Após conquistar o título da Copa da Itália, do Campeonato Italiano e da Champions League, na temporada de 2009/10, a serviço da Inter de Milão, Mourinho chegou no Real Madrid com o status de melhor treinador do mundo. O que era inegável naquele momento, até por ter eliminado o poderoso e atual campeão Barcelona de Guardiola na semifinal daquela Champions, que conquistou após derrotar o Bayern no Bernabéu.

Reformulação

Mou chegou para reformular o Real Madrid e contou com o total apoio de Florentino Pérez para isso. O mandatário, que já havia contratado jogadores como Cristiano Ronaldo e Kaká na temporada anterior, gastou mais 93 milhões de euros em contratações para colocar em prática o projeto de Mourinho, que era o de montar uma equipe jovem, forte e capaz de conquistar a tão sonhada “décima”.

Conforme Canales, Di María, Pedro León, Khedira, Carvalho e Özil iam sendo anunciados pelo clube merengue, jogadores e ídolos como Guti e Raúl iam sendo dispensados, assim como Van Der Vaart, Metzelder e Diarra. No rival Barcelona, enquanto isso, com um time já formado e vitorioso, contratações pontuais eram feitas, como as de Villa e Masche.

Em 2010/11, temporada na qual Mourinho deixou claro que ainda não seria possível brigar com os culés, um vice-campeonato Espanhol, uma eliminação na semifinal da Champions League, fase em que o Real Madrid não chegava desde 2003, e o título da Copa do Rei - que desde 1993 não era conquistado pelos merengues - em cima do Barcelona, que por sua vez ficou com a Champions e com o campeonato nacional.

No início da temporada seguinte, nenhuma contratação galáctica, porém, uma que mais para frente daria o que falar: Raphael Varane, zagueiro francês de apenas 18 anos, contratado por 10 milhões de euros. Coentrão chegou a peso de ouro: 30 milhões de euros - Mourinho fez questão de pagar a multa do lateral esquerdo português, que estava no Benfica – e Sahin, contratado por 10 milhões de euros junto ao Borussia Dortmund, era a maior esperança da torcida.

Conquista da "Liga dos Recordes"

Com uma base já solidificada, Mou cumpriu o que prometeu: venceu o Barcelona dentro do Camp Nou, conquistou o Campeonato Espanhol alcançando a marca de 100 pontos (recorde até hoje) e mostrou ao mundo que o Real Madrid podia, sim, bater de frente com um dos melhores times da história do futebol, ainda que tenha perdido a Supercopa e sido desclassificado na Copa do Rei para ele. Na Champions, porém, mais uma eliminação na semifinal, desta vez para o Bayern, nos pênaltis, dentro do Bernabéu.

Mesmo assim, Mourinho mostrava ao madridismo que era possível conquistar a décima. E todos botavam fé que na temporada seguinte, a de 2012/13, ela chegaria.

Luka Modric foi a única peça que chegou para suprir as transações de Sahin, que acabou quase que nem jogando e foi emprestado para o Liverpool, Canales, que foi junto com Fernando Gago para o Valencia, Granero, que foi para o QPR, Lass, que rumou para o milionário Anzhi e Altintop, que foi jogar ao lado de Drogba no Galatasaray, da Turquia.

O início do fim

Mas o que era sonho foi se tornando um pesadelo. O início da temporada de 2012/13, apesar da conquista da Supercopa sobre o Barcelona, foi decepcionante. Tropeços no Campeonato Espanhol e rendimento muito abaixo do esperado na fase de grupos da Champions trouxeram à tona as polêmicas. A imprensa espanhola começou, agora de forma escancarada, a atacar Mourinho, que revidava com processos e com respostas pra lá de humilhantes em coletivas. Porém, ao colocar o ídolo Iker Casillas no banco de reservas, as coisas tomaram um rumo sem precedentes. Foi o que faltava para a imprensa ganhar o público e massacrar o treinador português de todas as formas possíveis - até fotos de seu filho, menor de idade, chegaram a ser divulgadas.

Até então, os resultados no Espanhol não faziam tanta diferença porque era a Champions League o que todos queriam. Em janeiro Mou já dava como perdido o campeonato nacional. E foi em janeiro que, após idas e vindas na equipe titular, revezando com Adán, o que para muitos era um absurdo, mas que claramente era o certo a ser fazer, até por conta da melhora que apresentou após ter ficada no banco, Iker se contundiu e Diego López foi contratado. E o “pior” foi que, desde sua primeira partida na equipe titular, Diego não deu nenhuma margem para críticas. Foi o homem do jogo em muitas partidas mesmo com a fase arrasadora de Cristiano Ronaldo.

Dica de filme: "O inimigo moral ao lado"

Casillas, principal e natural suspeito de divulgar informações do vestiário para sua noiva jornalista, Sara Carbonero, que falou para quem quisesse ouvir que o vestiário do Real estava dividido e que muitos jogadores não apoiavam Mourinho, se recuperou, mas não voltou à equipe titular. Mourinho bancou Diego López. O que não foi nenhum absurdo, pois, repetindo, ele terminava todas as partidas como um dos melhores jogadores em campo, como foi nas vitórias diante do Barcelona, pelo returno da Liga, no Bernabéu (2-1), e pela partida de volta da semifinal da Copa do Rei, no Camp Nou (3-1).

Desta forma, a temporada foi se arrastando até o Borussia Dortmund eliminar o conjunto blanco da Champions, novamente em uma semifinal e novamente dentro do Bernabéu, que acreditou até o último minuto e que no final aplaudiu os jogadores. Horas depois, artigos e mais artigos detonando Mourinho eram publicados em tudo quanto é veículo espanhol.

Mou, sempre mostrando uma frieza incomum para a pressão que era exercida sobre ele, assumiu o fracasso, mas não abaixou a cabeça e afirmou que, enquanto fosse treinador do Real Madrid, a mídia não escalaria o time e Diego López, por ser mais goleiro que Iker, continuaria sendo titular.

Pepe, um dos jogadores que mais defendido foi por Mourinho em épocas que até de assassino ele era chamado pela imprensa, se revoltou por ter perdido sua posição para aquele jovem zagueiro francês, de agora 20 anos, chamado Varane, e saiu falando que o grupo estava com Casillas e que deveriam tratar o capitão com mais respeito.

Na final da Copa do Rei, contra o rival Atlético, Mourinho viu sua era no time da capital espanhola terminar. Após 8 vitórias em 8 jogos sobre os colchoneros, um gol na prorrogação impediu o quarto título do treinador em três anos e o anúncio de sua saída demorou apenas 3 dias para acontecer.

Legado

Mourinho deixa o Real Madrid no topo do ranking dos clubes mais valiosos do planeta. Ranking este que sempre foi dominado pelo Manchester United. Deixa também um time forte e com um espírito vencedor, muito diferente daquele que encontrou em 2010. Mudanças na parte interna do clube, na forma de lidar com a mídia e com os jogadores, jamais serão esquecidas por aqueles que viram um projeto que tinha tudo pra dar certo a médio-longo prazo, ir por água abaixo. Além disso, termina com 10 derrotas, 9 empates e 8 vitórias diante do Barcelona. Feito inimaginável há 3 anos.

Melhor média de vitórias e de gols marcados em relação aos outros treinadores que passaram e conquistaram três ou mais títulos pelo Real Madrid comprovam o fato de que Mourinho é, e continuará sendo, onde quer que esteja, o "The Special One".