O futebol presenciou nesta quarta-feira o fim de uma era. Ao anunciar sua aposentadoria na manhã deste 08 de maio de 2013, Sir Alex Ferguson, aos 71 anos, encerrou um dos capítulos mais marcantes na história do futebol britânico - e por que não, mundial. Um capítulo de 26 anos de duração, recheado de conquistas, polêmicas, alguns inimigos e muitos admiradores. 

Do agora demolido Manor Ground (Oxford), em 8 de novembro de 1986, ao The Hawthorns, em 19 de maio de 2013, a trajetória de Ferguson no United ficará para sempre marcada não só pela rara longevidade no cargo, mas especialmente pelos incríveis 38 títulos. Sem conquistar o Campeonato Inglês há 26 anos, o United de Ferguson precisou da mesma quantidade de tempo para levar treze títulos da liga - a mais recente justamente na atual temporada, 2012/13 - e superar o Liverpool no ranking geral de conquistas, algo inimaginável há 30 anos. Completam o seu currículo no United duas Ligas dos Campeões, cinco Copas da Inglaterra, quatro Copas da Liga Inglesa, dois Mundiais, uma Copa dos Campeões de Copas da Uefa, uma Super Copa da Uefa e dez títulos da Super Copa da Inglaterra.

De origem humilde, Ferguson nasceu em 31 de Dezembro de 1941 em Govan, Glasgow. Foi aprendiz de torneiro-mecânico em um estaleiro. Como jogador, iniciou a carreira no Queen's Park e passou por St. Johnstone e Dunfermline antes de chegar ao Rangers em 1967, seu clube de maior expressão como atleta. Em 69, se transferiu para o Falkirk e em 73, para o Ayr United. Em setembro de 74, foi apontado técnico do East Stirling, mas três meses depois, chegou ao St. Mirren. Demitido - a primeira e única demissão na carreira - em 80, chegou ao Aberdeen e transformou o clube numa potência do futebol escocês, até então dominado pelo Rangers e Celtic. A boa trajetória o levou ao posto de técnico da Seleção Escocesa após a morte de Jock Stein em 1985. Saiu após a eliminação na fase de grupos da Copa de 1986, e novembro do mesmo ano, assumiu o United depois da demissão de Ron Atkinson.

Agora ídolo, com direito a estátua e nome de arquibancada no Old Trafford, Ferguson, entretanto, nem sempre foi uma unanimidade nos Red Devils. Do período em que assumiu, em 1986, até 1990, quando conquistou seu primeiro título, o escocês viveu seu período de maior turbulência e desconfiança. A diretoria, entretanto, confiou no trabalho de Fergie e passou a colher os frutos na década de 90. Mesclando promessas da base com contratações pontuais, Ferguson foi capaz de reconstruir o elenco do United por diversas vezes e assim montou seu império.

Substituir Ferguson é uma tarefa árdua, a qual cerca o futuro do United de dúvidas. Além de encarar a responsabilidade e pressão, naturais de um gigante no cenário global, conseguirá o sucessor fugir da sombra do legado de Ferguson? Dificilmente. O Chelsea, por exemplo, vive até hoje sobre os reflexos da Era José Mourinho. Entre os cotados para substituí-lo, acredito que David Moyes seja o favorito por desempenhar no Everton um trabalho parecido - guardadas as devidas proporções - com o de Ferguson, ou seja, de continuidade - 11 anos - e boas equipes formadas. Moyes, entretanto, sempre trabalhou com recursos escassos e os títulos não apareceram. Se a ideia for apostar em alguém identificado com o clube e/ou "jovem" e ambicioso, correm por fora Ole Gunnar Solskjaer (herói da conquista da Champions em 1999 e técnico do Molde) e Jurgen Klopp (Borussia Dortmund), respectivamente.

Embora 26 anos no cargo possam dar a qualquer treinador uma certa comodidade, especialmente para alguém com vários títulos no currículo, o escocês nunca se acomodou. Sempre que teve seu domínio ameaçado, não hesitou em mudar o time, vender e comprar jogadores, sem nunca perder o espírito de uma equipe vencedora. Talvez este seja o maior mérito de Ferguson: se tornar sinônimo de vitória, alguém que construiu durante a vida um legado capaz de torná-lo inesquecível.