Zlatan Ibrahimovic encerrou sua passagem pelo Manchester United e aceitou o desafio de ser a estrela do Los Angeles Galaxy. Aos 36 anos, o atacante vai para o nono clube em sua carreira. Como era esperado, a chegada do craque trouxe novamente os holofotes para a Major League Soccer.

O camisa 9 desembarca em um clube que precisa mostrar resultados dentro e fora de campo. Os objetivos estão claros: retomar o domínio de anos anteriores, disputando as primeiras posições da Conferência Oeste, e ser a franquia de futebol mais midiática do país, visto que a concorrência local e nacional aumentou bastante, principalmente com as chegadas do LAFC e do Atlanta.

Porém, diante do retrospecto recente, trazer um grande astro do futebol europeu na reta final de carreira não significa sucesso absoluto dentro das quatro linhas. O próprio LA Galaxy enfrentou este problema com Steven Gerrard, que acumulou atuações decepcionantes. Por outro lado, a equipe californiana também já viveu o oposto com Robbie Keane, peça fundamental nos três últimos títulos, inclusive vencendo o prêmio de MVP em 2014.

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Dear Los Angeles, You're Welcome.

As especulações aumentaram e diminuíram ao longo dos últimos dois anos. A diretoria do Galaxy esteve na cola do sueco desde sua saída do Paris Saint-Germain. Mesmo após a lesão no joelho, a insistência continuou. Nesta semana, informações de bastidores começaram a circular. A imprensa de Los Angeles cravou, os veículos ingleses confirmaram. Pouco depois, o Manchester United anunciou a rescisão. Mesmo sem ser uma surpresa, a oficialização teve um grande impacto.

Capa do jornal Los Angeles Times, uma página publicitária inteira com uma mensagem do próprio jogador, simulando a assinatura de contrato e mandando um recado para a cidade. No caderno de esportes, tudo sobre a negociação. Nas redes sociais, Ibrahimovic roubou a cena. Teve vídeo com leão, fotos, entrevista, trending topics e tudo que cerca uma grande contratação.

Foto: Divulgação/StubHub

O Galaxy fez uma das piores campanhas da história da MLS. Ficou em último na classificação geral em 2017, os principais jogadores estiveram abaixo do esperado, alguns sofreram com lesões, os jovens da base tiveram suas últimas chances e não corresponderam – quase todos foram negociados. Uma nova era se faz necessária. Além dos problemas internos, a zona de conforto local não existe mais.

O Los Angeles FC chegou para roubar o espaço e acertou em vários aspectos para sua primeira temporada, principalmente ao explorar fatores ignorados ou pouco valorizados pelo concorrente. O maior campeão da liga precisava de um fator novo. E não apenas o Galaxy, a MLS também.

Sem Kaká, que não mais rendia em campo como antes, sem Pirlo e alguns outros nomes de peso, – mesmo ainda com Villa e Giovinco – faltava ‘o’ nome para atrair novamente a atenção do mundo para a MLS. A mídia esportiva do mundo todo falou desta contratação. O ofuscado Galaxy agora retorna ao trono de equipe com maior visibilidade dos EUA.

Ibrahimovic tem contrato até o fim de 2019. Receberá US$ 1,5 milhão anualmente e não será jogador designado. O clube utilizou o Targeted Allocation Money para assinar com o atacante sem ocupar um espaço acima do teto salarial. Este mecanismo foi criado pela liga para facilitar a contratação ou renovação de jogadores com salários acima do teto, abatendo o valor para encaixar no orçamento anual.

"Um lugar diferente, mas o mesmo Zlatan"

O sueco rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito no dia 20 de abril de 2017. Passou por cirurgia e retornou no final do ano. Voltou a sofrer com problemas físicos, atrapalhando sua jornada na Inglaterra e facilitando sua saída. Se estiver 100% fisicamente, tem tudo para dar muito certo nos Estados Unidos. Antes da lesão, ainda figurava entre os grandes centroavantes do mundo. Retomando a forma de um ano atrás, deverá passar o trator nas defesas adversárias, tendo impacto inicial semelhante ao de Drogba, mas com a regularidade e continuidade do Gionvico.

Acompanhando a carreira de Ibrahimovic facilmente nota-se sua grande motivação, foco, gana de vencer, dominar, doutrinar o ambiente onde está. Fez isso na França, espera-se que ele mantenha a mesma vontade nos EUA. Ele chega a um clube grande nacionalmente – talvez o maior, mas isso é papo para outro momento – precisando se reerguer. Certamente ganhar a MLS Cup é o principal objetivo. Após a reorganização do calendário, o título já colocaria o Galaxy na Concacaf Champions League de 2019, fato que já mudaria totalmente o patamar de ambição.

"Ganhar troféus está no meu DNA" – Ibrahimovic

Ibra não vai querer apenas passar pelos EUA. Ele sempre busca marcar o seu nome. Recordes, estatísticas, grandes declarações, provocações, tudo está incluso no pacote. Caso decepcione, será um banho de água fria não apenas no Galaxy e em seus torcedores, mas também no próprio jogador. Zlatan chega para jogar, voltar ao bom nível e manter a regularidade nestes meses que antecedem a Copa, pois é desejo do craque disputar o mundial pela Suécia.

O que muda taticamente no LA Galaxy?

Durante a pré-temporada, a equipe trocou Zardes por Ola Karama. O centroavante norueguês – autor de um hat-trick contra a Austrália recentemente – marcou 34 gols em 60 jogos pelo Columbus Crew, onde esteve por duas temporadas.

Ibrahimovic chega para ser o titular da posição e isso é inquestionável. A moral dele é tanta que até brincam: Ibra contratou o Galaxy para ser seu novo clube. Mas existem algumas variações que podem ser utilizadas. Em caso de problemas físicos ou de um rendimento abaixo do esperado por parte do sueco, há um substituto no elenco.

O básico é manter o 4-2-3-1 com Giovani dos Santos centralizado, dois meias dando amplitude e agressividade no último terço, além do apoio ofensivo do Jonathan, que vem por trás. Kitchen faz o trabalho sujo, cobre os buracos do Ashley Cole e ainda tem tempo para iniciar a saída de bola.

A equipe aposta na individualidade, transição rápida é muito comum, deixam “os caras” resolverem. É uma característica bem típica do Galaxy, e também um de seus defeitos. Sigi Schmid precisa impor um padrão de jogo mais coerente, mas isto é algo que está bem longe de acontecer.

Outro cenário seria ter os dois atacantes, com Ibra tendo liberdade para circular próximo à grande área junto a um parceiro no setor. Levando em consideração que o decepcionante Giovani não vem atuando bem e sempre tende a cair fisicamente na etapa final, o 4-4-2 com Lletget ou Ema Boateng pela esquerda seria uma solução para determinadas situações adversas.

Independente de como o time virá a campo, a tendência é Ibrahimovic centralizar as atenções. A equipe precisa ter volume e criatividade para fazer a bola chegar com qualidade até o atacante. Será um desperdício tê-lo distante demais da área, vindo buscar o jogo quase no circulo central pelo fato do time não conseguir passar pelas linhas adversárias. Ibra precisa estar perto do gol, para concluir as jogadas ou dar um último passe, seja para um companheiro de ataque ou para alguém que vem de trás.

Em entrevista publicada pelo site do Galaxy, o sueco deixou claro quais seus objetivos no futebol dos EUA. “Quero conquistar o máximo que puder”, bradou. “Onde fui, venci. Isso não é segredo, joguei em vários clubes, nos melhores clubes do mundo, em diferentes países. Venho para vencer. Quero vencer. Acho que ganhar troféus está no meu DNA. Não é sorte, nada especial, apenas eu. Espero trazer isso para meu novo desafio. Isso não vai mudar. Um lugar diferente, mas o mesmo Zlatan.”

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