Francisco Franco Bahamonde se tornou o general mais jovem da Europa e ditou as regras na Espanha por quase 40 anos. Durante seus longos anos no poder, o dérbi madrileño, entre Atlético de Madrid e Real não escapou de suas atitudes. Mais do que o jogo de interesses, o esporte virou palco também da demonstração de poder do Caudillo.

Supostamente um torcedor do Real Madrid, Franco teria facilitado as contratações de Di Stéfano e Gento ao clube, o que fica mais justificável se observado do ponto de vista da concorrência do Barcelona, representação da resistência catalã ao regime. Durante o período, grandes títulos, na Espanha e em torneios continentais, talvez o grande deleite da propaganda.

Pão e circo? Com um time dominante e o esporte movendo a população, a pobreza espanhola pôde ser varrida para debaixo do tapete das maracutaias e atraso em relação aos outros países europeus. Presenças em Copas do Mundo e título da Eurocopa de 1964 também podem ser colocadas na conta do automarketing ditatorial.

Apesar dos triunfos, boa parte do que fora construído durante o período foi fruto da iniciativa privada. Somente após a morte do Generalísimo e a queda do regime, o que parecia bom foi à tona diante de uma nova realidade, próspera e mais justa.

Neste sábado, os dois clubes de Madrid decidem o título da Uefa Champions League, porém, para que ambos chegassem a 2014 em alta, foram superadas etapas duras e desiguais.

Franco, Real Madrid, e um fanatismo por muitos questionado

Nascido em Ferrol, na província de La Coruña, região da Galícia, a alguns quilômetros de Madrid e berço de clubes tradicionais como o próprio Deportivo, costuma-se questionar a ligação de Francisco Franco com o Real Madrid. Mais do que isso, ninguém garante até que o ex-ditador tenha tido tal laço afetivo; alguns contemporâneos do Caudillo garantem que o próprio odiava futebol e tudo que fez no meio esportivo tinha, única e exclusivamente, interesses políticos.

Uma das teses levantadas por quem defende essa ideia parte do pressuposto de que Franco, em jogos do Real Madrid, que frequentava com regularidade ímpar, jamais expressou um único sentimento. Não esboçar qualquer emoção, aliás, era uma das características marcantes de Franco, conhecido por ser um homem “sonso e sem qualquer senso de humor”, até nas horas de comemorar os gols de seu suposto time do coração.

Reza a lenda, aliás, que Franco teria sorrido em público apenas três vezes em todo o período que permaneceu no poder: quando se encontrou com Hitler em Hendaya, fronteira entre Espanha e França, 1940, e com Eisenhower em Madrid, 1959, além de uma visita de Eva Perón, quando a recebeu o título de chefe de estado espanhol, em 1947.

Outro motivo que faria da relação de Francisco Franco com o Real Madrid mero artifício político seria a necessidade de fortalecer a sede de seu governo, Madrid, em contraposição com a Catalunha, um dos símbolos da resistência. Beneficiar os merengues seria uma forma de se sobressair em relação ao Barcelona, que há época já tinha grande destaque no esporte, e caso mantivesse sua boa fase poderiam virar febre nacional - um péssimo negócio para Franco, que para chegar ao poder teve como etapa final um conflito contra catalães.

Como se sabe, a ditadura Franco se instaurou na Espanha após a Guerra Civil de 1939, e o golpe fatal foi dado somente depois de três anos de conflito, justamente em Barcelona. Dez mil homens da brigada anti-Franco catalã foram mortos em uma única semana. Outros 25 mil morreram após o sinal de cessar fogo e as execuções de rebeldes seguiram nas décadas de 40 e 50, prova de que o problema Catalunha seguiu sendo recorrente mesmo após a tomada de poder.

Sentimento verdadeiro ou mais um movimento do jogo de interesses da ditadura, fato é que o laço entre Generalísimo e Real Madrid existiu, e assim, nos seus anos de poder, o dérbi madrilenho pôde ser um palcos de exibição do poder de Franco.

Real quebra jejum e reconquista a Espanha após 21 anos

Durante a Guerra Civil, todas as atividades esportivas foram suspensas na Espanha, sendo retomadas apenas em 1939, após três anos inativas. Neste período, a instituição Real Madrid se desmantelou, perdendo modalidades importantes, como rúgbi e atletismo; o futebol, como era de se esperar, seguiu o mesmo ostracismo. Antes dos conflitos, o clube se sagrou campeão espanhol na temporada 1932/1933, porém, um novo triunfo na elite nacional demorou a acontecer.

No período de abstinência no Espanhol, os merengues conquistaram por duas oportunidades a Copa da Espanha, porém, o peso não era o mesmo. No 50º aniversário do clube, Santiago Bernabéu promoveu um grande torneio internacional de futebol, que precedeu grandes anúncios: as chegadas de Alfredo Di Stéfano e Paco Gento. Anteriormente, grandes reformas no estádio madridista e no Centro de Treinamento do clube, destruídos pela guerra, marcaram uma nova era no clube.

Na temporada 1953/1954, a redenção: os 29 gols de Di Stéfano em 30 rodadas deram ao Real novamente o título do Campeonato Espanhol. Líder de ponta a ponta, o time só não ocupou o primeiro lugar em quatro rodadas de todo o torneio, ficando à frente Barcelona, vice, e Valencia, terceiro colocado.

Década de paixão pelo futebol se inflamar

É possível afirmar que, definitivamente, os anos 50 marcaram uma época de transição da visão espanhola sobre os esportes. Em especial o futebol, que teve duas imagens principais que serviram de atrativo para a população: os gols de Telmo Zarra na Copa do Mundo de 50, e a sequência de vitórias europeias do Real Madrid.

Enquanto a Europa evoluia no pós-guerra, a Espanha conviveu com pobreza e atraso em relação aos vizinhos. E em tempos de desilusões sociais, o esporte se torna um mundo paralelo, alheio ao cotidiano, servindo de alento à população, que pôde encontrar um motivo para sorrir.

Zarra marcou quatro gols pela Espanha na Copa de 1950

Na Copa do Mundo de 1950, no Brasil, a Espanha esteve no Grupo B, ao lado de Inglaterra, Chile e EUA. Com três vitórias na primeira fase, o time se classificou ao quadrangular final, que reunia os líderes de cada um dos quatro grupos do Mundial. Até ali, Telmo Zarra e Estanislao Basora vinham sendo os grandes nomes da Fúria.

Na fase final os resultados contra Brasil, Suécia e o campeão Uruguai não foram tão bons, e a Espanha terminou em último no quadrangular. Porém, os quatro gols de Zarra somados a outros quatro de Basora fizeram com que a equipe saísse de forma honrosa, superando as expectativas.

Poucos anos depois, no embalo da quebra do jejum de mais de duas décadas em La Liga, o Real Madrid protagonizou uma série de triunfos internacionais que ajudaram a generalizar a marca do clube. Tal feito, mesmo que inconscientemente e de forma muito genérica, passou aos aficionados a falsa impressão de crescimento espanhol.

A primeira conquista fora do território madrilenho que ajudou a atiçar os ânimos merengues foi o Troféu Marcos Pérez Jiménez, na Venezuela. Popularmente conhecido como o "Mundialito de Clubes", por reunir de forma amistosa representantes do futebol europeu e sul-americano, o campeonato dava ao vencedor o simbólico título de melhor equipe do mundo.

Para ser melhor do mundo em 56, Real venceu o Vasco

No ano de 1956, o Real Madrid disputou com Roma (ITA), Porto (POR) e Vasco o título, vencendo os cariocas na final para ficar com a taça. Posteriormente, o torneio viria a acabar, pela falta de segurança apontada pelos clubes: um grupo de rebeldes venezuelanos sequestrou Di Stéfano antes de um jogo do Real.

Em seguida, uma Copa Intercontinental, além de duas Copas Latinas, que aliás, foi a primeira tentativa de organizar clubes da Europa em um torneio continental de prestígio, tentando fugir da margem amistosa. A boa fase internacional garantiu mais um momento feliz aos madrilenhos.

Em 1959, o dérbi mais importante até então

As datas de 23 de abril, 07 e 13 de maio ficaram marcadas na história do clássico: pela Taça dos Campeões Europeus, as equipes se enfrentaram na semifinal de onde fatalmente sairia o campeão continental. Com uma vitória de cada nos jogos regulares, o terceiro jogo foi forçado e o Real Madrid se classificou, chegando à final que posteriormente venceria.

Na primeira partida, no estádio Santiago Bernabéu, vitória merengue: 2 a 1, com gols de Rial e Puskás, de pênalti. Chuzo descontou para os colchoneros, que contavam com o brasileiro Vavá no time.

Na volta, no Metropolitano de Madrid, um gol solitário de Enrique Collar, companheiro de ataque de Vavá, foi o suficiente para levar a decisão a um terceiro jogo. O Real havia recém demitido o treinador Miguel Muñoz Mozún e admitido o argentino Carniglia, que ganhava missão ingrata. O feito, tido como improvável, foi muito comemorado pela torcida do Atléti, que apostou suas fichas numa classificação no jogo play-off.

Di Stéfano abriu o marcador para o Real, que tomou o empate logo em seguida, em mais um tento de Enrique Collar, que poderia ter saído como herói; isso se não fosse a genialidade do ataque blanco, que dos pés de Puskás garantiu vaga na final. Contra o Stade Reims (FRA), menos dificuldade, e vitória por 2 a 0 para erguer a taça.

Autor de oito gols, brasileiro Vavá foi vice-artilheiro da competição

Apesar do título ter ficado com o Real, o Atléti também teve o que comemorar: mesmo com o pomposo ataque galático, quem se destacou foi um trio rojiblanco. Atrás apenas de Just Fontaine (10), Vavá foi o vice-artilheiro (8), seguido por Di Stéfano, do Real Madrid, e Peiró, do Atlético, ambos com seis gols. Enrique Collar, destaque das semis, aparece logo em seguida, com cinco marcados.

Nos anos 60, auge e consolidação

Estudos sociais comprovam que durante a década de 1960 ocorreram as maiores mudanças no contexto espanhol. O primeiro movimento mais forte que se observa é a troca repentina das touradas pelo futebol: o que antes era atração, pende para o lado da tradição, enquanto o papel de entretenimento de primeira linha é assumido pelo esporte bretão.

Essa mudança, entretanto, não foi tão repentina assim, muito menos por acaso. Após a Guerra Civil, as touradas ganharam Manolete, um dos mais prolíficos toureiros espanhóis da história, que viria a morrer ainda na década de 40. Ídolo e referência na tradição, foi atingido na coxa pelos chifres de um animal de quase 500kg e morreu vítima de hemorragia. Nos anos seguintes, luto. Depois, um desejo de superação, que todavia não conseguiu resgatar o mesmo apelo que parecia ganhar.

Em 1964, a Espanha se rende ao futebol graças ao título conquistado em casa: a Eurocopa. Em um torneio contra Dinamarca, Hungria e União Soviética, os espanhóis venceram seus dois jogos do torneio de tiro curto para erguerem o troféu.

Na estreia, diante da Hungria, uma vitória suada. Apesar do tento de Pereda na primeira etapa, Ferenc Bene empatou no final da partida levando o jogo para a prorrogação. E foi só no tempo extra que a Espanha garantiu vaga na final, graças a gol de Amancio Amaro.

A final, contra a União Soviética, páreo ainda mais duro; de Lev Yashin a Khusainov, um grande time. Mais uma vez Pereda abriu o marcador e os ibéricos sofreram o gol de empate, o que calou o Santiago Bernabéu por longos minutos. Desta vez, porém, não foi necessária a prorrogação: gol de Marcelino Martínez e título para os donos da casa.

Mais do que quebrar a barreira europeia, o título ficou analogamente marcado pela vitória do fascismo sobre o comunismo. Além disso, o espírito de equipe também foi exaltado pelo governo (que como toda ditadura, investiu muito em propaganda), citando-o como exemplo da união do povo espanhol.

Seguidores de Atlético e Real: estereótipos construídos durante a ditadura - e de maneira equivocada

A miséria tomou conta da Espanha no meio da ditadura Franco, o que levou o trabalhador do campo à cidade em busca de oportunidades. A atitude, porém, somada ao desamparo do governo, apenas agravou o sério problema social.

O suposto apoio de Francisco Franco ao Real Madrid é outro fator que influencia a interpretação generalizada: por time do governante, interpreta-se o time da classe dominante. Assim, durante anos, foi - e ainda é - feita uma leitura da torcida como de alto padrão financeiro, clube dos empresários, das elites madrilenhas.

Em contrapartida, o "sentimento de rebeldía", como os espanhóis costumam se referir à torcida do Atlético por conta a oposição à ditadura é - também de forma errônea - correlacionado ao proletariado. E de fato, durante muitos anos, os rojiblancos foram tidos como o clube da classe trabalhadora.

Pesquisas recentes, porém, provam que é o Real Madrid quem tem mais torcida entre as classes mais baixas, apesar da melhor localização do Bernabéu: na Paseo de la Castellana, próximo a bancos e empresas de grande porte.

No fim das contas, a estereotipagem dos torcedores é uma grande besteira. A relação do Real com a elite está longe de ser tamanha unanimidade, durante a ditadura foi o Atléti a equpe associada à força aérea espanhola, e o clube assumidamente dissidente é o Rayo Vallecano, que com essa história não tem nada a ver.

Legado das instalações ficou por conta do setor privado

Desde o fim da Guerra Civil espanhola foram construídos mais de 12 mil centros de prática esportiva na Espanha desde 1940, com um grande boom nos anos 60. Apesar dos números animadores, não se engane pensando que o regime foi responsável pela evolução: 70% de todas as obras contaram com capital privado.

Em 1954, o Santiago Bernabéu recebeu sua primeira grande reforma, aumentando a capacidade do estádio para 125 mil pessoas, se tornando o segundo maior estádio da Europa, atrás apenas de Wembley, e o primeiro com iluminação artificial. As obras, porém, não se ateram somente ao clube merengue, nem mesmo começaram no auge da ditadura.

Santiago Bernabéu foi o primeiro estádio a ganhar iluminação artificial na Espanha

Começando por Barcelona, foram feitas as instalações de Montjuich e foi construído o Palacio de los Deportes, um dos maiores da Europa na época. Construiu-se também pistas de corrida, piscinas e ginásios na região. Poucos anos depois, foi inaugurado o Palacio de los Deportes de Zaragoza, as instalações do Anoeta em San Sebastián, além de obras em Alicante, Hispania em León, Las Palmas, Logroño, Cristo de las Cadenas em Oviedo, Palencia e “Dos de Mayo” de Burgos.

Outro setor que ganhou muito com o investimento privado foi o universitário, ganhando modernas instalações, em especial nas cidades de Madrid, Barcelona, Valencia, Salamanca, Valladolid e Sevilla. Inspirados nestas precursoras, jovens se organizaram para o surgimento de novas estruturas, como em Granada, Almería, Valladolid e Málaga.

A retomada de campeonatos na Espanha, que haviam sido paralisados durante a Guerra, e grande parte com seus cenários destruídos, exigiu ainda a construção de pistas, piscinas e toda uma nova infraestrutura. Tal exigência não demorou para chegar ao futebol.

Os grandes clubes, aliados com empresas de suas respectivas cidades, se moveram em uma série que desencadeou a construção de uma série de estádios como conhecemos hoje. Exemplos, portanto, não faltam: Ramón Sánchez Pizjuán em Sevilla, uma grande reforma no San Mamés, em Bilbao, para servir o Athletic, Mestalla ao Valencia, Sarriá, em Barcelona, dentre outros. Junto a eles, outros municipais de menor proporção, porém muito importante para a evolução de seus clubes, como em Cádiz, Castellón, Huelva, Las Palmas, e La Coruña, que ganhou o lendário Riazor.

Nessa leva, o Atlético de Madrid também ganhou nova casa. Presidente da Federação Espanhola antes da Guerra Civil e deposto durante o regime Franco, Javier Barroso foi o presidente do Atlético responsável por levantar o Vicente Calderón - nome que só recebeu anos depois da inauguração, em 1966. Ao lado do rio Manzanares, foi construído o estádio que levou o mesmo nome, com capacidade para mais de 60 mil espectadores. Para sua construção, foi necessária a admissão da dívida em forma de hipoteca, dividida e assinada entre os próprios sócios do clube.

Na despedida do ditador, comemoração merengue; sem ele, festa colchonera

Falecido em 20 de novembro de 1975, a última temporada que Francisco Franco pôde acompanhar foi a de 1975/1976, que havia começado poucos meses antes de sua morte. O Generalísimo, por ora, não viu o brasileiro Leivinha marcar 18 gols na temporada espanhola com a camisa do Atlético, tampouco pôde presenciar mais um título do Real.

O título da temporada 1975/1976 ficou com o Real Madrid, porém na primeira temporada sem o Caudillo nas arquibancadas, foi o Atléti quem se sagrou campeão: temporada sublime de Rubén Cano, autor de 20 gols. O treinador era Luis Aragonés, e no elenco Leivinha e Luis Pereira, ex-Palmeiras, contratados a preço de queima de estoque.

Uma nova Espanha, uma nova realidade

Sem Franco, obviamente que muitas coisas mudariam no cenário da Espanha. Para explicar esse trecho do conto que influenciou diretamente no dérbi, uma passagem pelas linhas gerais da história espanhola se faz necessária. Juan Carlos I foi proclamado rei da Espanha; em dezembro de 1978 uma nova constituição foi aprovada, e aí então as mudanças de fato passaram a ocorrer.

Com a nova legislação passou a vigorar uma nova política administrativa, descentralizada, capaz de abrir portas para a Europa, deixando assim a Espanha de ser um submundo à margem das evoluções que ocorriam ao seu redor. Tais mudanças vieram em um período às vésperas de uma Copa do Mundo, que havia sido garantida, por sinal, durante a ditadura.

Os estádios receberam retoques e o país ganhou uma infraestrutura que não tinha: aeroportos, malha viária e, posteriormente, benefícios aos locais no que diz respeito a habitação e condições de emprego. De quebra, o país ainda recebeu os mundiais de natação e basquete em 1986.

A Espanha, enfim, parecia caminhar nos eixos. E se as equipes já pareciam fortes no cenário mais mórbido, quem poderia imaginar como iriam se desenvolver na reestruturação? O fato que fica é que, desde então, as mais exorbitantes transações no esporte, fatalmente, irão envolver o nome de um dos clubes de Madrid.

Evolução do PIB (Produto Interno Bruto) da Espanha

Economia espanhola teve um salto significante após a ditadura. Não à toa, grandes reforços começaram a chegar nos times locais após o período; em especial, ao Real Madrid.

Melhor período da dupla veio nos anos 90: reestruturação do Real e doblete do Atlético levaram Madrid a loucura

Depois de "La Quinta del Buitre", geração que liderada por Butragueño conquistou cinco Ligas consecutivas, um medo tomou conta dos torcedores do Real Madrid. A transição para uma outra nova geração de jogadores fez com que os hinchas temessem um declínio, que na verdade não ocorreu: com Raúl Gonzáles, veio mais uma grande leva de bons madridistas.

Ainda na década de 90 foram contratados jogadores como Laudrup, Redondo, mais tarde revelado Guti Haz; e já no final destes anos chegaram Seedorf, Roberto Carlos, Šuker e Mijatović. Sucessivos bons times, por sinal, deram títulos de respeito ao clube, no que ficou conhecida como a terceira época dourada.

Nesta década, o desempenho foi quase que imbatível. O clube conquistou três nacionais (e três vice-campeonatos), uma Copa (dois vices), três Supercopas, uma Copa Intercontinental e o maior feito de todos: a sétima Champions League, em 1997/1998.

Na primeira fase, liderança no grupo que tinha Olympiakos (GRE), Porto (POR) e Rosenborg (NOR). Na segunda, vitórias sobre Leverkusen e Borussia Dortmund até a final contra a Juventus (ITA). Com gol de Mijatovic, o time foi campeão em Amsterdã. Pouco antes, tinha sido a vez do Atlético comemorar em caixa alta.

A Era Jesús Gil não guarda boas lembranças ao torcedor colchonero, mas alguns episódios pelo menos servem de alento ao inferno que foi o clube na década de 90. Após conquistar duas vezes a Copa do Rei nas temporadas 1990/1991 e 1991/1992, o clube brigou contra o rebaixamento, até se reestruturar e enfim alcançar a glória. Pela primeira vez o Atlético de Madrid conseguiu o doblete, ganhando o Espanhol e a Copa.

O feito foi alcançado em 1995/1996, quando a equipe contratou o treinador Radomir Antić e adicionou a um elenco que já tinha Solozábal, Caminero e Diego Simeone o atacante Penev, além de Santi Denia. Na Liga, liderança em 39 das 42 rodadas para ser campeão com apenas 32 gols sofridos e cinco pontos a mais que o vice-líder Valencia.

Já na Copa do Rei, passou por Real Bétis, Tenerife e Valencia para chegar à final, contra o Barcelona. Treinados por Johan Cruyff, os catalães tinham Guardiola, Hagi, Figo e Prosinecki, e fizeram jogo duro: somente na prorrogação os rojiblancos puderam garantir a taça, graças a gol de Pantic.

Ambas as conquistas entraram para o história do clube, quebrando a hegemonia de Real Madrid e Barcelona, que por anos dominaram as duas competições. A boa fase, entretanto, não durou muito: em 2000 o Atléti caiu para a segundona espanhola, dando início a um novo ciclo em Manzanares.

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Sobre o autor
Walter Paneque
Editor-chefe da VAVEL Brasil.