A era Di Matteo acabou. Em menos de um ano, o treinador italiano levou o Chelsea ao céu, e deixou os Blues na terra, a caminho do inferno. A conquista da inédita Champions League colocou Roberto Di Matteo como um dos grandes da história do clube, após assumir o comando da equipe num momento conturbado. Ao levar o time até a glória máxima de um clube europeu, Di Matteo ganhou confiança, ficou no cargo, e seria o homem responsável para defender o título do Chelsea na competição do ano seguinte. Reforços foram contratados, mas o time viveu uma primeira metade de temporada com altos e baixos. Perto do fim, a notícia: o Chelsea estava a procura de novo técnico. Roberto Di Matteo fora demitido.

O italiano assumiu os Blues numa situação difícil. Com chances remotas na Premier League, o Chelsea também corria risco de eliminação nas oitavas da Champions League, após perder a primeira partida para o Napoli, por 3 a 1. Aos poucos, tudo se controlou, e Roberto se transformou numa grata surpresa para o torcedor. Foram-se o Napoli, o Benfica e o poderoso Barcelona, até a grande final com o Bayern de Munique. Até então, o clube já havia conquistado a FA Cup, vencendo o Liverpool. Voltando ao cenário europeu, o grande clube alemão jogava em casa, tinha menos desfalques e era extremamente favorito. E lá foi o Chelsea, vencer nos pênaltis e ser o primeiro time de Londres a levantar a Champions. O Chelsea de Cech, de John Terry, de Lampard, de Drogba. O Chelsea de Di Matteo.

Muitos reclamaram do título. Falaram mal do chamado ‘anti-jogo’ do Chelsea, que se defendia o jogo todo, para matar o adversário nos contra-ataques (tática que conseguiu parar o Barcelona). Pouco importava. Afinal, o que vale é o título, não é? Foi só a temporada virar, que Di Matteo pareceu começar a pensar diferente. Reforçado, deixou a linha mais defensiva de lado, e passou a atacar. Um time bem mais ofensivo que os torcedores tinham se acostumado. O resultado? Duas conquistas perdidas logo no início da temporada. A Community Shield foi para o Manchester City, campeão da Premier, e a UEFA Super Cup foi conquistada pelo Atlético de Madrid, campeão da Europa League.

As duas péssimas apresentações fizeram Di Matteo mudar. Com os reforços pontuais de Hazard e Oscar, o clube venceu sete e empatou um dos oito primeiros jogos da liga, chegando até a liderança. Tudo parecia dar certo para o campeão europeu: o impecável Juan Mata tinha forma espetacular, e até Fernando Torres vinha marcando seus gols. No entanto, a ilusão não durou. O primeiro baque do Chelsea de Di Matteo foram as acusações de racismo contra John Terry, que tumultuaram o ambiente do clube. Sem seu destaque e capitão, a defesa teve queda significativa.

Hoje, o Chelsea está em terceiro na Premier League, e, pior, em terceiro lugar em seu grupo na Champions, com remotíssimas chances de classificação. Caso não consiga, será o primeiro clube da história a ser campeão num ano e eliminado na fase de grupos do outro. Caso ocorra, pode chegar desmotivado para a disputa do Mundial de Clubes.

Antes de viajar ao Japão, antes mesmo de ter seu futuro na Champions League definido, o Chelsea se viu, mais uma vez, trocando seu técnico. A demissão de Di Matteo foi comentada e criticada por todo o futebol europeu. Ídolo do clube, Ruud Gullit foi o primeiro a criticar a decisão. Adversários, como o técnico do Newcastle Alan Pardew e o zagueiro do Manchester United Rio Ferdinand também não entenderam a mudança. Gary Lineker, lenda da Premier League, foi além, e ironizou o dono do clube, com um trocadilho (“O imperador Romano baixou seu polegar novamente”). Essa é a quarta vez que Roman Abramovich troca algum técnico no meio da temporada.

O anúncio do espanhol Rafa Benítez como técnico não fez lá muito barulho. Nono treinador do clube desde 2004, Benítez é conhecido por seus três últimos trabalhos: Valencia, Liverpool e Internazionale, onde conquistou um total de nove títulos (incluindo uma Champions pelos Reds, um Mundial pelo clube italiano, e dois nacionais pelos espanhóis). Com um acordo até o fim dessa temporada, Benítez terá pouco tempo para trabalhar e colocar em prática seus planos para os Blues.

A verdade é que Rafa tem extrema predileção pelo esquema 4-2-3-1, o usado na melhor fase do Chelsea nessa temporada. O meio-campo com Mikel, Ramires, Oscar, Mata e Hazard pode fazer o Chelsea voltar aos bons dias. A grande desvantagem é que o espanhol não treina um clube há dois anos, desde que fora demitido da Internazionale (mesmo dias após conquistar o Mundial, frente o congolês Mazembe). A situação atual, inclusive, lembra a daquela época: o europeu chegou ao Japão em crise.

Os mais otimistas, portanto, podem dizer que Di Matteo deixou um time, pelo menos na prancheta, quase pronto para Benítez. Podem lembrar também que foi na mão do novo técnico que Fernando Torres teve a melhor fase de sua carreira, atuando pelo Liverpool. Os pessimistas (ou até realistas, no caso), temem pelo futuro do clube. Provavelmente eliminado da Champions, uma eventual conquista do Mundial acalmaria os ânimos por alguns dias. O Chelsea não conquista a Premier League desde 2010, e a disputa com United e City não será fácil (lembrando que os Citizens já estão fora da UCL). Uma Europa League? O tempo dirá. A verdade é que o que acontece por dentro do Chelsea é extremamente obscuro, e nos resta imaginar como decisões são tomadas.

Criticar Di Matteo é fácil. Criticar o centro-avante que perde gols, qualquer um faz. O que poucos percebem é que o problema vem bem mais acima que isso. A intenção e a vontade de Abramovich em transformar o Chelsea numa das maiores potências mundiais é exemplar. Mas ainda há algumas falhas enquanto o magnata russo finge brincar de Football Manager. Para quem poderia terminar a temporada 2012/2013 com sete títulos, o momento atual é preocupante.

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Sobre o autor
Caíque Toledo
Jornalista metido a entendedor de futebol, tênis, Formula 1 e futebol americano.