Na última quarta-feira (18), falamos que a seleção anfitriã da Copa Africana de Nações de 2017, o Gabão, parecia não se sentir muito à vontade em seu próprio território. E o pesadelo dos gaboneses se tornou realidade: as Panteras foram eliminadas na primeira fase da principal competição do futebol africano em casa. O vexame se concretizou neste domingo (22), após o empate sem gols com o rival Camarões no Stade de l'Amitié, em Libreville, capital do país. A partida valia pela última rodada do Grupo A.

Na história do certame, esta foi a quarta vez que o país-sede foi eliminado na fase de grupos. A última seleção a sofrer tamanho revés havia sido a Tunísia, em 1994. Antes, a Costa do Marfim e o Senegal passaram pelo mesmo perrengue, em 1976 e 1984, respectivamente.

No outro jogo da chave, no Stade de Franceville, em Franceville, Burkina Faso venceu a estreante Guiné-Bissau por 2 a 0 e se classificou às quartas de final em primeiro lugar. Os "Garanhões" terminaram a fase de grupos com a mesma pontuação dos Leões Indomáveis. Como as seleções empataram no confronto direto (1 a 1 na primeira rodada), o desempate acabou sendo a diferença entre os gols marcados e os sofridos. Melhor para os burquinenses, que tiveram saldo positivo de dois gols contra saldo de um gol dos camaroneses.

Burkina Faso foi a líder do Grupo A da CAN 2017 (Foto: Khaled Desouki/AFP/Getty Images)

O time de Aubameyang e cia. encerrou a competição com três pontos. Os empates com Guiné-Bissau e Burkina Faso foram pela contagem de 1 a 1. Os guineenses foram os lanternas do grupo, com apenas um ponto somado.

Devido à classificação antecipada do Senegal como líder do Grupo B, uma partida das quartas de final da CAN 2018 já está definida: Senegal x Camarões, um duelo leonino - Leões de Teranga versus Leões Indomáveis.

Burkina Faso, por sua vez, conhecerá seu adversário nesta segunda-feira (23), dia da última rodada do Grupo B. Com três pontos somados, a Tunísia aparece como favorita à vaga. As Águias de Cartago enfrentarão o Zimbábue, lanterna da chave com um ponto, e precisam apenas de um empate para carimbar o passaporte às quartas de final. A Argélia, que também soma um ponto, tentará mudar a história em duelo contra o Senegal. A matemática para a classificação das Raposas do Deserto é complicada: têm de vencer os senegaleses em Franceville e torcer para os zimbabueanos superarem os tunisianos em Libreville, desde que acabem com saldo de gols inferior ao dos argelinos.

Em jogo tenso, Gabão não consegue quebrar ferrolho de Camarões e é eliminado

Gaboneses foram eliminados pelos rivais dentro da própria casa (Foto: NurPhoto/Getty Images)

O "dérbi" entre gaboneses e camaroneses apresentou duas propostas de jogo diferentes. Enquanto os Leões Indomáveis sabiam que precisavam apenas de um empate, as Panteras não viam outra alternativa a não ser partir para cima, a fim de evitar uma eliminação vexatória em seus próprios domínios.

O lance de maior perigo do primeiro tempo veio dos pés do craque do Borussia Dortmund, Pierre-Emerick Aubameyang, logo aos cinco minutos. O atacante mandou a bola pela linha de fundo.

A seleção do Gabão se deparou com os mesmos problemas dos jogos anteriores. A grande dependência das jogadas individuais de Aubameyang, a falta de uma atuação mais coletiva e o nervosismo dos jogadores novamente foram entraves para superar a defesa adversária.

Os anfitriões só voltaram a assustar os oponentes somente aos 44 minutos. Não necessariamente em uma finalização efetiva, mas em uma épica travada de N'Koulou, que evitou uma finalização de Bouanga que tinha grandes chances de levar perigo à meta defendida pelo goleiro Ondoa. O meia do Strasbourg, da segunda divisão francesa, destacou-se pela intensa movimentação, a fim de achar uma solução para o ataque.

Camarões e Gabão ficaram no 0 a 0 (Foto: NurPhoto/Getty Images)

O pragmatismo se manteve na etapa complementar. Não havia organização em termos táticos, tampouco calma para planejar e executar jogadas. Parecia que o time da casa não sabia o que fazer quando tinha a bola nos pés. Enquanto isso, Camarões controlava o jogo ao seu gosto. Aos 20 minutos, os visitantes pediram pênalti do goleiro Ovono sobre o atacante Bassogog, mas o árbitro mandou o jogo seguir.

Na reta final da peleja veio o abafa. E brilhou a estrela de Fabrice Ondoa. O jovem de 21 anos, que é arqueiro do Sevilla Atlético, da segunda divisão espanhola, viu Bouanga acertar a trave e fez defesa milagrosa no rebote, em finalização de N'Dong. A salvação de Camarões. A agonia do Gabão.

Burkina Faso despacha Guiné-Bissau e se classifica como líder do Grupo A graças ao saldo de gols

O atacante Bertrand Traoré toca na saída do goleiro Jonas Mendes e sentencia a classificação de Burkina Faso e a eliminação da Guiné-Bissau (Foto: Khaled Desouki/AFP/Getty Images)

A vice-campeã africana de 2013 iniciou o duelo com mais volume de jogo. Levou perigo logo aos nove minutos, em finalização potente de Bertrand Traoré. O gol que abriu caminho para a vitória sobre Guiné-Bissau saiu pouco tempo depois, aos 11 minutos, em lance bastante bizarro. Alain Traoré lançou em direção à área e o zagueiro Rudinilson Silva se antecipou ao adversário para tentar cortar a bola. Contudo, o defensor não havia prestado atenção na saída do goleiro Jonas Mendes e acabou cabeceando contra a própria meta.

Os Djurtus passaram a priorizar a posse de bola e buscar alternativas para chegar ao empate. Mas os "Garanhões" se defendiam bem.

Quando o relógio marcava 12 minutos do segundo tempo, a única seleção lusófona da CAN 2017 quase chegou ao empate em cobrança de escanteio. Piqueti cabeceou, e a bola tinha endereço certo. No entanto, o meia Abdou Razack estava atento e afastou o perigo em cima da linha.

E a sorte definitivamente não estava do lado guineense. No lance seguinte ao escanteio, Burkina Faso ampliou sua vantagem no marcador. Em rápido contragolpe, o meia Prejuce Nakoulma, autor do gol no empate com o Gabão na rodada passada, viu Bertrand Traoré livre de marcação. O atacante do Ajax chegou à área e tocou na saída de Jonas Mendes: 2 a 0 para o time do técnico português Paulo Duarte, que a essa altura já superava Camarões no saldo de gols e assumia a ponta da tabela de classificação.

Mesmo idioma: o treinador de Burkina Faso, o português Paulo Duarte, consola o técnico da Guiné-Bissau, Baciro Candé, após o jogo (Foto: Khaled Desouki/AFP/Getty Images)

O jogo continuou lá e cá. Aos 31, Abel Camara saiu na cara do gol e desperdiçou uma grande oportunidade de recolocar os lusófonos no jogo. Aos 33, Bertrand Traoré e Abdou Razack fizeram grande jogada, e o meia quase marcou o terceiro de Burkina Faso.

Por ter dado muito trabalho aos seus oponentes, a estreante Guiné-Bissau pode dizer que sai da CAN 2017 de cabeça erguida. Do outro lado, a liderança do grupo conquistada "no apagar das luzes" foi bastante comemorada.