Em busca de uma inédita final de Libertadores da América, nesta quarta-feira (23), San Lorenzo e Bolívar começam o duelo pelas semifinais do torneio. O primeiro jogo será no Nuevo Gasómetro, em Buenos Aires, às 19h45, com a arbitragem do colombiano José Buitrago. Quem passar deste confronto, pega na final o Nacional (PAR) ou o Defensor (URU). Não é uma instância inédita na história da competição para ambas as equipes, mas já fazem mais de 25 anos da última aparição de argentinos e bolivianos nesta fase da Copa.

O San Lorenzo, atualmente mais conhecido por ser a equipe pela qual torce o Papa Francisco do que propriamente pelos seus resultados dentro de campo, terá a responsabilidade de fazer um bom resultado no jogo de ida, para não ter problemas maiores que os já esperados com a altitude de La Paz na próxima semana. Para isto, terá o apoio de mais de 40 mil torcedores, que prometem, além da festa que carateriza a torcida do Ciclón ao longo dos jogos desta Libertadores, um recebimento histórico, com 50 mil balões e toneladas de papel picado. Dentro de campo, o técnico Edgardo Bauza não tem grandes dores de cabeça para montar sua equipe, que vai com o que tem de melhor.

Para chegar até aqui, o San Lorenzo precisou suar sangue e ter muita fé. Afinal, um clube com nome de santo e cujo torcedor mais ilustre é o Chefe da Igreja Católica, teria que fazer jus a uma ajudinha divina. E que ajudinha. Na fase de grupos, precisou esperar o apito final de um confronto infartante entre Unión Española e Independiente del Valle, no qual os equatorianos ficaram a um gol de eliminar o Ciclón da Copa. Dois brasileiros foram derrubados na sequência (além do Botafogo, que já havia caído na fase de grupos): contra o Grêmio, os argentinos precisaram ir até a decisão por pênaltis para garantir presença nas quartas-de-final, enquanto contra o Cruzeiro, uma vitória no Nuevo Gasómetro e um empate no Mineirão bastaram para selar a classificação cuerva para as semifinais. No período de parada para a Copa, o San Lorenzo perdeu seu principal jogador: Ángel Correa, de apenas 19 anos, que foi vendido ao Atlético de Madrid - e posteriormente teve identificado um problema cardíaco que o afastará dos gramados por alguns meses.

O desafiante dos argentinos, o Bolívar, em uma primeira análise já deveria estar satisfeito com a campanha feita até aqui. Mas, já que está nas semifinais, por que não beliscar uma vaguinha na final mais importante do futebol sul-americano? Seria o maior feito da história da Academia boliviana, em 30 participações na Libertadores da América. A curiosidade é o apoio do cantor de salsa estadunidense Marc Anthony, que estará em Buenos Aires acompanhando a partida, à convite do presidente Marcelo Claure. Dos jogadores que ainda seguiram no clube após o recesso para a Copa do Mundo, o único desfalque é do jovem meia Jaime Arrascaita, que sequer viajou à Argentina.

A trajetória do Bolívar foi um pouco menos penosa que a do seu adversário nesta quarta. Menos penosa e de crescimento importante ao longo do torneio. A única derrota dos bolivianos na competição foi na estreia, para o Emelec, no Equador. No entanto, a Academia teve que esperar até a 4ª rodada da fase de grupos para conhecer sua primeira vitória, jogando em casa contra o Flamengo. Outros dois triunfos, contra León e Emelec deram a liderança do grupo 7 ao time celeste. Dois empates contra o León classificaram o Bolívar, pelo saldo qualificado, para as quartas-de-final, onde surpreendeu um dos favoritos ao título, o Lanús, e chegou às semifinais com um empate no Argentina e uma vitória em La Paz sobre o Granate. Sobre baixas no elenco, a única baixa foi a do atacante uruguaio William Ferreira, um dos principais nomes da equipe na Libertadores até aqui, que se transferiu para o futebol mexicano.

Rusga de jogador com dirigente e disputa de (outra) Copa às vésperas da decisão

O período de concentração do San Lorenzo em Los Cardales foi dos mais movimentados. Além da já referida perda do meia-atacante Ángel Correa, deixaram o clube o meia Fernando Elizari, que foi emprestado ao O'Higgins, do Chile, o também meio-campista Martín Rolle, que foi para o futebol grego, e o zagueiro colombiano Carlos Valdés. O caso do defensor que disputou a Copa do Mundo merece uma atenção especial. Valdés trocou farpas públicas, via Twitter, com ninguém menos que o vice-presidente do San Lorenzo, o todo-poderoso Marcelo Tinelli, reclamando de salários atrasados e afirmando que não se reapresentaria enquanto os débitos não fossem quitados. Os dirigentes, julgando estarem com a razão, rescindiram o contrato do zagueiro, que terá que voltar para o Philadelphia Union, que disputa a Major League Soccer. Essa briga ainda vai longe...

O clube recebeu o reforço do meia Pablo Barrientos, repatriado junto ao Catania, da Itália. O jogador já fica à disposição do técnico Edgardo Bauza para a disputa das semifinais da Libertadores, assim como o atacante uruguaio Martín Cauteruccio, que passou 10 meses se recuperando de uma ruptura nos ligamentos do joelho. Por falar em reforços, o meia Leandro Romagnoli será titular na partida contra o Bolívar. O cartão vermelho que o camisa 10 do San Lorenzo levou no último jogo da Libertadores, contra o Cruzeiro, foi anulado pela Conmebol, o que gerou grande reclamação por parte dos bolivianos. E não só deles... O Bahia, que tinha um pré-contrato com o jogador, exige o pagamento de 500 mil dólares justamente pelo descumprimento do contrato. De qualquer forma, Pipi jogará até o final da Libertadores pelo clube de Boedo.

No último domingo (20), o San Lorenzo teve um desafio importante pela Copa Argentina, e eliminou o Almirante Brown, se garantindo nas oitavas-de-final da competição, onde espera pelo vencedor de Godoy Cruz e Defensa y Justicia. O time que foi a campo tinha apenas quatro titulares: Torrico, Buffarini, Gentiletti e Más. A vitória por 2 a 0 teve gols de Catalán e de Cauteruccio, em sua volta aos gramados. Após o jogo, o uruguaio falou sobre sua condição. "Estou contente. Além de ter marcado um gol, era importante começar o segundo semestre com vitória", comentou o centroavante. A defesa, praticamente a mesma que entrará em campo no Nuevo Gasómetro contra o Bolívar, saiu incólume, um bom indício de que o ritmo de jogo está próximo do ideal, para que o San Lorenzo não sofra gols, uma das premissas do duelo desta quarta.

A equipe está confirmada pelo técnico Edgardo Bauza, que falou sobre o jogo após o trabalho da última segunda-feira (21). "Tentar ganhar a partida e sofrer gols são as duas premissas que temos. Passei aos jogadores todos os indicativos do que iremos enfrentar. A única coisa que quero é ganhar", afirmou El Patón. Na sequência, Bauza confirmou Romagnoli como substituto de Correa para a sequência da Libertadores: "Não tenho um substituto natural para Ángel (Correa). Romangoli ocupará seu lugar, jogando próximo de Matos e tentando desequilibrar com seu raciocício rápido e seu último passe". E também falou sobre as condições psicológicas de sua equipe. "Vejo os jogadores tranquilos. A ansiedade vai aumentando à medida que chega a hora do jogo. Porém o grupo demonstrou que consegue controlar essa ansiedade. Vejo a equipe entusiasmada e com muita vontade. Estamos seguros do que temos que fazer", completou Bauza.

Um Bolívar que já voltou ao ritmo de competição espera surpreender na Argentina

Em busca da maior façanha do futebol boliviano. Assim o Bolívar viajou para a Argentina, na antevéspera do duelo contra o San Lorenzo, em Buenos Aires. Todos no clube da La Paz estão conscientes de que estão prestes a entrar para a história. A outra oportunidade onde o Bolívar disputou uma semifinal de Libertadores da América foi em 1986, quando esta fase ainda era um triangular que designava um dos finalistas - foi último colocado, fazendo bons enfrentamentos contra Olimpia e o América de Cali, este que chegou à decisão. Mesmo com toda esta expectativa, os bolivianos estão tranquilos. Nesta terça-feira os jogadores fizeram um trabalho leve em Puerto Madero, batendo bola em um campo de futebol sete, sob os olhares de muitos torcedores que foram à Argentina acompanhar a equipe.

Considerando a frieza dos números, o Bolívar é o melhor dos semifinalistas. Mas não somente por isto. Inclusive foi destacado pelo técnico do San Lorenzo, Edgardo Bauza, o modo que a equipe celeste trabalha a bola e a compactação do time boliviano, que oferece poucos espaços para os adversários. O que dá a entender que o Bolívar é um adversário a ser respeitado, não apenas por ter a seu favor a temida altitude de La Paz, como também por ter um bom time de futebol. E este bom time do Bolívar estará quase completo para encarar o San Lorenzo, à exceção do meia Arrascaita, que não estará à disposição do treinador Xabier Azkargorta. No período entre quartas-de-final e semifinais, a Academia perdeu seu principal centroavante, o uruguaio William Ferreira, que foi para o futebol mexicano, mas em compensação trouxe dois reforços para a posição: o experiente equatoriano Carlos Tenorio, de 35 anos, e que tem no currículo uma passagem pelo Vasco da Gama, e o colombiano Óscar Rodas, que atuava no Independiente Santa Fe.

O Bolívar disputou um torneio preparatório para o Apertura, que se iniciará em agosto, e venceu os dois confrontos contra o San José, por 1 a 0 e por 4 a 0 - neste último, destacando-se as presenças dos atacantes Tenorio, Rodas e Arce, que anotaram um gol cada, com o meia espanhol Callejón fechando o placar. Outro espanhol, o ala-esquerdo Capdevila, falou sobre o respeito que a equipe tem pelo San Lorenzo. "Temos ido bem porque respeitamos os rivais e somos uma equipe trabalhadora. O San Lorenzo é um clube muito importante, e fará o melhor possível para conseguir a Libertadores. Se conseguirmos algo na Argentina, teremos um caminho mais fácil para definir uma possível classificação para a final", analisou Capdevila. No último treinamento em solo boliviano, ainda na segunda-feira (21), El Vasco Azkargorta não revelou o time titular, apesar de ter definido internamente como o Bolívar irá a campo nesta quarta-feira (23). O provável time terá Quiñonez; Eguino, Cabrera e Gutiérrez; Yecerotte, Miranda, Flores e Capdevila; Callejón; Tenorio ou Rodas e Arce, no esquema 3-4-1-2.