FC Metz supera fracassos com receita caseira e ressurge no futebol francês

Vinte e seis de abril de 2014. Nesta data, o Football Club de Metz finalmente pôde comemorar o seu retorno à Ligue 1. Com uma vitória de 3 a 0 sobre o Auxerre, a equipe do nordeste da França garantiu matematicamente a promoção para o escalão principal após passar sete anos nas divisões inferiores. Neste tempo, o clube passou por uma das piores fases da sua história, caindo pela primeira vez para o Championnat National, terceira divisão do futebol francês.

Em seus 82 anos de história, o Metz nunca foi campeão da Ligue 1. Chegou perto de conquistar a taça na temporada 1997/98, quando disputou o título com o Lens até a última rodada e perdeu o campeonato pelo saldo de gols. Mesmo sem um título do principal torneio da França, os Grenats foram uma das maiores equipes do país entre as décadas de 80 e 90, vencendo por duas vezes a Coupe de France e a Coupe de la Ligue.

Robert Pirès foi um dos jogadores de renome revelado pelo Metz (Foto: Panoramic)

O clube também tem a tradição de ser uma das equipes que mais revelam jogadores e muitos nomes reconhecidos saíram de lá, como Robert Pirès, Louis Saha, Emmanuel Adebayor, Franck Ribéry, Ludovic Obraniak, Papiss Cissé e Miralem Pjanic. Se não tem a mesma força que os grandes da França no profissional, as categorias de base do Metz compensam revelando jogadores temporada após temporada. O centro de treinamento dos Grenats é um dos melhores do país, batendo de frente com outras equipes reveladoras como Sochaux, Rennes, Lyon e Lens.

Além disso, o clube tem planos para reformar o seu estádio, como informado no site oficial, e até foi cogitada a entrada do Saint-Symphorien na lista de sedes da Eurocopa de 2016 após as cidades de Estraburgo e Nancy não terem conseguido atrair o interesse de investidores para expandir e modernizar os seus estádios, mas a proposta não vingou por Metz não ter se candidatado à vaga.

Os rebaixamentos e a volta à Ligue 1

Na temporada 2007/08, o recém-promovido Metz foi rebaixado para a segunda divisão ficando na última posição da Ligue 1, após ter passado por dificuldades financeiras e lesões de jogadores. A partir daí, o clube passou a alternar entre bons e maus momentos no decorrer dos anos, lutando pela promoção ou fugindo do rebaixamento.

Na metade da época 2011/12, o time ocupava a metade da tabela na Ligue 2 e teve um segundo semestre desastroso. Com a venda dos zagueiros Romain Brégerie no início da temporada e Fallou Diagne na metade da época, a defesa ficou enfraquecida. Somando isso com as lesões do meia-atacante Mahamane Traoré e do atacante Mathieu Duhamel, o desempenho da equipe foi péssimo. Com resultados irregulares, escolhas táticas equivocadas e jogadores com problemas extra campo, o Metz foi rebaixado para a National.

Albert Cartier assumiu o clube em 2012 e é um dos responsáveis pela volta à Ligue 1 (Foto: Getty Images)

O status de equipe profissional dos Grenats foi ameaçado e era necessária uma renovação na equipe técnica. Com a saída do treinador Dominique Bijotat, que fez parte da campanha do rebaixamento, Albert Cartier assumiu a equipe na terceira divisão e transformou o time junto com a sua comissão e o com apoio do presidente Bernard Serin, que comanda a equipe desde 2009.

Sob uma nova dinâmica, Cartier mesclou experiência com juventude e, com a fama de equipe reveladora, o Metz conseguiu a promoção, ficando atrás apenas do campeão Cretéil no Championnat National da temporada 2012/13. As palavras do treinador na ocasião mostraram que a principal força do clube foi renovada.

“Estou muito orgulhoso de ter ajudado a resgatar o comprometimento do clube com seus jovens jogadores. Eles não desejam mais ir para o Marselle, Lyon, Monaco ou Paris Saint-Germain, mas sim se tornarem jogadores profissionais no FC Metz. A camisa grená pode sonhar novamente”, declarou.

Jogadores do Metz comemoram retorno à Ligue 1 (Foto: Reprodução / Eurosport)

Para a disputa da Ligue 2 na temporada atual, o clube manteve Albert Cartier no comando e se reforçou com oito jogadores. Com doze vitórias, três empates e três derrotas, o Metz terminou o primeiro turno da segunda divisão liderando a tabela com 39 pontos, sete a mais que Angers e Lens, segundo e terceiro colocados respectivamente.

Para 2014, os atacantes Eduardo, brasileiro que jogava no Ajaccio, e Thibaut Vion, jovem de 19 anos que era do Porto, desembarcaram na equipe e o início de ano dos Grenats não foi nada bom, não conseguindo vencer no mês de janeiro.

Em fevereiro, a equipe voltou a vencer e engrenou uma sequência de dez vitórias, quatro empates e uma derrota, que resultou na promoção, confirmada no confronto frente ao Auxerre no mês passado, e no título, que foi conquistado com uma rodada de antecedência depois da vitória sobre o Troyes no dia 6 de maio por 1 a 0.

Os principais talentos do Metz

O lateral-esquerdo Gaëtan Bussmann, o meia-atacante Yeni N’Gbakoto e o atacante Diafra Sakho têm seus nomes diretamente ligados ao crescimento recente do Metz no cenário do futebol francês. Os três jogadores foram formados profissionalmente no clube e enquanto o lateral foi um dos atletas mais regulares da equipe, N’Gbakoto e Sakho foram os mais decisivos.

Bussmann foi lançado em agosto de 2010 na equipe principal e no mesmo ano foi campeão da Coupe Gambardella, uma espécie de Copa São Paulo de Futebol Junior da França, e da Eurocopa Sub-19, junto com jogadores como Antoine Griezmann, Alexandre Lacazette e Clément Grenier. Nesta época, o lateral de 23 anos tem 35 jogos disputados e é o segundo colocado na votação do site Eurosport que pergunta quem é a revelação da temporada da Ligue 2, atrás do goleiro Alphonse Aréola, do Lens.

Com 22 anos, N’Gbakoto também foi campeão da Coupe Gambardella junto com Bussmann. Com 36 jogos e 14 gols na atual temporada, o jovem compensa a sua baixa estatura com muita habilidade e força, sendo um dos pilares do time do Metz e figura carimbada nas equipes da rodada de vários veículos da imprensa esportiva francesa.

O atacante Diafra Sakho é o artilheiro da equipe e recebeu prêmio de melhor jogador da L2 (Foto: Panoramic)

Diafra Sakho, jogador mais velho do trio - tem 24 anos -, é o responsável pelos gols da equipe. O atacante senegalês foi o segundo artilheiro do Championnat National da temporada 2012/2013, com 19 gols, e já tem o mesmo número de gols neste ano, sendo o artilheiro da Ligue 2 até então, com 36 jogos disputados. Foi eleito no sábado o melhor jogador da L2 pela Union Nationale des Footballeurs Professionnels, a associação de jogadores dos campeonatos da França.

Com mais uma safra de jovens jogadores surgindo, o Metz precisa ter cuidado. A oportunidade de fazer um bom negócio com os jogadores vai aumentar. N’Gbakoto foi ligado ao Porto pelo jornal L’Équipe e Diafra Sakho é alvo de times como Newcastle, Marseille, Wolfsburg e Schalke 04, segundo a imprensa francesa.

Cabe à diretoria, que vem tomando decisões sensatas nos últimos anos, se a equipe engorda o caixa ou precisa manter os principais nomes para se manter forte no cenário francês, fazer uma boa temporada na Ligue 1 e terminar de recuperar o prestígio que foi desgastado com a queda para a terceira divisão.

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