O desempenho espetacular do meia colombiano James Rodríguez na Copa do Mundo pode ser surpreendente para muita gente, mas não para Julio César Falcioni. Perto de completar 57 anos, o ex-goleiro argentino e hoje experiente treinador, com passagens por clubes como Vélez Sarsfield, Independiente e Boca Juniors, foi o primeiro a treinar o jogador que tem sido um dos destaques da campanha da Colômbia no Mundial.

A ligação de Falcioni com o futebol colombiano é mais antiga. Ele foi goleiro do América de Cali de 1981 a 1989, quando o clube ganhou cinco títulos nacionais consecutivos e foi três vezes vice-campeão da Copa Libertadores, também de maneira consecutiva. Em 1991, Falcioni teve outra passagem pela Colômbia, no Once Caldas.

Dezessete anos depois, no entanto, era o futebol colombiano que ia até o então comandante do Banfield, centenário clube argentino de poucas glórias no cenário esportivo nacional. Em sua segunda passagem pelo clube alviverde, treinou a equipe com relativo sucesso de 2003 a 2005, Falcioni acompanhou as atuações de um certo James Rodríguez, então com 17 anos, e enfim o alçou ao futebol profissional após cinco anos de nas categorias de base de clubes colombianos e no próprio Banfield.

Em entrevista ao jornal colombiano El País, Falcioni, cujo último grande resultado como treinador foi o vice-campeonato da Copa Libertadores com o Boca Juniors em 2012, elogiou o jogador e relembrou o trabalho de um ano com James que, como confirma seu primeiro comandante dava desde cedo mostras de que iria longe. Falcioni e James ajudaram a levar o Banfield ao título do Apertura Argentino em 2009, o primeiro e até aqui único de seus 108 anos de história.

"Quando cheguei para trabalhar no Banfield, ele já estava ali. Depois, fomos o levando de passo a passo ao time profissional. Após um primeiro semestre onde teve um período normal de adaptação, ele foi peça fundamental de um elenco que foi campeão e fez uma ótima campanha na Libertadores (em 2010, o Banfield foi eliminado nas oitavas de final pelo futuro campeão Internacional)", relembra. Ele ainda acredita que o jogador tenha deixado saudades por lá: "Sair campeão de um clube de 103 anos de história que não havia conquistado nenhum título é muito significativo. Ele ganhou o carinho dos torcedores", sintetiza.

Falcioni confirma que, desde cedo, Rodríguez se mostrava um jogador diferenciado: "Com seus 17 anos já se notava que era um jogador de muita qualidade, com grande potencial físico, capaz de competir com os profissionais e que sempre respeitou as exigências táticas que fazíamos", conta. "Ele é desses que você vê e sabe que é diferente e que fazem a diferença. Para James, o que faltava era uma cultura tática para que suas qualidades pudessem ser mais significativas para o grupo", afirmou Falcioni.

O técnico afirma que o futebol argentino acelerou seu processo de amadurecimento para o futebol, mas pondera: "Ele já trazia suas qualidades. Penso que sua chegada ao profissional foi fundamental para que crescesse com as diretrizes que o ajudam em seu posicionamento dentro de campo. Ele as aceitou, as incorporou e isso o ajudou a crescer no futebol argentino e posteriormente na Europa", acredita.

Atual treinador da Universidad Católica do Chile, Falcioni acredita que a Argentina ajuda a desenvolver os jogadores colombianos: "Existem jogadores colombianos que chegam muito cedo na Argentina, se estabelecem e crescem em todos os sentidos. É um mérito dos jogadores e do acompanhamento que tem tido para explorar suas virtudes. É uma soma de fatores que os fazem amadurecer e compreender as necessidades do futebol moderno", avalia.

O desempenho de James na Copa provocou elogios de seu primeiro treinador, que, segundo o próprio jogador declarou recentemente, o ensinou muito: "Fico feliz de ver que um jogador tão jovem quanto James tendo a possibilidade de brilhar em um Mundial ao lado de uma equipe que tem o ajudado como é a Colômbia. Para quem o viu crescer e esteve presente em uma pequena parte de sua história, é gratificante que essas coisas aconteçam", afirma. E vai além: "Ele não tem limites. Sempre pode dar mais. Em teoria, é difícil um jogador de 22 anos brilhar em uma Copa e ele conseguiu. É um dos melhores jogadores da Copa do Mundo".

Quando perguntado se Rodríguez, atualmente jogador do Mônaco, da França, precisa jogar em uma liga mais forte, ele diz: "Pode ser. Ele já deu passos muito importantes em sua trajetória. Esteve na Argentina onde se consolidou, posteriormente foi ao Porto-POR onde alcançou coisas importantes e hoje está no Mônaco, que é muito forte economicamente. Seguramente o veremos em breve em uma grande equipe do futebol espanhol, italiano ou inglês", palpita.

Ele ainda aproveitou para elogiar a campanha da Colômbia no Brasil: "Estou feliz pelo que eles têm feito. Se consolidou uma boa equipe e esperamos que possa continuar apresentando esse bom futebol que tem apresentado. Agora tem pela frente o Brasil, mas não tenho dúvidas de que possa chegar mais longe""O torneio ser disputado na América Latina favorece o bom desempengho das equipes latinas. Desde o começo apareceram gratas surpresas como Colômbia e Costa Rica, além da Argentina, que tem grande potencial individual", finalizou.