No início da Uefa Europa League 2014/2015 poucos apostariam que Club Brugge e Dnipro Dnipropetrovsk chegariam longe na competição. E um deles estará na fase semifinal do segundo torneio interclubes mais importante do Velho Continente. O sorteio afastou qualquer "bicho-papão" dessas equipes e as colocou frente a frente nas quartas de final. Uma delas poderá se dar ao direito de continuar sonhando com um inédito título continental.
As situações nos clubes são bem diferentes. Porém, o futebol nos mostra que dentro de campo as forças podem se igualar. A eliminatória entre belgas e ucranianos pode até ser a menos prestigiada entre as outras que formam as quartas da Europa League (Sevilla x Zenit, Dynamo Kiev x Fiorentina e Wolfsburg x Napoli), mas garra é o que não deve faltar entre os jogadores. O orgulho de seus torcedores e a consagração dos atletas estarão em jogo, e o confronto também é de grande interesse para o coeficiente das ligas nacionais na Uefa, ranking que determina o número de vagas de cada país nas competições internacionais e em qual pote as equipes ficarão nos sorteios. A Ucrânia é a sétima colocada, com 43.666 pontos, enquanto a Bélgica está em 10º, com 37.000 pontos.
As partidas de ida estão agendadas para o dia 16 de abril. Já os jogos de volta estão marcados para o dia 23 do mesmo mês.
Comandado por famoso ex-goleiro, Brugge vem fazendo grande temporada
O Club Brugge está "de vento em popa" na temporada 2014/2015. Quadrifinalistas da UEL, os Blauw-Zwart estão na ponta da Jupiler Pro League e foram campeões da Cofidis Cup. No campeonato nacional, o time liderou a primeira fase com 61 pontos (17 vitórias, 10 empates e apenas três derrotas) e se classificou sem muitos sustos ao Hexagonal do Título.
A equipe iniciou a segunda fase com 31 pontos, como prevê o regulamento do torneio, e estreou "com o pé direito": venceu o Standard Liège, em casa, por 2 a 1, e foi a 34 pontos. No jogo seguinte, foi derrotado pelo Kortrijk, fora de casa, por 2 a 0. Mesmo assim, foi beneficiado pela derrota do K.A.A. Gent para o Charleroi por 2 a 1. A oito rodadas do fim, o Brugge depende apenas de si mesmo para ser campeão e acabar com um longo de tabu de 10 temporadas sem o maior título do futebol belga. O próximo adversário é o Anderlecht, no Jan Breydel Stadium, casa do CB.
Por falar em tabu, outro jejum vinha incomodando o clube: o de não conquistar a copa nacional desde 2007. A taça veio no dia 22 de março, após uma épica vitória de 2 a 1 sobre o Anderlecht. Depois de sofrer o empate aos 44 minutos da segunda etapa, o gol do título foi marcado nos acréscimos, aos 47, por Refaelov. Além do fim da fila, o Brugge aumentou a vantagem sobre o rival da capital em títulos de copa: foi a 11 taças, contra nove dos oponentes. No torneio, o CB despachou Eendracht Aalst (segunda divisão), Kortrijk, Mechelen e o rival local Cercle Brugge (o restante disputa a primeira divisão).
Na Europa League, o clube, terceiro colocado na elite do futebol belga na última temporada, iniciou sua caminhada na terceira fase preliminar, contra o Brøndby. O time dinamarquês não foi páreo para a superioridade técnica do adversário e sucumbiu com duas derrotas: 3 a 0 na ida, na Bélgica, e 2 a 0 na volta, na Dinamarca. Nos playoffs, último estágio antes da fase de grupos, o Club Brugge mediu forças com o Grasshoppers, da Suíça. A classificação veio com dois triunfos: 2 a 1, fora de casa, e 1 a 0, em seus domínios.
O sorteio colocou a equipe belga no Grupo B, juntamente com Torino, HJK e Copenhague. Os Blauw-Zwart ficaram na liderança da chave, com 12 pontos, e avançaram aos 16 avos de final. A campanha culminou em três vitórias (3 a 0 e 2 a 1 sobre o HJK e 4 a 0 diante do Copenhague) e três empates (dois 0 a 0 com o Torino e um 1 a 1 com o Copenhague). Os italianos somaram um ponto a menos, seguidos por finlandeses (6) e dinamarqueses (4).
No mata-mata, mais uma equipe da Escandinávia pela frente: o Aalborg, também da Dinamarca. A apuração às oitavas veio sem sustos, com mais dois triunfos: 3 a 1, longe de casa, e 3 a 0, em território belga. Nas oitavas, o Leste Europeu foi o destino: o oponente era o Besiktas, que na fase anterior eliminou ninguém mais e ninguém menos que o gigante Liverpool. Todavia, o Brugge não se intimidou com o prestígio do adversário e emplacou mais vitórias: 2 a 1, na Bélgica, e 3 a 1, de virada, em plena Turquia. Entre os quadrifinalistas, o Club é o único que se mantém invicto - ao lado do Zenit, que veio da Champions League. A melhor campanha na história da competição foi o vice-campeonato de 1976, quando o torneio ainda se chamava Copa da Uefa. O algoz na decisão foi o Liverpool, que venceu a ida por 3 a 2 e garantiu a taça com um empate em 1 a 1 na volta.
O Brugge é treinado por Michel Preud'homme, um dos maiores goleiros da história do futebol belga. Preud'homme foi terceiro goleiro dos Diabos Vermelhos vice-campeões da Eurocopa de 1980 e titular nas Copas do Mundo de 1990 e 1994, tendo sido eleito o melhor arqueiro do Mundial dos EUA. Defendeu Standard Liège, Michelen e Benfica.
Depois de "pendurar as luvas", Preud'homme foi nomeado Diretor de Relações Internacionais do clube português. O primeiro time treinado pelo ex-goleiro foi o Standard Liège, clube do seu coração e que o revelou para o futebol, em 2001. No ano seguinte, deixou o cargo e se tornou diretor desportivo da instituição. Retornou à área técnica em 2006 e foi campeão da edição 2007/2008 do campeonato belga - o Standard conquistou o título após 25 anos de jejum. Em 2008, partiu para o K.A.A. Gent, pelo qual conquistou a Copa da Bélgica de 2009/2010, ao bater o Cercle Brugge por 3 a 0 na final. Uma das vítimas do Gent foi justamente o Club Brugge, derrotado por 4 a 1 em pleno Jan Breydel Stadium nas quartas de final.
Após passar quatro anos longe do futebol de seu país - treinou o Twente, da Holanda, por quem conquistou a KNVB Beker de 2010/2011, e o Al-Shabab Riyadh, de 2011 a 2012 -, Michel Preud'homme voltou ao país natal, para treinar o Club Brugge.
O treinador dispõe de bons nomes em todos os setores do campo. O goleiro é o jovem Mathew Ryan (23 anos), titular da seleção australiana. Na defesa, os jovens laterais belgas Thomas Meunier (23) e Laurens De Bock (22) fazem companhia ao costarriquenho Óscar Duarte (25), um dos destaques da seleção que foi sensação da última Copa do Mundo, e ao também belga Brandon Mechele (22) - os dois últimos são zagueiros. O meia-atacante colombiano José Izquierdo (22) é o artilheiro do Brugge na Jupiler Pro League, com 10 gols. Outros jogadores com apurados faros de gol são o meia-atacante israelense Lior Refaelov (28), artilheiro do time na UEL com seis gols, e o atacante belga Tom De Sutter (29), vice-artilheiro da equipe no campeonato nacional, com nove gols.
O capitão é o experiente volante belga Timmy Simons (38), e o vice-capitão é o meia espanhol Víctor Vázquez (28), revelação do Barcelona. Também há brasileiros no elenco: o meia Claudemir (27), que jogou na base do Palmeiras e foi revelado pelo São Carlos, e o atacante Felipe Gedoz (21), revelação do clube uruguaio Defensor Sporting. O meia belga Boli Bolingoli-Mbombo (19), primo de Romelu Lukaku, astro do Everton, é a maior promessa do clube na atualidade.
Como se pode perceber, a mescla entre juventude e experiência é a arma do Club Brugge para continuar fazendo bonito na temporada.
Dnipro procura se reconstruir em temporada conturbada
Atual vice-campeão da Premier League da Ucrânia, o Dnipro Dnipropetrovsk disputou o torneio interclubes mais importante da Europa pela primeira vez desde o fim da antiga União Soviética. A presença na fase de grupos era o principal objetivo do clube ucraniano, porém a campanha na Uefa Champions League 2014/2015 foi mais curta que o esperado: a equipe caiu ainda na terceira fase preliminar, ao empatar sem gols com o Copenhague na Ucrânia e ser derrotado por 2 a 0 na Dinamarca. Como o regulamento prevê, o Dnipro foi "jogado" para os playoffs da Europa League. Nessa fase, encarou o Hajduk Split, da Croácia. A classificação à fase de grupos veio no sufoco, com vitória por 2 a 1 em Kiev e empate sem gols em solo croata.
A equipe ficou em segundo lugar no Grupo F, com sete pontos, atrás somente da Internazionale, que somou 12 pontos. Conquistou duas vitórias (2 a 1 vs. Qarabag e 1 a 0 vs. Saint-Étienne), empatou uma vez (0 a 0 com o Sainté) e sofreu três derrotas (2 a 1 e 1 a 0 para a Inter, e 1 a 0 para o Qarabag). Apesar da campanha irregular, classificou-se para o mata-mata. Os azeris acumularam seis pontos, e os franceses ficaram com cinco pontos. A apuração veio em torno de polêmica: os jogadores do Saint-Étienne alegaram que o tento no confronto da última rodada foi ilegal, e o Qarabag não avançou por causa de um gol mal anulado contra a Inter.
Nos 16 avos de final, eliminou o Olympiakos com vitória por 2 a 0 em Kiev e empate em 2 a 2 no Pireu. Nas oitavas, surpreendeu ao despachar o tradicional Ajax. Depois de vencer pelo placar mínimo na ida, em território ucraniano, foi derrotada pela mesma contagem em Amsterdã. Na prorrogação, chegou ao empate e, mesmo com o gol sofrido no fim, avançou graças à polêmica regra do gol fora de casa.
O clube não vem mandando seus jogos na Dnipro Arena, em Dnipropetrovsk, pelo fato de a cidade se localizar no leste do país, palco de conflitos entre militantes pró-Rússia e pró-Ucrânia. Com isso, jogos com o mando do Dnipro estão sendo realizados no Estádio Olímpico de Kiev.
O clube vem sofrendo com salários atrasados, fato que tem afastado jogadores. O caso mais recente foi o do lateral-esquerdo brasileiro Egídio, ex-Flamengo, Vitória e Cruzeiro, que rescindiu com a equipe da Ucrânia e mais tarde acertou com o Palmeiras. O Dnipro contesta a versão do defensor, que afirma não ter recebido salários enquanto vestiu a camisa do time para o qual foi vendido em janeiro deste ano, e diz que o dinheiro caiu na conta do atleta. Os Dnipryany prometem entrar com uma ação na Justiça para anular a transferência de Egídio ao Verdão.
O Dnipro tem como proprietário e presidente o empresário Ihor Kolomoyskyi, ucraniano descendente de judeus. Kolomoyskyi também possui cidadanias israelense e cipriota e é governador do Óblast de Dnipropetrovsk. Futebol, dinheiro e política estão intimamente ligados na Ucrânia. A crise política no país vem afetando bastante o futebol local.
Mesmo com a fase conturbada, os alviazuis vêm fazendo boas campanhas nas competições nacionais e chegaram ao seu melhor desempenho numa competição continental. Na Premier League, estão em terceiro com 41 pontos, oito atrás do líder Dynamo Kiev, a sete rodadas do fim. O próximo desafio será contra o Olimpik Donetsk, fora de casa. Na Copa da Ucrânia, despacharam Desna Chernihiv (segunda divisão), Volyn Lutsk e Chornomorets Odesa (ambos da Primeirona) e terão pela frente o Shakhtar Donetsk, na semifinal.
Treinado por Myron Markevych, o Dnipro Dnipropetrovsk deposita a esperança de gols no atacante croata Nikola Kalinic (27) e no meia ucraniano Yevhen Konoplyanka (25). Eles somam, respectivamente, nove e seis gols na PL. Outros destaques são o lateral-direito ucraniano Artem Fedetskyi (29), o meia português Bruno Gama (27), o meia georgiano Jaba Kankava (29), o atacante ucraniano Roman Zozulya (25) e o atacante brasileiro Matheus Nascimento (32). Outros brasileiros presentes no elenco são o zagueiro Douglas Silva (24) e o meia Leo Matos (29). O goleiro é Denys Boyko (27), e o capitão é o meia Ruslan Rotan (33), ambos ucranianos.
Com muitos jogadores "de casa", os Dnipryany esperam continuar driblando os problemas extra-campo e manter a regularidade no restante da temporada.