Neste sábado, às 15h (de Brasília), Juventus e Torino vão para o Derby della Mole de número 232 no Juventus Stadium. O jogo é válido pela 11ª rodada da Serie A, e tanto o clube bianconero quanto o clube granata em busca de uma recuperação na tabela, já que ambos estão hoje bem longe de seus objetivos na temporada.

O Toro é quem está melhor colocado, está na décima posição, enquanto a Juve está na 12ª. Três pontos os separam na tabela, com os granata estando com 15 contra 12 dos juventinos.

Na última rodada, na quarta-feira (28), a Juventus foi a Emília-Romanha e foi derrotada pelo Sassuolo, por 1 a 0, enquanto o Torino empatou com o Genoa, por 3 a 3, em casa, em um empate amargo, já que o Toro chegou a estar a frente marcando seu terceiro gol aos 44 da segunda etapa, mas sofreu o empate no último minuto dos acréscimos. Na tabela, ambos estão bem longe do quinto colocado Sassuolo, que hoje iria à Uefa Europa League, com 18 pontos, ainda que os granata possam alcançá-los em caso de vitória no dérbi.

Em toda a história, foram 231 jogos entre bianconeri e grifoni, com 96 vitórias da Juventus, 73 vitórias do Torino e 62 empates. No confronto também houve 351 gols juventinos, contra 312 gols do arquirrival. A maior goleada do confronto foi uma vitória de 8 a 0 do Torino sobre a Juve, no dia 17 de novembro de 1912.

Uma história da rivalidade mais antiga do futebol italiano

O Derby della Mole tem este nome por causa da "Mole Antonelliana", uma sinagoga que é um ponto turístico importante na cidade de Turim. A rivalidade entre Torino e Juventus, a mais antiga da Itália, começou no dia 13 de janeiro de 1907. Foi a primeira partida oficial do Torino na história, já que o clube granata foi fundado em 3 de dezembro de 1906. A rivalidade começou porque o Torino foi fundado a partir de membros do Torinese, extinto naquele ano, e de dissidentes (incluindo jogadores) da Juventus, que foi fundada em 1 de novembro de 1897. Um desses dissidentes criadores do Torino foi o ex-presidente da Juventus entre 1905 e 1906, Alfredo Dick. O primeiro confronto foi vencido pelo Torino por 2 a 1, com gols de Ferrari-Orsi e Kampfer para os granata, enquanto Borel marcou de pênalti para o clube bianconero. Houve sempre uma década de domínio de cada clube, já que os dois clubes faziam parte do alto escalão do futebol italiano.

Nos anos 30, predominava a Juve, com seu time que conquistou o pentacampeonato italiano entre 1931 e 1935. Nos anos 40, viria o Grande Torino. O domínio dos granata começaria na temporada 1942-43, quando o Torino foi a primeira equipe italiana a conquistar um "double", ou seja, ganhar além do Scudetto, a Coppa Italia. Em seguida, entre 1946 e 1948, viria o tricampeonato daquela geração. O tetra já estava bem encaminhado, quando no dia 4 de maio de 1949, após voltar de um amistoso contra o Benfica, o avião onde estava todo o time do Torino bateu em uma das torres da Basílica de Superga, nos arredores de Turim. Todos da equipe morreram.  A equipe era a base da seleção italiana que viria ao Brasil disputar a Copa do Mundo no ano seguinte. Mas a tragédia, além de abalar a equipe, criou um medo tão grande, que a seleção italiana veio ao Brasil de navio. A decadência do Toro começava ali, tanto que depois da tragédia de Superga, o Torino só voltaria a vencer um Derby contra a Juve em 1956.

A decadência deu origem ao primeiro rebaixamento do Torino, em 1959. No ano seguinte, com o título da Serie B, o Torino voltaria a primeira divisão, mas viveria anos sendo coadjuvante. Por outro lado, mesmo durante os tempos de luto no rival nos anos 50, a Juventus não se destacou tanto como nas décadas anteriores, e também era coadjuvante a nível nacional, em um país dominado por forças como a Fiorentina, o Milan e a Internazionale. Ainda assim, a Juve ganhou dois Scudetti nos anos 50, um bicampeonato italiano entre os anos 50 e 60, e mais outro Scudetto em 1967. Enquanto isso, o Torino via suas chances de renascer em um ídolo: Gigi Meroni. Contratado junto ao Genoa em 1964, ele tinha a alcunha de "George Best italiano", e era idolatrado pela torcida granata. Em outubro de 1967, durante uma comemoração de uma vitória sobre a Sampdoria, Gigi Meroni foi atropelado por um carro guiado por Attilio Romero, que ironicamente seria presidente do Torino entre 2000 e 2005. O luto tomou novamente a torcida granata. Apesar disso, na rodada seguinte a morte de Meroni, o Toro goleou a Juve por 4 a 0, com gol do camisa 7 substituto de Meroni, Alberto Carelli.

Nos anos 70, Juve e Torino voltaram aos holofotes: a Juve, teve dois bicampeonatos e mais um título nesse período, e o Torino conquistou seu último Scudetto da história na temporada 1975/76, além de ser bivice no segundo bicampeonato da Juve. Por outro lado, o Torino entre dezembro de 1973 e março de 1979, manteve um tabu de 9 clássicos sem vencer por parte da Juventus. Já na década de 80, a bonança voltou ao lado bianconero, num time de estrelas da seleção italiana, além de um super-craque: Michel Platini. O craque francês foi o líder de uma década de quatro Scudetti juventinos. Mas ainda assim, o Toro teve confrontos memoráveis, como o de 29 de março de 1983, no qual a Juve saiu na frente e vencia por 2 a 0 com gols de Rossi e Platini até os 25 do segundo tempo, quando começou a virada do Torino com gols de Dossena, Bonesso e Torrisi. O mais próximo que o Toro chegou do Scudetto foi na temporada 1984/85, com o vice-campeonato de um time liderado pelo brasileiro Júnior e pelo atacante italiano Aldo Serena.

Os últimos momentos de glória do Toro no Derby della Mole foram no início da década de 90. Nos primeiros anos da década, entre brasileiros, havia o duelo entre Casagrande, do Torino, e Júlio César, da Juventus. Casagrande acabou decidindo o Derby de 5 de abril de 1992, com 2 gols na vitória do Toro por 2 a 0. E na temporada seguinte, 1992/93, houve o derby pela Coppa Italia, na qual com dois empates e pelo gol fora, o Torino acabou eliminando a Juventus, e partindo para seu último título até hoje. As duas últimas vitórias do Toro foram na temporada 1994/95, marcada pelo double de Scudetto e Coppa por parte da Juventus. O primeiro, vencido por 3 a 2, e o segundo por 2 a 1, foram as últimas vitórias do Torino na história do Derby até 2015. No clássico seguinte, a Juve chegou a golear por 5 a 0, com tripletta de Vialli. Os últimos gols do Toro no duelo foram marcados nos memoráveis dérbis da temporada 2001/02: o primeiro, inesquecível para os granata, pois a Juve vencia por 3 a 0, e o Torino heroicamente conseguiu igualar para 3 a 3. o segundo, inesquecível para os juventinos, já que o Toro vencia por 2 a 1 até o último minuto, quando Maresca empatou, e ainda provocou os granata imitando um touro. Desde então, entre o sobe e desce do Torino, e até uma queda da Juventus, houveram poucos dérbis, e todos, desde 2008, tem sido com vitórias juventinas.

O Derby de 23 de fevereiro de 2014, no Juventus Stadium, foi marcado pela polêmica: além do belo gol de Tévez, concluído após cruzamento de Asamoah, que fez o argentino receber, girar e fuzilar no canto de Padelli, houveram muitas reclamações do Torino contra a arbitragem, por não ter marcado um pênalti para o Toro. Aquele jogo ampliou a vantagem da Juve para a vice-líder Roma, além de ter feito o time bianconero nadar de braçada rumo a mais um Scudetto. 

Mas logo viriam os jogos da temporada 2014-15. Primeiro o de 30 de novembro de 2014, quando a Juve abriu o placar com Vidal em cobrança de pênalti aos 15 minutos. Tudo parecia como um monólogo juventino rumo a mais uma vitória tranquila. Mas aí, aos 22 minutos, em arrancada fulminante do campo de defesa, Bruno Peres fez uma corrida de 78 metros e chutou de perna direita, forte, sem chances para Storari. Era o primeiro gol granata em um Derby della Mole desde 2002. Tudo parecia culminar com um empate nos minutos finais, com os bianconeri com 10 em campo pela expulsão de Litchsteiner. Mas em uma bola mal cortada nos últimos segundos, a bola sobrou pra Vidal, que passou a bola a 25 metros do gol. Muito longe para qualquer um, não para Pirlo, que vinha na corrida e chutou forte, no canto e rasteiro, sem chances para Padelli. Um gol inesquecível para lavar a alma juventina em dia chuvoso no Juventus Stadium.

Em seguida, no de 26 de abril de 2015, a hegemonia juventina parecia se repetir, especialmente quando os bianconeri saíram na frente com gol de falta de Pirlo aos 20 minutos. Mas no final da primeira etapa, um passe de Quagliarella forte quase faz Darmian perder a bola, mas seu domínio errado acabou sendo uma assistência para si mesmo, e ele tocou na saída de Buffon para empatar o derby. E no segundo tempo, a lei do ex decidiu o derby, em jogada trabalhada, cruzamento rasteiro na área para Quagliarella decretar a vitória granata. A primeira no Derby della Mole desde 1995, inesquecível para os torcedores do Torino, que esperaram ansiosamente com as defesas de Padelli a confirmação da vitória para festejar no Olímpico de Turim. 

Com perfis distintos, torcidas se envolveram em polêmicas ao longo da história

As torcidas têm perfis relativamente distintos. Para destacá-los, temos o exemplo de um trecho de um romance clássico famoso pela Itália escrito por Mario Soldati, em 1964, chamado "Le due Città" (As duas cidades, em português): "Atravessaram Piazza Vittorio, escondido nas sombras da noite. Já falando sobre futebol. Emilio [protagonista], é claro, era Juventus, a equipe de gentlemans, dos pioneiros industriais, jesuítas, dos pensadores, dos educados: os burgueses ricos. Giraudo [coadjuvante], é claro, era Toro, a equipe da classe operária, os trabalhadores migrantes ou das províncias de Cuneo e Alessandria, que tinham ensino técnico: a classe média e os pobres."

Nos primeiros anos, o Torino era mesmo a torcida do proletarieado e a Juventus, das classes mais altas de Turim. Mas a situação começou a se inverter nos anos 60 e 70, com a imigração meridional dos povos do sul da Itália, muitas vezes para trabalhar na fábrica da Fiat, que é chefiada pela família Agnelli, dona da Juventus, o que levava a Juve a ser vista como o "time da FIAT" e "time dos patrões", o que fazia a torcida do Torino dizer que esse era o ''verdadeiro time da cidade'', ainda que a Juventus tenha sido fundada nove anos antes.

Ao longo da história, houveram muitas provocações ''macabras'' entre as tragédias bianconeras e granatas. A torcida da Juventus já provocou a do Torino aos gritos de um uníssono ''Boom! Superga!'' em clara referência à tragédia de Superga. Além disso, em 1967, a torcida da Juventus vandalizou a morte de Gigi Meroni, que faleceu ao ser atropelado por um carro em 1967, em Turim. Por outro lado, a torcida do Torino já provocou várias vezes a da Juve com Heysel, com cânticos como "Obrigado, Liverpool" e "Nos dê outro Heysel".

Juventus vai ao clássico com time mais ofensivo

A Juve vem para o dérbi em busca de reverter a 12ª posição na tabela, pouco para um time cotado para o Scudetto e que ainda sonha distante com o pentacampeonato italiano. Para isso, Allegri deve escalar um 4-3-3, ainda que também seja provável um 4-4-2, já que a grande dúvida no time titular é se Hernanes ou Cuadrado começarão o Derby como titulares. Outra grande dúvida é se Padoin ou Cáceres começará de titular na lateral-direita.

Os mais prováveis até o momento são o esquema com 4-3-3 com Cuadrado no ataque e Padoin na lateral-direita, além de boa parte da base que enfrentou o Sassuolo no meio de semana. Os bianconeri tem um desfalque por suspensão, o do zagueiro Chiellini, expulso na última quarta-feira. Para isso, Barzagli será movido da lateral, onde jogou na última quarta, para a zaga, sua posição de origem. 

O técnico Massimiliano Allegri falou sobre a importância do clássico: "O derby é mais importante para nós do que para eles em termos de tabela. A Juve agora tem de subir na tabela e pensar em todas as partidas, em seguida, há a passagem para a fase eliminatória da Liga dos Campeões. Em seguida, jogaremos a Coppa Italia".

Torino vai ao clássico em busca de vencer a primeira na casa rival

O Toro vem para o dérbi pensando além de subir na tabela, em tentar vencer pela primeira vez na casa rival, o Juventus Stadium, de onde só saiu derrotado desde a inauguração da casa bianconera, em 2011. Para o dérbi, os granata pensam em reduzir um de seus grandes problemas: o de ser uma das defesas mais vazadas da Serie A, tendo sofrido 15 gols em 10 jogos pelo campeonato. Ainda assim, está entre os principais ataques do campeonato, tendo marcado 16 gols.

Nessa irregularidade, Ventura não deve abandonar o tradicional 3-5-2, mas tem apenas duas dúvidas pontuais sobre quem começa como titular: no meio, a dúvida está entre Benassi ou Acquah, com a titularidade sendo mais provável para Benassi, enquanto no ataque, a dúvida é entre Maxi López ou Belotti, com a titularidade pendente ao atacante argentino. De resto, boa parte do time é o mesmo que empatou com o Genoa no meio de semana.

Em semana de dérbi, o técnico Giampiero Ventura não falou sobre o clássico, muito pela frustração do empate do meio de semana contra o Genoa. Naquela ocasião, filosofara dizendo: "No futebol, se você fracassa, então você paga, e isso é o que aconteceu conosco", após o empate em 3 a 3 na última quarta-feira.