parte do passeio sobre os Vikings porque tava indo pra casa. No carro, minha namorada, a Roberta - que eu to quase conseguindo trazer pra #BirdGang - me perguntou se eu imaginava, antes da temporada, os Eagles chegando ao Super Bowl. E eu respondi que confiava que fôssemos aos playoffs. Super Bowl talvez não nessa temporada, mas nas próximas, com certeza. Isso era o jornalista Gabriel falando. Conhecendo o elenco dos Eagles, eu achava inacreditável que todos nos declarassem praticamente sem chances de playoffs e nos relegassem à terceira ou quarta força da NFC East. É legal demais ver esse time ter provado que tava todo mundo errado. Assim como foi uma sensação indescritível ver Nick Foles calando todos os críticos e jogando MUITO. Ele pode não ser um QB brilhante, mas provavelmente era um dos melhores backups da NFL e tem condições de ser titular em outros times - ou vocês acham mesmo que Foles é pior que Osweiler e cia, McCown? Ele não tem um espaço nos Browns?

O torcedor Gabriel acreditava o tempo inteiro, mas nunca imaginou que a jornada fosse ser tão épica. Sem Hicks, Peters, Sproles, Sturgis, Wentz, Maragos...quase fraquejei várias vezes. Mas sonhei. Junto com Philadelphia inteira e junto com aquele time todo.

+ Trajetória dos Eagles até o Super Bowl passou por lesões de líderes da equipe, incluindo Carson Wentz

Essa semana antes do Super Bowl foi simplesmente surreal. Eu não conseguia pensar em outra coisa e, a cada vídeo que os Eagles lançavam, as lágrimas vinham e o nó na garganta apertava. Eu avisei pra Roberta que ela ia me ver chorando, independentemente do que acontecesse no jogo. E também fiz a promessa de que ia comprar a camisa de quem fosse o MVP ou fizesse uma jogada que mudou a história do jogo.

Eu surtei. Vibrei como louco a cada passe perfeito de Foles e a cada touchdown. Me desesperei com a defesa não sendo tão agressiva e destrutiva quanto em outros jogos. E acreditei o tempo inteiro. Repeti mil vezes quais eram os conceitos-chave pra gente ganhar. Fiquei calculando tempo de posse de bola, pensando em todas as variáveis possíveis.

Eu disse que eu ia chorar, né. Então. Faltando ali pouco mais de dois minutos, quando os Patriots pegaram a bola de volta, eu comentei: "a defesa tem que funcionar agora. Bem que podia rolar um sack. Um sack do Graham ou do Cox". Eu não sei se acredito até agora que o BG forçou aquele fumble. Eu só sei que eu ajoelhei e chorei, do mesmo jeito que o Ajayi chorou depois do jogo contra os Vikings. Enquanto isso, a Roberta já preparou uma foto pra zoar com os Patriots. Falou que ia deixar engatilhada pra postar logo que eu acabasse o jogo. Eu entrei em desespero e falei "pelo amor de deus não faz isso, espera acabar porque isso vai zicar".

Era o Patrick Robinson em Minnesota, mas podia ser eu no Rio de Janeiro (Foto: Elsa/Getty Images)
Era o Patrick Robinson em Minnesota, mas podia ser eu no Rio de Janeiro (Foto: Elsa/Getty Images)

Continuei chorando pelo resto do jogo, ajoelhado, tremendo e vibrando. Quando a última campanha dos Pats começou, eu me animei e vi a vitória ali. Só que os caras chegaram no meio do campo e aí eu pensei "bom, já era, o pacto foi ativado de novo". Sete segundos. "Uma jogada rápida saindo pela lateral e a hail mary.", pensei.

Não. Foi só a hail mary. "Na hail mary não vai dar porque só o Aaron Rodgers sabe fazer isso", brinquei, querendo com todas as forças que fosse verdade. Graham QUASE conseguiu outro sack. O Brady jogou a bola pro alto. Eu olhei o Gronkowski, aquela aberração da natureza de 1,98m e vi o touchdown. Até agora eu to olhando o replay e achando que ele vai fazer a recepção. Ces viram a reação do Kobe Bryant? Se não viram, vão ver agora. Eu tava praticamente daquele jeito. Só que sem um bebê no colo. O "não, não, não" quando a bola tá no alto e a incredulidade por termos ganhado traduziu o sentimento acho que de todo torcedor dos Eagles naquele momento.

Quando acabou, eu simplesmente saí pulando na sala e me joguei no chão. Continuei chorando. Repeti umas 10 vezes que "a gente ganhou o Super Bowl. Não é possível".

Bom, eu só acredito no que aconteceu porque eu vi isso tudo sendo construído desde 2015.

E porque tô na procura por uma camisa dos Eagles. Foles #9. Pode ser Graham #55 também.

PS: As casas de aposta já divulgaram as odds para o título do ano que vem. Patriots #1. Eagles #2, junto com os Steelers. A ESPN americana também divulgou seu "power ranking", com os Eagles atrás dos Pats. Particularmente, eu adorei. Gostei dessa história de ser underdog. Daqui a pouco a NFL volta. E a gente vem forte. Muito forte. E se estão contra a gente, pouco importa. Afinal...

We all we got. We all we need.

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Sobre o autor
Gabriel Menezes
Jornalismo na UFRJ. Coordenador e setorista de Botafogo; Coordenador de Futebol Americano e Italiano