Feyenoord campeão holandês! Esse grito ficou preso na garganta da Legião, como é chamada a torcida do clube, por longas e esquecíveis 18 primaveras. E não faltou drama. O jejum teria chegado ao fim na penúltima rodada, mas um revés por 3 a 0, fora de casa, para o frágil Excelsior, reaproximou o Ajax e suspendeu a festa. Ela estava então remarcada para o domingo seguinte, 14 de maio, no De Kuip, a gigante banheira de Roterdã, palco do jogo final, do aguardado título.

Estádio lotado, telões espalhados pela cidade, atmosfera fantástica e um grande obstáculo, que não era o Heracles, o adversário derradeiro, time de meio de tabela. E também não era o Ajax, finalista da Liga Europa, que certamente não teria problemas para vencer o Willem, mesmo longe de Amsterdã. Era a ansiedade, visível em todos, público, jogadores, técnico. Mas o interminável Kuyt, em sua despedida dos campos, rolados 38 segundos de partida, dissipou qualquer fagulha de pressão. Pouco depois, aos 12 minutos, com outro gol, fez os Legionários entrarem em contagem regressiva. Aos 83, seu hat-trick foi o alerta para que as ruas se vestissem com as bandeiras do Feyenoord.

Dirk Kuyt, hoje com 36 anos, jogou pelo clube entre 2003 e 2006. Não foi campeão de nada, mas saiu de lá com dois prêmios, o de artilheiro da liga e de jogador holandês do ano. Com essas credenciais, ele se transferiu para o Liverpool, onde se tornaria internacionalmente conhecido. Para a felicidade dos filhos, retornou em 2015 à Roterdã, já aposentado da seleção, após serviços em três Copas do Mundo. Em sua antiga casa, reencontrou um companheiro de Laranja, com o qual tinha sido vice na África do Sul em 2010, o agora técnico Giovanni Van Bronckhorst. Juntos novamente, receberam a missão de colocar os alvirrubros no caminho dos títulos.

Gio, 42, é cria do Feyenoord e atuou lá em dois momentos, 1993-1998 e 2007-2010, sem levantar o troféu da Eredivisie. Na janela entre essas passagens, ora como lateral, ora como meia, tornou-se peça importante do Barcelona campeão europeu em 2006. Encerrada a carreira nos gramados, continuou no clube, onde auxiliou Koeman, Gastel e Rutten e, em 2015, assumiu como técnico. Em sua temporada de estreia, passou por um período turbulento: depois de um bom início, seu Feyenoord parou de lhe responder, ficou oito jogos sem vitórias e saiu da briga pelo campeonato. Com o time no rumo outra vez, sagrou-se vencedor da Copa da Holanda, primeiro título desde 2008, quando Gio ainda jogava.

Além de Kuyt e Gio, também merece destaque o dinamarquês Nicolai Jørgensen, 26, artilheiro do torneio, com 21 gols, e vice no ranking de assistências, com 11. O meia Jens Toornstra, aos 28 anos, fez a melhor temporada da vida, com 14 gols e nove assistências. Eljero Elia, 30, após insucessos seguidos, foi às redes oito vezes e deu mais um passo para reimpulsionar a carreira. Já o veterano goleiro Brad Jones, 35, ex-Liverpool e seleção da Austrália, não tomou gol em 17 das 32 partidas que disputou, melhor marca do ano no país. O único brasileiro do elenco é o paulista Eric Botteghin, 29, titular absoluto. No embate entre a juventude do Ajax, recheado por inúmeras promessas, como Kluivert, Dolberg, e a experiência do Feyenoord, prevaleceram os pés calejados. 

Pelo segundo ano seguido, Eredivisie tem emoção até o fim

Na edição 2016/2017, disputada por 18 clubes em dois turnos, o Feyenoord liderou todas as rodadas. Mas não pense que o título foi gestado em ares tranquilos. Duas espraiadas sequências de vitórias, uma de nove, outra de dez rodadas, tiveram entre elas três empates e uma derrota, tropeços que fizeram o Ajax, na 14ª semana, compartilhar o topo, mas com saldo inferior. Em abril, o time de Amsterdã, enquanto avançava na Liga Europa, distanciava-se no Holandês. Só se manteve na briga graças à vitória no clássico contra o líder, na 28ª rodada, por 2 a 1. Quatro jogos depois, a derrota para o PSV voltou a esfriar os ânimos dos Filhos dos Deuses, que só foram revigorados quando o Feyenoord caiu diante do Excelsior. Ainda havia a possibilidade de o Ajax esfacelar os prognósticos do campeonato, como ocorrera a seu desfavor em 2016, quando o Eindhoven lhe tirou o título na última partida.

Campeão com um ponto de diferença, 82 a 81, o Feyenoord disputará a fase de grupos da Champions League, enquanto o vice Ajax entrará na penúltima eliminatória. PSV, terceiro, e Vitesse, campeão da Copa, classificaram-se para a Liga Europa. Outra vaga sairá do vencedor de um playoff, que ocorrerá nos próximos dias. NEC e Roda, antepenúltimo e penúltimo, tentarão a permanência na elite via repescagem. Seis vezes campeão nacional, o Sparta eliminou, na rodada derradeira, qualquer chance de voltar ao acesso, onde esteve por meia década. O Go Ahead Eagles, que tem quatro títulos holandeses, foi rebaixado, após rápida passagem na Eredivisie.

Ajax, com 33 troféus, PSV, 23, e Feyenoord, 15, são os maiores vencedores na Holanda. O clube de Roterdã, fundado em 1908, viveu seu auge nos anos 60 e 70. Foram seis campeonatos, uma Champions League (Copa dos Campeões) e uma Liga Europa (Copa da UEFA). As conquistas minguaram, sobretudo, quando o PSV se fortaleceu e ultrapassou as fronteiras do país. A mais recente glória continental da Legião foi a Liga Europa, ainda chamada de Copa da UEFA, em 2002, vencida em cima do Dortmund, em jogo único no De Kuip.

Feyenoord Roterdã

Fundação: 19/07/1908

Estádio: De Kuip (51.177 espectadores)

Títulos: 1x Champions League (1970); 2x Liga Europa (1974, 2002); 1x Copa Intercontinental (1970); 15x Campeonato Holandês; 12x Copa da Holanda

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https://www.vavel.com/br/futebol-internacional/787251-irlanda-do-norte-52-vezes-linfield.html

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