Os gritos de "Haiti, Haiti" ecoavam pelo Citrus Bowl Stadium desde os primeiros minutos de jogo. Se nas arquibancadas as camisas azuis e vermelhas coloriam o estádio e conquistavam até aqueles de verde e amarelo, em campo a equipe lutou para dar a seus devotos fãs o que eles mereciam, mas o 7 a 1 no placar mostrou que não foi suficiente. Entretanto, a goleada pode ter tirado a vaga dos haitianos na Copa América Centenário, mas não levou a alegria de um povo que, acima de tudo, sonha com momentos de glória.

Hoje é difícil encontrar um brasileiro que se identifique e confie plenamente na Seleção. Se por um lado o sentimento patriotista mantém viva a vontade de torcer pela equipe, por outro para muitos é difícil encontrar razões para fazê-lo como antigamente. A desconfiança é tanta que é mais fácil encontrar pessimistas a otimistas entre torcedores, já que boa parte nunca confia no Brasil como favorito.

De um lado, a irregularidade de uma paixão que já está desgastada e tem coração calejado, com feridas que demoram a cicatrizar. Do outro, porém, uma confiança que nem sete gols podem abalar. Enquanto os brasileiros, mesmo com 3 a 0 no placar, imaginavam cenários onde o adversário poderia virar ou seguiam apontando os inúmeros defeitos na partida, os haitianos seguiam na mesma animação de quando o marcador ainda estava em branco.

Marcar o primeiro gol em cima do Brasil de sua história foi mais para aquela seleção do que simplesmente colocar o um no emblemático 7 a 1. Para aqueles torcedores, que esquecem os problemas ao colocar a camisa azul e vermelha, aquele gol foi o auge da participação haitiana na Copa América. O estádio inteiro deixou sua torcida de lado e celebrou como uma final de Copa do Mundo. É sobre isso que a esperança do Haiti é.

Se perdemos algo no meio dessa conturbada caminhada da Seleção nos últimos anos, foi a confiança. Os "e se" começaram a aparecer simplesmente pela ausência de certezas. Por tudo que tem acontecido no futebol brasileiro, principalmente relacionado a CBF, o torcedor não deposita mais suas fichas em sua equipe nacional. Nós, torcedores brasileiros, perdemos isso tudo ao longo do caminho.

Os torcedores do Haiti ensinam que, apesar de não terem a melhor seleção, o melhor elenco e grandes títulos, o amor e orgulho pelo time que representa seu país é muito maior. Essas questões são apenas detalhes comparadas ao sentimento de pertencimento, de identificação. É visível que, em campo, os jogadores haitianos dão à seus amantes exatamente o mesmo amor que recebem vindo das arquibancadas; é isso que torna essa conexão tão sincera.

Hoje o brasileiro não se identifica com sua seleção, não se vê representado pelos homens que vestem a camisa verde e amarela. Talvez esse seja o grande problema, talvez aí esteja a resposta para a questão principal: onde deixamos aquela esperança brasileira que por anos foi tudo que precisávamos?