Apontado como um dos homens mais revolucionários na maneira de se jogar futebol, Pep Guardiola disputará, nesta segunda-feira (11), o prêmio de melhor treinador do ano de 2015. A premiação, feita anualmente pela FIFA, também contará com Luis Enrique, do Barcelona, e Jorge Sampaoli, da seleção chilena, para competir neste quesito.

Vencedor de apenas um título de 4 disputados em 2015, Guardiola já anunciou que deixará o Bayern de Munique ao fim da temporada europeia, ainda no primeiro semestre deste ano. No entanto, o técnico, vencedor da premiação de melhor treinador da FIFA em uma edição (2011), tem repertório e trabalho atual que o credenciam a mais uma conquista.

No primeiro semestre do ano passado, o trabalho do treinador espanhol no time bávaro foi bastante afetado pelo alto número de lesões, especialmente em momentos essenciais da Liga dos Campeões da UEFA. Nessa competição, os alemães saíram nas semifinais, frente ao campeão Barcelona, primeiro clube de Guardiola fora das quatro linhas. 

Sofrendo com o limite de jogadores para trabalhar, Pep precisou inovar e variar bastante o considerado "time base" do Bayern durante a parte final da temporada 2014/15. Um dos grandes momentos dessa temporada foi uma partida repleta de superação e algumas provas da total competência do treinador espanhol em seu trabalho cotidiano. Nas quartas-de-final da Liga dos Campeões passada, frente ao Porto, os bávaros precisavam reverter um 3 a 1 sofrido na primeira partida. Sem alguns de seus principais jogadores - Alaba, Robben e Ribéry estavam lesionados -, o time de Munique aplicou um sonoro 6 a 1 e se garantiu nas semifinais. 

Com os desfalques, a equipe passou por algumas interessantes alterações. Atuando no 4-1-4-1, os escalados de Guardiola tinham algumas características únicas, com o toque inovador do técnico espanhol: Lahm, um dos jogadores mais versáteis do elenco desde a saída de Juup Heynckes, atuando como ponta direita, infiltrando com passes e cruzamentos certeiros, e Müller, o meia-central pela direita, que sempre aproveita espaços e lacunas deixadas pelo adversário, foram peças-chave no triunfo e protagonizaram o lindo lance que gerou o terceiro gol naquela partida. Além disso, o mais importante: mobilidade, trocas rápidas e muita intensidade. No mesmo jogo, o Porto teve bastante dificuldade para fazer sua saída de bola em direção ao ataque, especialmente pela constante pressão do Bayern ainda no seu campo ofensivo, uma característica marcante em Guardiola. 

Bayern postado no 4-1-4-1 e marcando por pressão o seu adversário. Todos os jogadores à frente de Xabi Alonso colando em algum atleta adversário, dificultando passes no campo defensivo e forçando a ligação direta do Porto

Bayern postado no 4-1-4-1 e marcando por pressão o seu adversário. Todos os jogadores à frente de Xabi Alonso colando em algum atleta adversário, dificultando passes no campo defensivo e forçando a ligação direta do Porto

Chegado o segundo semestre, mais amostras de bom futebol e excelente trabalho de Guardiola em sua equipe. Abrindo a temporada, o Bayern perdeu a Supercopa da Alemanha para o Wolfsburg, mas apresentou uma prévia do que viria a ser o letal time da primeira metade da temporada 2015/16. Com Douglas Costa chegando no grupo, Pep ganhou poder para deixar sua equipe mais ampla e sufocar os adversários partindo dos lados do campo. Prova disso foi a escalação que esteve presente na primeira partida dos bávaros nesta temporada. 

Dessa vez, Guardiola optou pelo 3-1-4-2 em vez do 4-1-4-1. Em mais uma de suas variações posicionais com as versáteis e excelentes opções que possui, Pep utilizou Alaba como zagueiro pela esquerda, avançou Robben ao lado de Lewandowski, e Müller como meia-central pela direita, assim como na partida contra o Porto, no flagrante anterior. Como habitual, o camisa 25 aparece avançado e aproximando-se do centroavante da equipe, enquanto o Robben recua. Meias direita e esquerda (Lahm e Douglas Costa), dando amplitude ao time, facilitam o trabalho ofensivo da equipe.

3-1-4-2 bávaro no empate em 1 a 1 e posterior derrota nos pênaltis contra o Wolfsburg, pela Supercopa da Alemanha. Xabi Alonso faz a saída na defesa, ajudando os zagueiros. Linha de quatro jogadores à sua frente trabalhando e abrindo o campo para trabalhar o jogo de maneira mais ampla, com excelente trabalho nos dois lados de relvado, através de Lahm e Douglas Costa. Müller avança e Robben recua

3-1-4-2 bávaro no empate em 1 a 1 e posterior derrota nos pênaltis contra o Wolfsburg, pela Supercopa da Alemanha. Xabi Alonso faz a saída na defesa, ajudando os zagueiros. Linha de quatro jogadores à sua frente trabalhando e abrindo o campo para trabalhar o jogo de maneira mais ampla, com excelente trabalho nos dois lados de relvado, através de Lahm e Douglas Costa. Müller avança e Robben recua

Controle é importante, mas a defesa também merece destaque. Embora conte com uma muralha sob suas traves, o Bayern também dota-se de um forte trabalho de compactação de suas linhas, seja no esquema com três ou quatro jogadores na defesa. Outro ponto para Guardiola, que consegue proteger sua equipe, aproximar linhas e ser feroz na retomada de bola. 

Em outra grande exibição do atual líder e tricampeão da Bundesliga, agora frente ao vice-líder Borussia Dortmund, atual segunda força na Alemanha, um show do treinador espanhol, vitória incontestável por 5 a 1 e dominação que também pode ser explicada, dentre outros fatores, na maneira a qual o Bayern se defendeu. Atuando no 3-1-4-2, mesmo esquema do embate contra o Wolfsburg, linhas muito próximas e dificuldade de troca de passes e avanços do adversário. 

Bayern compacta linhas, negando espaços ao Borussia Dortmund. Time aurinegro encontra dificuldades em chegar à meta adversária e esbarra em sistema reativo do time de Guardiola. Resultado é uma afirmativa goleada do time de Munique, uma das equipes que joga o melhor futebol no mundo atualmente

E não para por aí. No seu campo de ataque, o Bayern também utiliza a vantagem de superioridade numérica para marcar por pressão o seu adversário, dificultando a saída de bola e buscando a retomada dela ainda em seu campo ofensivo, mais próximo da meta inimiga e com mais jogadores em possibilidade de um bom ataque. No flagrante a seguir, o time de Pep pressiona o Borussia Dortmund em um só setor, congestionando jogadores no lado esquerdo adversário e dificultando triangulações por aquela parte do gramado. 

Time bávaro aperta a marcação em um dos lados do campo defensivo adversário. Jogadores de vermelho congestionam o lado esquerdo do Dortmund, mas deixam a lateral direita livre para jogar. Pressão diferente da habitual, mas que obrigou o adversário a fazer mais ligações diretas e ter menos a bola em seus pés

Time bávaro aperta a marcação em um dos lados do campo defensivo adversário. Jogadores de vermelho congestionam o lado esquerdo do Dortmund, mas deixam a lateral direita livre para jogar. Pressão diferente da habitual, mas que obrigou o adversário a fazer mais ligações diretas e ter menos a bola em seus pés

Independente da vitória ou derrota nesta segunda, Guardiola segue apresentando, a quem admira o futebol, o que há de mais moderno e eficaz neste esporte. Adaptações, mudanças, conceitos de jogo e trabalho coletivo seguem fortalecendo seus trabalhos, e assim o treinador se aproxima de cada vez mais títulos em sua carreira. Para o bem do futebol, que siga modernizando-o, fazendo história e surpreendendo o mundo nos próximos anos.

Crédito de quase todos os flagrantes táticos ao excelente site "Taticamente Falando".