Domingo, 18 de agosto de 2013. Na Ilha da Madeira, o Benfica estreava na Liga Zon Sagres contra o Marítimo. Era o primeiro jogo depois de uma temporada melancólica, na qual a equipe não havia conquistado título algum e amargou três vice-campeonatos (na Primeira Liga, para o Porto, na Taça de Portugal, para o Vitória de Guimarães, e na Europa League, para o Chelsea). A derrota por 2 a 1 mostrou que a ferida ainda estava aberta e muito trabalho teria de ser feito para cicatrizá-la. Na rodada seguinte viria o primeiro triunfo: 2 a 1 sobre o Gil Vicente.

Aos poucos, o time foi adquirindo confiança e superando obstáculos. Em alguns deles, tropeçou. Mesmo tendo sido cabeças-de-chave no sorteio da fase de grupos da edição 2013/14 da Uefa Champions League, os Encarnados ficaram apenas na terceira colocação do Grupo C, atrás do "novo rico" PSG e do Olympiakos e à frente apenas do Anderlecht.

Somaram os mesmos 10 pontos dos gregos, mas levaram desvantagem no confronto direto, primério critério de desempate - empate em 1 a 1 em Portugal e derrota por 1 a 0 na Grécia, numa grande atuação do goleiro Roberto. O sonho de jogar a decisão da UCL em casa - a final será disputada no Estádio da Luz - ficou pelo caminho e os portugueses tiveram que se contentar com o mata-mata da Uefa Europa League.

Benfica ficou pelo caminho na fase de grupos da Champions League (Foto: The Guardian)

No campeonato nacional, tropeços em casa (1 a 1 com o Belenenses e 2 a 2 com o Arouca) impediam os comandados de Jorge Jesus de assumirem a liderança, que antes se resumia a uma disputa particular entre Sporting e Porto. Na primeira "prova de fogo", arrancaram um empate em um gol com o rival de Lisboa no José Alvalade. Ao final de 2013, o Trio de Ferro de Portugal estava empatado na ponta da tabela: 33 pontos para cada um, a uma rodada do final do primeiro turno.

Nas copas nacionais, eliminou o Cinfães, da terceira divisão, e o arquirrival Sporting nas fases iniciais da Taça de Portugal - vitórias por 1 a 0 no tempo normal e por 4 a 3 na prorrogação, respectivamente - e estrou com vitória no Grupo D da Taça da Liga - 1 a 0 sobre o Nacional. Apenas o início de árduas caminhadas.

O primeiro jogo de 2014 foi válido pela terceira fase da copa nacional e se realizou no dia 4 de janeiro. Uma vitória incontestável de 5 a 0 sobre o Gil Vicente, com dois gols de Rodrigo, dois de Lima e um de Markovic. No dia seguinte, o ex-atacante Eusébio, maior ídolo das Águias, viria a óbito e deixaria todos os fãs de futebol enlutados. Muitas homenagens foram feitas, mas as melhores teriam que vir nas quatro linhas.

Na primeira partida sem o Pantera Negra entre nós, o Benfica bateu o Porto, seu outro rival, por 2 a 0 - Rodrigo e Garay assinalaram os tentos - em 12 de janeiro e assumiu a liderança da Zon Sagres, de onde não sairia mais. Nesse duelo, os jogadores entraram em campo com o nome de Eusébio nas costas da camisa. O dia 25 daquele mês foi data para recordar a trágica morte de Miklós Fehér. Mais uma vez, a saudade tomou conta.

Em 25 de fevereiro, mais um ídolo benfiquista partiu: o ex-capitão Mário Coluna, irmão de consideração e compatriota de Eusébio. A saudade mais uma vez tomou conta da nação encarnada. Dois dias depois, o Benfica recebeu o PAOK pelo jogo de volta dos 16 avos de final da Uefa Europa League e venceu por 3 a 0 (4 a 0 no placar agregado), obtendo a classificação para a fase de oitavas-de-final. Como era de se esperar, o Monstro Sagrado recebeu muitas homenagens na Luz, a exemplo de Eusébio.

Eusébio (à esquerda) e Mário Coluna deixaram saudades (Foto: Divulgação/SL Benfica)

Na competição europeia, o SLB chegou à final após eliminar Tottenham (vitória por 3 a 1 na ida e empate em 2 a 2 na volta), AZ Alkmaar (na ida e na volta, vitórias por 1 a 0 e 2 a 0, respectivamente) e a poderosa Juventus (triunfo por 2 a 1 no primeiro jogo e dramático empate em 0 a 0 na segunda partida). Em Turim, a equipe armou um ferrolho consistente e conseguiu se segurar mesmo com dois jogadores a menos.

Na final, tinha pela frente o Sevilla e a famosa maldição de Béla Guttmann. Teve melhor atuação, criou as oportunidades mais perigosas, mas saiu com mais um vice-campeonato continental. E na bronca com a arbitragem. Os Encarnados reclamaram de pelo menos três pênaltis ao seu favor no tempo normal, o qual terminou com um empate sem gols, e viram o goleiro Beto se adiantar nas duas cobranças que defendeu na disputa de penalidades máximas, a qual terminou com a vitória dos espanhóis por 4 a 2.

Herói do Sevilla na decisão da Europa League, o português Beto se adiantou nas cobranças de pênalti, mas a arbitragem ignorou tais irregularidades (Foto: Divulgação)

Para os benfiquistas, uma vitória tão doída quanto o revés de 2 a 1 para o Chelsea na decisão da UEL em 2013. Para os sevillistas, o terceiro título da competição e a honraria de se igualar a Juventus, Internazionale e Liverpool como maiores campeões do torneio.

Se em âmbito europeu o Benfica ficou novamente no quase, em seu país voltou a ser soberano. Liderando o campeonato nacional de ponta a ponta, conquistou o título na 28ª rodada, após bater o Olhanense por 2 a 0, dois gols do brasileiro Lima. Outra vitória da competição que ficará na memória dos adeptos é o 2 a 0 diante do Sporting, com gols de Enzo Pérez e Gaitán, em 11 de fevereiro, uma terça-feira, na Luz. A partida havia sido adiada devido à queda de parte da cobertura do Estádio da Luz, resultado do mau tempo em Lisboa. Os Leões não vencem em território inimigo desde o longínquo janeiro de 2006.

Ao final do certame, o SL Benfica somou 74 pontos (23 vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas, ficando invicto por 28 rodadas consecutivas), sete a mais que o Sporting e 13 a mais que o Porto, seus concorrentes de sempre na corrida pela taça do campeonato mais importante do futebol português. Teve o melhor ataque (58 gols marcados), a melhor defesa (18 tentos sofridos) e o melhor saldo de gols (+40), além da melhor média de público (43.613 torcedores por partida). Foi superior em todos os aspectos.

Nas outras competições nacionais, as Águias encontraram o Porto pelo caminho e levaram a melhor em ambas as oportunidades. Na Taça de Portugal, defrontaram os Dragões após passarem pelo Penafiel (1 a 0). O regulamento prevê que a fase semifinal do torneio seja realizada em jogos de ida e volta, com o gol fora de casa sendo o principal critério de desempate.

No primeiro compromisso, jogado no Estádio do Dragão, 1 a 0 para os donos da casa, gol de Jackson Martínez. Nos últimos 90 minutos, o Benfica suou para vencer por 3 a 1 - gols de Salvio, Enzo Pérez e André Gomes; Varela descontou - e garantir seu lugar na grande decisão.

Cena mais marcante do Benfica 3x1 Porto da Taça de Portugal: Enzo Pérez abraçando um torcedor que invadiu o campo após o terceiro gol dos Encarnados (Foto: Reprodução/Sport TV)

Já na Taça da Liga, o SLB ficou frente a frente com o FCP depois de despachar Leixões e Gil Vicente (2 a 0 e 1 a 0, respectivamente), seus outros adversários do Grupo D. Dessa vez, a vaga na final seria decidida em partida única.

Com o 0 a 0 no tempo normal - os benfiquistas seguraram o empate jogando com um homem a menos desde os 32 minutos do primeiro tempo, quando o defensor Steven Vitória foi expulso -, a decisão foi para os pênaltis. Após seis cobranças para cada lado, a contagem foi de 4 a 3 para os lisboetas, que eliminaram o rival pela segunda vez na temporada.

Nas duas decisões, o Benfica enfrentou o surpreendente Rio Ave e espantou a zebra. Em 7 de maio, na Taça da Liga, os gols de Rodrigo e Luisão garantiram a vitória por 2 a 0 e a festa no Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria. Neste domingo (18), na Taça de Portugal, os alviverdes deram mais trabalho e venderam caro a derrota por 1 a 0 no Estádio Nacional do Jamor, em Oeiras. Dessa vez, quem balançou as redes foi Gaitán.

Com grande atuação debaixo da meta, o goleiro Oblak garantiu o terceiro título benfiquista no ano. O jovem arqueiro esloveno de 21 anos foi, indubitavelmente, a sensação do plantel encarnado nesta temporada. Assumiu a titularidade devido à contusão do brasileiro Artur e suas boas performances consolidaram seu lugar entre os 11 iniciais.

Elenco à parte, o grande nome do Sport Lisboa e Benfica nesta temporada foi o técnico Jorge Jesus. Alvo de críticas ao fim da temporada 2012/13, o treinador viu sua popularidade entre os torcedores cair e tratou de reconquistá-la. A Tríplice Coroa coroou sua redenção, literalmente. Se o comandante já tinha a confiança do presidente Luís Filipe Vieira mesmo com o tri-vice em 2013, nem é preciso dizer que sua moral com o mandatário aumentou consideravelmente em 2014.

Jorge Jesus aclamado pelos jogadores do Benfica após a final da Taça de Portugal: técnico foi um dos responsáveis pela redenção do Benfica em 2014 (Foto: Divulgação/Benfica Stuff)

Mais do que o renascimento do prestígio do clube a nível nacional e do reerguimento da autoestima do torcedor, o "triplete" do Benfica era a melhor homenagem possível aos ídolos Eusébio e Coluna, ao eternizado Fehér e, também, ao torcedor Arlindo Afonso, falecido durante uma partida da equipe na Primeira Liga. Lá de cima, eles ainda terão que convencer Béla Guttmann a acabar com a maldição que ainda assombra as Águias. Mas isso é o de menos. Para os benfiquistas, o importante é que uma temporada com várias perdas teve um final feliz. E estará eternamente escrita nas páginas vitoriosas do clube. A ferida do ano passado está devidamente cicatrizada.

No ano em que completa 110 anos de fundação, o Benfica tem muitos motivos para comemorar. Com a quinta Taça da Liga, a 25ª Taça de Portugal e o 33º campeonato nacional obtidos em 2014, tornou-se o primeiro clube português a conquistar a Tríplice Coroa. A temporada 2013/14 foi emblemática, jamais sairá da memória dos adeptos e merece ser festejada.

Destaques do Benfica em 2013/14

O nome

Com as três taças conquistadas em 2014, o técnico português Jorge Jesus, de 59 anos, chegou a sete títulos no comando do Sport Lisboa e Benfica - possui mais três Taças da Liga e mais uma Primeira Liga em seu currículo -, onde está desde 2009, quando veio do Braga. Alvo de críticas ao final da temporada 2012/13, reconquistou a confiança da torcida em 2013/14 com um time sólido na defesa e eficiente no ataque.

O líder

Aos 33 anos, Luisão coleciona mais de 400 jogos pelo Benfica e é o dono da braçadeira de capitão da equipe. Com o "triplete" deste ano, chegou à honrosa marca de 10 títulos pelas Águias. Nos Encarnados desde 2003, o zagueiro brasileiro já balançou as redes 21 vezes. No Brasil, foi revelado pelo Juventus-SP e passou pelo Cruzeiro. Pela Seleção Brasileira, jogou duas Copas do Mundo, duas Copas das Confederações e três Copas América, tendo conquistado duas Copas das Confederações e uma Copa América.

O craque

No Benfica desde 2012, o atacante brasileiro Lima (30) coleciona 51 gols em mais de 100 jogos pelos Encarnados. Foi o artilheiro da equipe na Liga Zon Sagres 2013/14 com 14 gols, seis atrás do colombiano Jackson Martínez, dono do topo da artilharia e atacante do Porto. Seus primeiros títulos conquistados com a camisa do SLB foram justamente a Tríplice Coroa em 2014. O primeiro clube profissional de Lima foi o Paysandu. O avançado sonha em chegar à Seleção Brasileira.

A surpresa

Revelado pelo Olimpija Liubliana, o goleiro esloveno Oblak (21) foi contratado pelo Benfica em 2010. De lá para cá, militou no time B e foi emprestado ao Beira-Mar, ao Olhanense, ao União Leiria e ao Rio Ave. Conquistou a titularidade no plantel principal das Águias após a contusão de Artur e as boas atuações embaixo das traves. É o goleiro reserva de Handanovic na seleção da Eslovênia.

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