De torcedor das arquibancadas a um dos líderes do processo de reconstrução de um dos maiores clubes da Argentina: conheça um pouco da história do atual presidente do San Lorenzo, Matías Lammens, de apenas 34 anos, que mudou a status do Ciclón, outrora um clube à beira do abismo da Primera B Nacional e hoje está pleiteando uma vaga para a final da Libertadores da América 2014, feito que seria inédito na história do clube que Lammens está ajudando a levar de volta a Boedo.

Ao lado de Marcelo Tinelli, um dos principais comunicadores da Argentina. Lammens assumiu um San Lorenzo recém salvo de um rebaixamento quase consumado, imerso em dívidas e com a imagem completamente arranhada. Ambos conseguiram fazer uma reestruturação profunda no clube, impondo um choque de gestão, deixando o clube saneado financeiramente, e hoje estão colhendo os frutos deste trabalho, às vésperas de disputar uma semi-final de uma Libertadores depois de mais de 25 anos.

Um San Lorenzo à beira do abismo clamava por mudanças

Depois de mais de um mandato e meio de sucesso na gestão de Matías Diego Lammens Núñez, parece fácil destacar os motivos que fizeram com que o San Lorenzo superasse uma profunda crise institucional e se posicionar entre os principais clubes da América na temporada 2014. No entanto, faz-se necessário um pequeno exercício histórico, retornando a um passado recente, onde as coisas não aconteciam de uma forma satisfatória dentro do clube azulgrana.

Até julho de 2012, o presidente do San Lorenzo era o paraguaio Carlos Eusebio Abdo, um empresário que trabalhava negociando publicidade nos estádios, das quais sua empresa detinha o monopólio na Argentina. Abdo se aproximou do clube ao obter percentuais dos passes de alguns jogadores, nos idos de 2007. Quando chegou ao Ciclón, o empresário queria instituir no clube um modelo empresarial que foi instituído no Boca Juniors, pelo ex-presidente Maurício Macri. Mesmo com altíssimo investimento, em nenhum momento do mandato a equipe se encontrou dentro de campo, e junto com sua diretoria, não se viu com outra alternativa senão renunciar ao cargo.

O apresentador e empresário Marcelo Tinelli, um dos principais nomes do canal El Trece, que pertence ao Grupo Clarín (um dos principais opositores do governo Kirchner, mas isto é outra história), já tinha uma relevância gigantesca dentro do San Lorenzo, sendo um dos torcedores mais notórios do Ciclón e um importante investidor do clube. Tinelli, claro, não agia sozinho, e dentre seus homens de confiança estava Matías Lammens, um fanático hincha cuervo e que era colega do afilhado de Marcelo. Desde então a relação entre Tinelli e Lammens se estreitou cada vez mais, a ponto de ambos lançarem candidatura à presidência do seu clube do coração.

Antes disto, ainda na gestão Abdo, Tinelli já havia contribuído com premiações para motivar os atletas a livrarem o clube do eminente rebaixamento, durante a disputa do Torneo Clausura 2012. Naquele momento, com o "modelo empresarial" de Abdo indo por água abaixo, o apresentador do El Trece já articulava junto a seus correligionários um modo de gerir o clube, sem que houvesse uma confusão entre o Marcelo Tinelli apresentador e produtor de televisão, e o Marcelo Tinelli dirigente de futebol. Ali Tinelli chegava ao nome de Matías Lammens, que após a renúncia de Carlos Abdo, já assumia a presidência interina do seu clube do coração, eleito por uma Assembleia Extrordinária.

Até então, Lammens, com 32 anos à época, era um advogado, que não exercia a função, e também era dono de uma distribuidora de vinhos no bairro de Boedo. Ficou conhecido dentro do San Lorenzo por ser um rotineiro colaborador de outros esportes, que não o futebol, e por participar da confecção de um dos três projetos de lei de restituição histórica, que visam devolver ao San Lorenzo os terrenos da Avenida La Plata, onde se localizava o Viejo Gasómetro, histórica cancha do Cuervo. E com o total respaldo de Marcelo Tinelli, foi eleito presidente em 1º de setembro de 2012, obtendo mais de 80% do total dos votos.

A responsabilidade de Lammens na recuperação do Ciclón

A gestão Lammens encontrou dívidas que chegavam aos 13 milhões de pesos, tanto com funcionários quanto com fornecedores. A primeira atitude foi quitar estes débitos, uma vez que, segundo palavras do próprio Lammens, "o San Lorenzo não jogaria no domingo" caso não fossem paga esta parte da dívida. O desafio era não apenas reestruturar o clube, como recobrar a credibilidade do nome San Lorenzo na praça. Para isto, entre outras coisas, foi utilizado o próprio nome dos dirigentes como aval.

O que é mais impressionante nessa história toda é a simplicidade do cidadão e torcedor Matías Lammens. Um dia após sua eleição oficial, em setembro de 2012, lá estava o presidente, no setor visitante do estádio José Dellagiovanna, em Victoria, assistindo ao empate do seu San Lorenzo frente ao Tigre. Algo costumeiro na vida de Lammens, que sempre que possível destaca essa possibilidade de ter uma proximidade maior com o torcedor, com o sócio, para saber o que pensam uns dos principais interessados com o desempenho do clube, não apenas enquanto time de futebol - mas principalmente isto.

A primeira temporada com Lammens na presidência terminou com um desempenho regular, fazendo 58 pontos na soma dos torneios Inicial e Final. Os frutos do trabalho começaram a ser colhidos de fato no Torneo Inicial 2013, quando o San Lorenzo se aproveitou da irregularidade dos adversários e marcou 33 pontos, a menor pontuação de um campeão no sistema de disputa vigente até o meio deste ano. Nesse meio tempo o clube conseguia se reforçar com jovens jogadores de bom potencial, enquanto saneava sua situação financeira. Graças a isto, a dupla Lammens-Tinelli foi reeleita no final de 2013 para mais três anos de mandato, novamente com imensa supremacia na contagem de votos.

Dentre as conquistas de Lammens e sua diretoria fora de campo, destacam-se a redução do passivo do clube em cerca de 65 milhões de pesos, a duplicação do número de sócios e a sanção da Lei de Restituição Histórica, que devolve o San Lorenzo ao bairro de Boedo, sua casa de sempre. Antes da reeleição, Lammens sempre tratou de deixar claro que havia muito trabalho a ser feito. Mas, se compararmos a situação atual com a gestão de Abdo, hoje os jogadores e demais funcionários recebem em dia e o clube recuperou sua credibilidade. Sem contar os resultados dentro de campo, os quais sequer cabem uma comparação - nunca na gestão anterior o San Lorenzo chegou nem perto de onde está atualmente.

Agora, o sonho e objetivo, não só de Lammens, mas como de todos os torcedores cuervos, é que o San Lorenzo volte a mandar uma delegação à Santa Sé, para visitar o Papa Francisco, torcedor mais ilustre do clube de Boedo, assim como havia acontecido após a conquista do Inicial 2013. Só que, desta vez, como campeões da América. O título da Libertadores será a cereja do bolo de um projeto que começou ambicioso, mesmo nas arquibancadas do Nuevo Gasómetro e nas tribunas visitantes, e pode culminar na disputa do Mundial de Clubes. Se não se pode duvidar da fé dos torcedores deste clube com nome de santo, menos ainda podemos duvidar do trabalho de Matías Lammens.

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