A temporada, que tem tudo para ser ainda melhor para o Bayern de Munique, teve sua primeira conquista colhida no último sábado. O título da Bundesliga coroa o trabalho absurdamente eficiente que vem sendo feito pelo time de Munique desde a temporada passada. Os recordes batidos são reflexos de um clube que soube dar um passo a frente nas derrotas que atravessaram seu caminho nos últimos anos, sem nunca diminuir o tamanho da sua influência e obrigação de voltar ao topo.

O bom fã de futebol que acompanha a temporada do Bayern o aponta como um dos melhores esquadrões do mundo. De fato é, pois vem correspondendo a essa alcunha onde importa, dentro do campo. E justiça seja feita, existem alguns elementos da 23ª conquista que precisam ser ditos. Na verdade, merecem ser ditos. Esse Bayern que assombrou a Alemanha e vem forte na frente europeia de batalha, têm ângulos igualmente importantes e que podem passar despercebidos. Aqui não.

A “vingança” de Jupp Heynckes

Heynckes é, tem sido, e, infelizmente será um dos treinadores mais subestimados do mundo. Na última temporada, ele conseguiu levar o Bayern nas cabeças pela tríplice coroa e fez isso com várias lesões chave, sem a mesma profundidade de elenco que tem hoje. Fracassou e acabou massacrado de diversas formas. Um ano se passou e ele transformou todo o amargor das derrotas passadas em ambição e qualidades até então adormecidas. Fora de campo, conseguiu domar os egos de um elenco poderoso e entregará a Guardiola uma equipe madura, ambiciosa e inteligente taticamente. Literalmente pronta.

Como um bom vinho...

Philipp Lahm se prova um dos melhores a cada temporada. Aos vinte e nove anos, o capitão do Bayern foi o grande pilar do setor defensivo mais uma vez.  Já são três anos consecutivos em que o jogador segue no topo da sua forma, tanto física quanto técnica, liderando clube e seleção de forma coadjuvante, mas não despercebida.  Sua consistência defensiva tem sido colocada à prova ao longo do ano e a estabiliade adquirida no setor tem forte contribuição do jogador. Dos treze gols sofridos pela equipe, apenas um foi anotado pelo setor de Lahm.

No setor ofensivo, Lahm se mostra ainda melhor. Líder em assistências para gol (10), o capitão tem média catalã em acerto em passes (90%) nas 27 partidas em que atuou. Seus números reforçam o letal flanco direito da equipe, que computa 40% dos gols na Bundesliga.

Já no aspecto psicológico, Lahm é líder de uma equipe que ajudou a construir lá atrás. Calejado pelos insucessos das últimas temporadas, é o tradutor e expoente em campo do pensamento resiliente do clube.

O homem de €40 milhões

A chegada de Javi Martinez pela bagatela acima vai sendo recompensada. O espanhol deu ao meio-campo bávaro inúmeras contribuições, mas duas delas chamam mais atenção: a saída de bola mais ágil e a liberdade para o jogo de Schweinsteiger.

Martinez chegou com a obrigação de jogar bem e fazer valer cada centavo gasto em sua transação. Não que seu concorrente direto, Luiz Gustavo, seja mau jogador, pelo contrário. Mas algumas qualidades de Martinez casaram melhor com um meio-campo que, de tanto talento, precisava fluir mais. O jogador tem aliado a sólida proteção defensiva com a transição em agilidade. Ao ser mais que um volante preso, participa mais do jogo colaborando para que Schweinsteiger não se sobrecarregue na posição central do meio-campo. Isso deu ao Bayern uma arma a mais, pois faz com que a bola já chega a Schweini bem trabalhada, facilitando o trabalho de distribuição do camisa 31. A sinergia entre os dois reflete em toda a fluência de jogo da equipe. Porém é preciso afirmar que exaltar Martinez não significa desmerecer o trabalho de Luiz Gustavo, que é de alta qualidade. O brasileiro só não foi contratado por tanto dinheiro.

Coadjuvantes quando preciso, protagonistas a toda hora

Dante foi sem dúvidas um achado para esse Bayern reestruturado defensivamente. Mas seria injusto também só destacar Mandzukic e Thomas Müller por seus gols lá na frente. Os jogadores vêm exercendo um papel tático muito mais participativo, com o dedo de Heynckes. Ambos são responsáveis pela pressão na saída de bola adversária, encurtando os espaços e dificultando a armação. Com Mario Gomez, a equipe tem um centroavante mais letal, mas Mandzu é melhor taticamente, auxiliando na recomposição e retomada da bola com rapidez, fundamental para a organização desse Bayern.

Já Müller emplaca mais um ano da sua importância. É o vice-artilheiro da equipe (12) e o líder em assistências junto com Lahm (10). Fora da Allianz Arena, garantiu três vitórias diretas com gols e outras duas com passes, além de ser o responsável por quase um terço dos tentos anotados longe de casa, nove em 31 marcados.

Menções alternativamente honrosas:

-Xerdan Shaqiri: em grande evolução, vai aprendendo a ser mais dinâmico e coletivo. Versátil o suficiente para ser o substituto natural de Ribéry ou Robben.

-Luiz Gustavo: sempre entregando um trabalho de qualidade. Javi Martinez chegou com o peso das cifras, mas o brasileiro mostrou-se fundamental ao elenco.

-Dante: a contratação da temporada. Segurança que faltava ao miolo de zaga.

-Pizarro; aos 34 anos, entrar sempre com a mesma fome de um atacante de 25 é para poucos. Poucos.

-Mattias Summer: a influência do antigo rival e atual diretor, foi capaz de acertar com Dante, Mandzukic e Martinez, além do próprio Guardiola, de quem é amigo.

A coluna teve o intuito de dar outros ângulos aos diversos personagens que fizeram do Bayern um clube avassalador na Bundesliga. Ainda a lutar por troféus na temporada, talvez esteja aí a grande força do clube; um coletivo que se destaca da forma certa, com entrega e divisão das funções. Mas que acima de tudo, não se dá por satisfeito toda vez que entra em campo. E Guardiola ainda nem chegou...