A Copa do Mundo se avizinha e as caras que desfilarão pelo Brasil dentro de trinta dias já começaram a ser destapadas. Com escolhas previsíveis, algumas incógnitas e um pequeno número de surpresas, os comandantes estão revelando os nomes daqueles que tem passaporte garantido e frustrando dezenas de esperançosos que não tiveram suas expectativas realizadas. Na manhã desta segunda-feira (12), quando a maioria ainda estava de ressaca após o último dia do certame nacional inglês, Roy Hodgson e sua comissão anunciaram à imprensa e ao mundo a convocação do English Team. 

Com pouco a ser revelado após o festival de furos ocorrido na tarde/noite do último domingo, nos restou analisar as escolhas do treinador com maior complexidade e avaliar os princípios em que se baseou na hora de decidir. No geral, tanto o presente quanto o futuro foi levado em consideração numa seleção repleta de jovens que explodiram na temporada e parecem representar o tão sonhado projeto de longo prazo que vem sendo desenvolvido em meio aos bastidores e aos campos da Inglaterra (planos antiquados, negativos e sem sentido à parte). 

Moldados para o amanhã, mas capazes de aprontar e desequilibrar hoje. Sem mais delongas, até porque tudo foi esmiuiçado como tinha direito nas linhas a seguir, vamos ao que interessa:

Goleiros

Joe Hart (Manchester City) - Falhas bizarras e atuações inconsistentes no início da temporada foram fatores para sua reputação sofrer uma queda, mas o camisa 1 do atual campeão inglês continua sendo, sem sombra de dúvidas, o melhor goleiro a disposição. Indiscutível. 

Fraser Forster (Celtic-ESC) - Talentoso, consistente e seguro debaixo das traves. Tais atributos asseguraram a poltrona de Fraser Forster, do Celtic, no avião que ruma ao Brasil em poucas semanas. O arqueiro tem sido um dos pilares do Hoops nas últimas duas temporadas e, apesar de jogar numa liga de nível técnico inferior as principais europeias, já provou suas qualidades contra equipes de alto escalão. Peguemos sua fantástica exibição diante de Lionel Messi e companhia, na fase de grupos da Uefa Champions League 13-14, como exemplo. Ele já havia atraído os holofotes na temporada anterior, contra o mesmo Barcelona, quando foi referido pela imprensa espanhola como “A Grande Muralha”. Vaga mais do que merecida.

Ben Foster (West Bromwich Albion) - Para muitos, John Ruddy era quem deveria ter sido chamado para ser o terceiro goleiro de Hodgson. Entretanto, na minha opinião, o treinador acertou na convocação. O jogador do Norwich indubitavelmente fez uma boa temporada, mas Foster possui um repertório maior na posição. Ao contrário da situação vivida por seus companheiros, sua equipe não chegou nem perto de levantar um caneco recentemente, mas, não fossem algumas de suas boas atuações, os Baggies poderiam ter traçado um caminho bem diferente ao final do certame nacional. Bom backup para o plantel.

Laterais-esquerdos

Leighton Baines (Everton) - Uma das escolhas mais fáceis da convocação. Leighton Baines é o melhor lateral esquerdo da Inglaterra há pelo menos duas temporadas e cada vez mais cresce de rendimento com a camisa da seleção - ao contrário do que acontece no Everton, fazendo justiça a sua leve queda em relação a 2012-13. O jogador com estilo de vocalista de britpop pode não ser um primor defensivamente, mas suas qualidades ofensivas com certeza não podem ser ignoradas. Dono do melhor cruzamento do país, capaz de surpreender com jogadas individuais diagonais e top-class no assunto bola parada, o camisa 6 já tinha sua vaga garantida há algum tempo e dispensa maiores comentários.

Luke Shaw (Southampton) - Sem sombra de dúvidas, esse específico lugar no elenco inglês tem sido debatido mais do que toda a convocação em si. Luke Shaw, talentoso, consistente, jovem e dono de uma etiqueta de preço avaliada em £30 milhões, viu seu sonho se tornar realidade até antes do esperado. Mas, convenhamos, os motivos que Hodgson provavelmente levou em consideração na hora H são mais do que plausíveis. Assim como seriam as razões postas sobre a mesa se a decisão fosse contrária. Máxima do esporte e que se eleva numa Copa do Mundo, é de conhecimento geral que o reserva imediato de uma posição teria maior utilidade se oferecesse qualidade semelhante, mas características “extras” em relação ao titular. Nesse quesito, Cole vence com sobra: o experiente jogador de 33 anos possui ótimas capacidades defensivas e ainda pode surpreender no ataque. Caso Roy resolva dar uma de Mourinho e introduzir os dois laterais em campo, também poderia ser uma boa alternativa, com o atleta do Chelsea ficando na retaguarda e liberando Baines para fazer papel de winger e reforçar as áreas ofensivas.

O veredicto final, porém, foi outro, e seus defensores tem boas justificativas. Tais argumentos supracitados são válidos, mas principalmente para equipes declaradas favoritas ao título; essa não é a situação do English Team e é hora de começar a moldar o futuro. Com Baines sendo titular absoluto, esse pode ser o momento ideal para Shaw - que tem no currículo apenas 45 minutos de futebol 'internacional' - sentir o clima da Copa e se preparar para 2018, quando deverá ser nome garantido no onze inicial. 

Zagueiros

Gary Cahill (Chelsea) - Outro que tem vaga garantida entre os titulares. Numa época em que a falta de zagueiros “prontos” - experientes e confiáveis - é levantada toda semana, Cahill é o que chega mais perto do nível que John Terry - aposentado da seleção - já alcançou com a camisa inglesa. Dotado de boa técnica quando tem a bola nos pés, grande presença física, desarme quase perfeito e cabeceio potente, tem tudo para ser o xerife da questionada defesa.

Phil Jagielka (Everton) - Assim como seu companheiro de zaga, Jagielka foi um dos melhores beques da temporada na Premier League e suas últimas atuações - antes da lesão contraída em março - inspiram confiança na torcida e em Hodgson. Tem um enorme senso de posicionamento e já mostrou ser muito versátil, tendo atuado como meio-campista central por quatro anos no Sheffield Wednesday antes de jogar algumas partidas na função de lateral-direito pelo Everton. Sua determinação e inteligência para controlar a defesa também serão muito bem vindas.

Phil Jones (Manchester United) - Talentoso, jovem e versátil. Phil Jones, para a maioria, já era uma garantia na convocação e é o reserva imediato para a zaga. O jogador do Manchester United, apesar de ainda não ser titular absoluto, já mostrou qualidades imensuráveis tanto com a camisa do clube quanto defendendo as cores da seleção. É mais um que, no futuro, provavelmente será uma das figurinhas carimbadas da Inglaterra. Apesar de que a função provavelmente seria preenchida por Smalling, o ex-pupilo do Blackburn pode ser uma melhor opção para backup da lateral-direita.

Chris Smalling (Manchester United) - Aqui se encaixariam praticamente os adjetivos referidos à Jones. Entretanto, Smalling, a grosso modo, deu sinais de ter menor potencial e é capaz de presentear a torcida com falhas nos momentos em que menos se espera. O jogador de 24 anos, porém, fez algumas exibições seguras quando exigido e tem na interceptação pelo alto sua melhor qualidade. Versátil? Talvez. Como lateral-direito, função que já desempenhou por inúmeras vezes, é melhor não confiar.

Lateral-direito

Glen Johnson (Liverpool) - Convocação plausível pela falta de opção. Glen Johnson tem, sim, suas qualidades, mas já não é (se algum dia chegou a ser) um lateral de alto nível e que mereça defender seu país numa Copa do Mundo. O jogador de 29 anos de fato dá sua contribuição no campo ofensivo e tem precisão na finalização e nos cruzamentos, mas defensivamente sua capacidade técnica é quase nula. Desarmes e interceptações feitas ao redor da própria grande área geralmente são frutos de sua velocidade para recompor, mas esse é outro quesito em que já indicou sinais de retrocesso. Até mesmo pelo fato de que seu reserva imediato é um zagueiro improvisado, será titular, embora não esteja no escalação de seus companheiros. 

Meio-campistas

Steven Gerrard (Liverpool) - Mais um que tinha a vaga garantida há um bom tempo, o meio-campista do Liverpool já não tem o fôlego e a expressividade de outrora mas é um dos pilares do time de Roy Hodgson. Ao contrário do que geralmente acontece com jogadores ‘’comuns’’, o futebol de Gerrard acabou ganhando novos ótimos aspectos com o passar do tempo. Houve uma queda natural em se poder ofensivo, mas suas investidas pelo centro do gramado ainda podem - e devem - causar problemas para as defesas adversárias. Do outro lado, muito devido à inteligência de Brendan Rodgers - e de si mesmo -, o jogador se adaptou a novas funções e, especialmente nessa temporada, mostrou que ainda pode ser um valioso trunfo à sua equipe.

Frank Lampard (Chelsea) - Escolha no mínimo curiosa. Ao mesmo tempo em que Hodgson demonstra ser um treinador de estilo progressivo, focando no desenvolvimento e no funcionamento da equipe como um todo, sua preferência por levar Frank Lampard à Copa do Mundo, a grosso modo, vai contra tais princípios. A qualidade do meio-campista do Chelsea nunca foi e nem deve ser questionada por qualquer um, mas já está mais do que provado que seu rendimento com a camisa da seleção não corresponde a suas atuações pelo clube e o único fator que conta a seu favor é a experiência. Fora isso, existiam no mínimo duas melhores opções. A primeira é Michael Carrick, que apesar de apresentar enorme queda de desempenho defendendo o Manchester United nos últimos meses sempre cumpriu as expectativas a nível internacional e foi um dos pontos fundamentais para o triunfo do time nas Eliminatórias, como explicado aqui. Gareth Barry, por outro lado, pode não ter impressionado com as cores do Manchester City, mas faz uma temporada de empréstimo impecável no Everton e vinha fazendo por merecer um lugar no avião. 

Jordan Henderson (Liverpool) - Ao contrário de Carrick e Lampard, Henderson vive um momento simplesmente mágico. Após ser motivo de pesadas críticas durante seus primeiros meses como jogador do Liverpool, o meia reencontrou - e desenvolveu, absurdamente - o futebol que apresentou no Sunderland sob o comando de Brendan Rodgers e é tido como uma das peças fundamentais para o funcionamento do sistema dos Reds. Tendo características semelhantes aos rivais de United e Chelsea, principalmente no quesito da distribuição, o atleta, por outro lado, possui maiores habilidades para compor o setor ofensivo e participar com frequência das jogadas na entrada da área. Caso seja designado no onze inicial, provavelmente teria maior liberdade e limitaria Gerrard, como vemos acontecer todo final de semana nos campos da Premier League.

Jack Wilshere (Arsenal) - Talento tem de sobra, mas essa pode ter sido uma escolha arriscada de Hodgson por fatores que se complementam. Primeiro: a forma física do jogador sempre foi questionada e é consenso geral que ele já é um membro do grupo de maiores injury-prones do futebol. Tendo contraído uma lesão no tornozelo no início de março e apenas retornado aos gramados na última rodada da Premier League (como substituto, no segundo tempo), Wilshere terá de aperfeiçoar sua preparação e ganhar ritmo de jogo em exatos 30 dias. Convenhamos, é muito pouco e, considerando que o Arsenal só tem mais um jogo a fazer - no dia 17, diante do Hull City, pela final da FA Cup -, o atleta teria de trabalhar dobrado nos treinamentos. De qualquer forma, dificilmente estará no seu melhor quando o dia 14 de junho se avizinhar. 

Outro ponto que, a princípio, não contaria a seu favor: a montagem desse elenco. Como já discutido acima, Frank Lampard foi escolhido, talvez curiosamente, acima de Carrick. Isso abriria o caminho para a inclusão de uma peça que vem sendo subestimada ao longo dos últimos meses: Gareth Barry. O jogador, pertencente ao Manchester City e emprestado ao Everton, desempenharia papel semelhante ao do meia do Manchester United e provavelmente manteria o grupo mais balanceado e consistente. Entretanto, seu futebol mais uma vez passou despercebido e vejo a preferência por Wilshere como uma aposta no nome e no potencial, não no rendimento recente dentro das quatro linhas. 

Alex Oxlade-Chamberlain (Arsenal) - Extremamente talentoso, vigoroso e com vontade de mostrar bom futebol. Possivelmente são essas as razões que convenceram Hodgson a apostar no meio-campista de apenas 20 anos. Chamberlain, mais uma cria da renomada categoria de base do Southampton, pode ser muito útil nessa Copa do Mundo. Quando entra em campo, o jogador pouco hesita e na maioria das vezes desempenha bem o papel que lhe é designado, tendo em vista que é capaz de exercer a função de meia ofensivo, winger e até mesmo meia central. Ox reúne as características que todo treinador gosta e necessita - é incisivo, incansável e tem qualidade para aprontar aqui no Brasil.

Raheem Sterling (Liverpool) - Dispõe de algumas das mesmas características de Chamberlain, mas, ao contrário do jogador do Arsenal, vem de uma temporada fantástica e tem o merecido apoio geral para vestir a camisa da seleção. Se a idade de alguma das peças convocadas surpreende, Sterling é mais um: com apenas 19 anos, a promessa do Liverpool ganhou sua vaga em campo e tem tudo para cravar um ano histórico em sua carreira com a provável titularidade na Copa do Mundo. Dono de uma habilidade acima da média, preciso com a bola nos pés e com a velocidade digna de um atleta, o winger - que também pode atuar centralizado, como um número 10 - foi o melhor entre os jovens na Premier League e naturalmente será um dos principais pesadelos das defesas adversárias.

Adam Lallana (Southampton) - Outro que foi nomeado entre os melhores do Campeonato Inglês, Lallana, no início da temporada, plantava uma dúvida na cabeça de muitos sobre sua inclusão ou não na convocação. Agora, 9 meses mais tarde, a questão é a posição que lhe encaixa melhor dentro do time de Hodgson. Dotado de uma técnica acima da média, é capaz de surpreender com jogadas individuais ou passes açucarados e dará a consistência que o ataque precisa. Da quarta divisão à Copa do Mundo em pouco mais de três anos, sua carreira só tende a crescer. O English Team agradece.

James Milner (Manchester City) - Jogador comum, tedioso, previsível… são inúmeros os adjetivos usados por grande parte da torcida quando querem se referir ao estilo de jogo de James Milner. O meia do Manchester City, porém, a cada dia que passa trata de calar essas vozes com boas performances dentro de campo. Versátil, o jogador dispõe, sim, de um bom repertório para enfrentar as defesas adversárias, mas indubitavelmente precisa de certa liberdade para poder expressar seu futebol da melhor maneira - para si e para sua equipe. Não será titular, mas é mais uma boa opção no banco de reservas.

Ross Barkley (Everton) - Pode ser inserido dentro dos mesmos argumentos utilizados para defender a presença de Luke Shaw na convocação. Talento, potencial e forma são pontos que não devem ser ignorados e Hodgson foi inteligente em apostar na jovem estrela do Everton. O caminho para o futuro precisa começar a ser pavimentado desde já e a capacidade individual e decisiva de jogadores acima da média também; Barkley se encaixa em ambos os quesitos. Influência, determinação, adaptabilidade, habilidade... os bons adjetivos que podemos extrair dos desempenhos do garoto ao longo da temporada são inúmeros e sua escolha só trará benefícios - à si e à Inglaterra.

Atacantes

Wayne Rooney (Manchester United) - Outro que pertencia ao seleto grupo de indiscutíveis na convocação. Um dos poucos que tem a etiqueta de world-class estampada em seu currículo, Rooney contou com inúmeras infelicidades para não render o esperado nas duas Copas que já disputou (2006 e 2010) e segue sendo um diferencial num time repleto de jovens, apostas para o futuro e jogadores que já passaram do seu melhor. Vem caindo de rendimento e não é o mesmo de quatro anos atrás? Bem, cercado de críticas e polêmicas, marcou 19 assistiu 14 gols em 40 aparições na temporada. Não há o que discutir. 

Daniel Sturridge (Liverpool) - Vinte e cinco gols, sete assistências e um dos melhores jogadores do país em 2013/14. Outro que dispensa demais comentários, apesar de que sua queda de rendimento nos momentos finais - e decisivos - da temporada possam ter colocado um ponto de interrogação na cabeça de alguns. Preciso na finalização e categórico com a bola nos pés, Sturridge, porém, terá de elevar seus desempenhos com a camisa da seleção para que vire unanimidade. 

Danny Welbeck (Manchester United) - Muitos o deixariam de fora e encheriam as páginas da internet com argumentos rasos e pouco demonstrativos embasados em estatísticas que não ilustram o real valor do jogador para a equipe. Outro que sofreu com o sintoma de James Milner (e, mais recentemente, Martin Demichelis), sendo alvo de críticas pesadas da torcida e da imprensa, Welbeck faz praticamente tudo que um treinador gosta de ver: sua a camisa, é perfeito taticamente, marca com determinação, tem agilidade e... faz gols. Pelo Manchester United, foram cinco marcados nas seis partidas que disputou com a ausência de Robin van Persie - e consequente espaço como centroavante de ofício. Não deveria deixar dúvidas e ganhar o apreço dos fãs antes que seja tarde.​

Rickie Lambert (Southampton) - Andy Carroll é infinitamente superior no ar e poderia dar uma outra dimensão - literalmente - para a equipe. Mas isso seria o suficiente para que ganhasse a vaga de um jogador muito mais completo e, apesar da idade (32), moderno? A maioria pensa que não - incluindo Roy Hodgson. Além de ser um artilheiro nato e um dos melhores finalizadores da Premier League, Lambert é capaz de tabelar com os companheiros, dono de boa movimentação, apto a reter a bola quando necessário, árduo no trabalho tático e mais do que acostumado com um estilo de jogo que preza pela transição veloz - beneficiando a si e ao time com seu toque de primeira impecável. E, como tratamos do English Team, é sempre bom relembrar: o atacante do Southampton nunca perdeu uma penalidade máxima na carreira. Caso saia do banco de reservas, é, sem dúvida algumas, uma boa esperança para a torcida. 

Lista de 'stand-by': John Ruddy (Norwich City), Jon Flanagan (Liverpool), John Stones (Everton), Michael Carrick (Manchester United), Tom Cleverley (Manchester United), Andy Carroll (West Ham) e Jermain Defoe (Toronto FC)