*Texto feito por Filipe Rufino
Em julho de 2004, Didier Yves Drogba Tébily foi contratado pelo Chelsea, junto ao Olympique Marseille. Kolo Touré, titular na zaga do Arsenal, havia acabado de ser coroado campeão invicto da Premier League. Nesse mesmo verão, mas com muito mais discrição, Emmanuel Eboué chegou ao Arsenal vindo da Bélgica. Enquanto isso, na França, Bonaventure Kalou (irmão mais velho de Salomon), Didier Zokora, Bak Koné, Kader Keita e outros pares de marfinenses brilhavam por seus times da Ligue 1.
Juntos, nas eliminatórias africanas, esses jogadores fizeram história: se classificaram para a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006. A Costa do Marfim nunca havia disputado uma Copa do Mundo, e a hype em torno dessa que era “a melhor geração marfinense de todos os tempos” era gigantesca. Os elefantes tinham tudo para ser a sensação da Copa. Mas eles foram parar no grupo C, ao lado das temidas Argentina e Holanda e da Sérvia e Montenegro (que contava com Stankovic).
Apesar do grupo difícil, a Costa do Marfim deu trabalho para as favoritas: Argentina e Holanda venceram os elefantes de forma apertada, por 2 a 1. No último jogo, que marcaria a despedida de Costa do Marfim e Sérvia e Montenegro da Alemanha (marcaria também o último jogo da história da seleção de Sérvia e Montenegro, pois os países foram desmembrados durante aquela copa), os ex-iugoslavos abriram logo 2 a 0. Mas casca grossa, tal qual o gigante herbívoro que a seleção homenageia, os marfinenses correram atrás, viraram o jogo e conseguiram a primeira vitória da seleção na história das Copas do Mundo. Com a cabeça erguida, os elefantes deixaram a Alemanha sonhando com melhor sorte em 2010 – já era sabido que a próxima Copa seria disputada no continente africano.
Mais Azar
No ciclo para a Copa de 2010, a Costa do Marfim que já tinha Drogba como um dos melhores jogadores do mundo, viu seus laterais se firmarem - Boka na Alemanha e Eboué na Inglaterra; ganhou opções de meio-campo como Tioté, Kalou e Gervinho; teve seu melhor defensor, Kolo Touré, se mudando para o Manchester City e assumindo a capitania do time, enquanto seu irmão, Yaya Touré, se mudou do Olympiacos para o Monaco e do Monaco para o Barcelona. Titular como principal volante de marcação, fez parte do começo da Era Guardiola na Catalunha. O time que já era bom em 2006 ficou ainda melhor – e com mais experiência internacional, poderia fazer muito na Copa.
Bem, isso não aconteceu. Novamente os elefantes cairam em um grupo difícil, ao lado de Brasil, Portugal e Coreia do Norte. Apesar de muitos apostarem que os marfinenses pudessem deixar a equipe de Cristiano Ronaldo pelo caminho – e isso até pareceu provável, depois do 0 a 0 entre as duas seleções na primeira rodada – os marfinenses ficaram a um ponto de alcançar as oitavas: tudo isso porque Portugal conseguiu um empate contra o Brasil, na última rodada. A Costa do Marfim, mais uma vez, se despediu com vitória da Copa do Mundo: 3 a 0 sobre a Coreia e a sensação de chegar quase lá marcaram o fim de outra trajetória.
Chegou a hora
O ciclo 2011-2014 foi de mudanças. A geração que garantiu a classificação para a Copa de 2006 estava envelhecida. Jogadores como Eboué e Kolo Touré perderam espaço nos seus clubes, enquanto Yaya Touré e Gervinho ganharam mais protagonismo no cenário europeu.
Yaya saiu do Barcelona rumo ao emergente Manchester City onde passou a jogar com mais liberdade se tornando um dos melhores volantes box-to-box do mundo. Além disso, se tornou um dos maiores jogadores da história dos Citzens, vencendo uma FA Cup e duas taças da Premier League. Gervinho ficou no Arsenal por duas temporadas e fez bem o seu papel pelas pontas apesar de sempre pecar na finalização. Em 2013 se transferiu para a Roma, onde foi líder de assistências e um dos principais jogadores do Calcio, na temporada.
Didier Drogba permaneceu no Chelsea até 2012 e conquistou o grande objetivo da sua carreira: foi campeão da UEFA Champions League com os Blues. Após o título, passou pela China e terminou a fase de preparação para a Copa jogando no Galatasaray (assim como Eboué, que ficou fora da lista de convocados). Kalou, também campeão pelo Chelsea, voltou para a França – o lar dos marfinenses na Europa.
Neste ciclo mundial, a Costa do Marfim viu dois excelentes jogadores surgirem: Wilfried Bony (centroavante) e Serge Aurier (lateral-direito). Bony brilhou jogando pelo Vitesse da Holanda (46 gols marcados em 65 jogos de Eredivisie) e foi para o Swansea. Seu começo na Premier League foi animador: 16 gols nos primeiros 34 jogos. Já Aurier se destacou jogando no Toulouse da França. Em sua segunda temporada na equipe, já foi eleito melhor lateral-direito da Ligue 1. Além disso, reporta-se que Aurier, de apenas 21 anos, já tem termos acordados para se transferir ao Arsenal, após a Copa do Mundo.
E dessa vez, os 23 escolhidos de Sabri Lamouchi têm tudo para continuar fazendo história. Em um grupo com Colômbia, Grécia e Japão, os elefantes devem prolongar a sua participação no mundial. Além disso, o clima tropical do país e o apoio da torcida local podem levar os marfinenses longe. Em Recife, no jogo balada da Copa do Mundo, a maioria dos brasileiros abraçou a seleção marfinense, principalmente após a entrada do craque Didier Drogba. Em 5 minutos, os elefantes viraram o jogo. Após a partida, Drogba disse: “Eu fiquei orgulhoso! É fantástico sentir esse amor, essa paixão. Sinto como se estivesse no meu país, na minha casa, na minha Costa do Marfim. É o mesmo sentimento. É muito bom para mim e para todo o time ter o apoio dos fãs dessa maneira.”
Com tudo isso a favor, é muito provável que a Costa do Marfim faça história novamente, passando de fase pela primeira vez em uma Copa do Mundo. Assim como fizeram os leões em 1990, os leões de Teranga em 2002, e as estrelas negras em 2006 e 2010, os elefantes podem chegar como franco atiradores e complicar algumas vidas no mundial.
A marca que essa geração deixou ao classificar a sua seleção para as três primeiras copas de sua história é indelével. Mas eles querem mais. Querem ficar na memória de todos. Chegou a vez dos elefantes.