Nesta época de reta final dos campeonatos nacionais da Europa, muitos gritos de "É campeão!" ecoam no Velho Continente. Um deles foi bastante especial: no último domingo (21), o HNK Rijeka venceu o Cibalia por 4 a 0, em casa, e se sagrou campeão croata pela primeira vez na História. De quebra, acabou com uma sequência monstruosa de 11 títulos (!) do Dínamo Zagreb, maior campeão do país.

A festa aconteceu na penúltima rodada do campeonato. Passadas 35 jornadas, o time da região do Mar Adriático soma 88 pontos e não pode mais ser alcançado pelo Dínamo, que tem 83. A liga croata tem 10 participantes e é disputada em quatro turnos. A campanha do Rijeka é quase perfeita: 27 vitórias, sete empates e apenas uma derrota.

Entre as 27 glórias, triunfos categóricos em clássicos contra Hajduk Split (em casa, 2 a 1 e 2 a 0; fora de Rijeka, 4 a 2), Istra 1961 (1 a 0 e 4 a 1 em seus domínios; 2 a 0 fora de casa) e Dínamo Zagreb (5 a 2, em casa). No caldeirão do Stadion Rujevica, onde cabem 6 mil pessoas, o aproveitamento dos Azuis e Brancos beira os 100%: empatou um jogo (1 a 1 no dérbi com o Dínamo) e venceu os outros 17.

O único revés veio na 32ª rodada: 1 a 0 para a Lokomotiva Zagreb, E de maneira dramática, com gol de pênalti aos 48 minutos do segundo tempo. Mas nada que tire o brilho de uma conquista que ficará eternamente gravada na memória do torcedor rijecki.

A epopeia

O título do Rijeka veio após goleada de 4 a 0 sobre o Cibalia (Foto: Reprodução/HNK Rijeka)

A excelente campanha do HNK Rijeka foi coroada com uma goleada incontestável contra o vice-lanterna da HNL. A equipe comandada por Matjaz Kek se aproveitou da fragilidade do Cibalia e saiu na frente com dois gols do atacante Mario Gavranovic. O primeiro, aos 11 minutos; o segundo, aos 15. Início tão avassalador quanto a performance dos adriáticos no campeonato. Ainda na primeira etapa, aos 46, Roman Bezjak, também atacante, fez 3 a 0. O zagueiro Dario Zuparic fechou a conta.

Depois do apito final, a torcida da casa seguiu o protocolo: invadiu o gramado do Rujevica e fez a festa dos jogadores. Pela primeira vez, a cidade de Rijeka era a capital do futebol na Croácia. Depois de três vices consecutivos, os Bijeli finalmente eram campeões. Antes alvo de piadas dos rivais Hajduk e Dínamo por nunca ter conquistado a primeira divisão, o Rijeka agora é motivo de aplausos de todos os clubes croatas.

O dérbi frente ao Dínamo de Zagreb, no Stadion Maksimir, na capital federal, na última rodada, servirá para cumprir tabela. Amistoso de luxo, certo? Errado. Primeiramente, "clássico é clássico", já diria o ex-atacante Mário Jardel. Em segundo lugar, o embate do próximo sábado (27) servirá como prévia da final da Copa da Croácia. A grande decisão da HR Nogometni Kup está agendada para a próxima quarta-feira (31) e terá como palco o Stadion Andelko Herjavéc, na cidade de Varazdin.

Os destaques

O italiano naturalizado nigeriano Gabriele Volpi é dono de 70% das ações do Rijeka (Foto: Getty Images)

O Rijeka tem o melhor ataque e a melhor defesa da HNL. Balançou as redes 69 vezes e foi vazado em 18 oportunidades, diferença que resulta em um saldo positivo de 51 gols. Os grandes nomes da consistência do escrete da cidade homônima são o goleiro Andrej Prskalo, os zagueiros Dario Zuparic (emprestado pelo Pescara, da Itália) e Josip Elez (emprestado pela Lazio, também da Itália), o volante Mate Males (capitão do time), os meias Franko AndrijasevicAlexander Gorgon e a já mencionada dupla de ataque formada por Roman Bezjak (emprestado pelo Darmstadt, da Alemanha) e Mario Gavranovic. Os cinco primeiros são croatas, Gorgon é austríaco, Bezjak é esloveno e Gavranovic é suíço.

O mentor do elenco é o esloveno Matjaz Kek, treinador que levou a seleção da Eslovênia à Copa do Mundo de 2010. Kek também já comandou o Maribor, clube de seu país, por quem conquistou dois campeonatos nacionais, e o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Está no Rijeka desde fevereiro de 2013. Ao todo, acumula 130 vitórias, 52 empates e 25 derrotas em 207 jogos, desempenho o qual resulta em um ótimo aproveitamento de 62,80%.

Nos bastidores, o "manda-chuva" é o empresário italiano naturalizado nigeriano Gabriele Volpi. Ele é presidente honorário do HNK Rijeka e dono de 70% das ações dos Bijeli - os outros 30% pertencem ao governo municipal. Volpi também é proprietário do Spezia Calcio, clube da Serie B da Itália, e da Pro Recco Waterpolo, clube da cidade natal de Volpi e uma das grandes potências do pólo aquático. Conquistou a cidadania nigeriana graças ao seu trabalho como empreendedor do setor de logística, nà exploração de petróleo na Nigéria.

O presidente da instituição, por sua vez, é Damir Miskovic. O empresário croata é mandatário dos adriáticos desde 2012.

Uma cidade, vários países

Torcida do Rijeka invade o campo do Stadion Rujevica para comemorar título inédito do Campeonato Croata (Foto: Reprodução/HNK Rijeka)

O Rijeka foi fundado em 29 de julho de 1946, com o nome Sportsko Drustvo Kvarner. Na época, o município de Rijeka não fazia mais parte da Itália - o país reivindicava o controle do local por alegar que a maioria da população era composta por italianos. Já integrava o território da antiga Iugoslávia, uma consequência da Segunda Guerra Mundial, encerrada em 2 de setembro de 1945. A cidade também já pertenceu ao Império Austro-Húngaro. Depois da dissolução da Áustria-Hungria, no final da Primeira Guerra Mundial, grupos militares nacionalistas-fascistas italianos ocuparam a localidade.

Quando pertencia à Velha Bota, Rijeka se chamava Fiume. A cidade, inclusive, teve um time de futebol, a Unione Sportiva Fiumana, que participou da edição 1928/1929 da Divisione Nazionale, a primeira divisão do Campeonato Italiano. Naquela temporada, o campeão nacional foi o Bologna. A Fiumana surgiu a partir da fusão de dois clubes locais, o Gloria Fiume e o Olympia Fiume, em 1926, e deixou de existir em 1945, após decreto emitido pelas autoridades comunistas iugoslavas. A agremiação vivia alternando entre a segunda e terceira divisões da Itália.

De acordo com dados de 2011, Rijeka tem 128.624 habitantes e é a terceira maior cidade da Croácia. Fica atrás apenas de Zagreb (a capital do país) e Split. Os croatas são a maioria dos habitantes da cidade (82,52%). Bósnios, italianos e sérvios também fazem parte da população local.

Força soviética e, posteriormente, croata

Mesmo tendo demorado para conquistar o campeonato nacional, o Rijeka já era um dos grandes clubes da Croácia (Foto: Divulgação/HNK Rijeka)

O SD Kvarner mudou o nome para Negometni Klub Rijeka em 1954. Quatro anos mais tarde, subiu à primeira divisão do Campeonato Iugoslavo. Permaneceu por lá até a temporada 1968/1969, quando foi rebaixado. Retornou ao primeiro escalão em 1973/1974, depois de bater na trave por cinco temporadas seguidas - incluindo quatro títulos da Divisão Oeste da Segundona.

Depois do segundo acesso à elite do futebol local, o NK Rijeka teve o final dos anos 70 como sua época dourada, Foi bicampeão da Copa da Iugoslávia (1977/1978 e 1978/1979) e conquistou uma Copa dos Bálcãs (1978). A partir daí, consolidou-se como um clube forte, embora jamais tenha conquistado o certame nacional.

Após a Guerra Civil da Iugoslávia e a independência da Croácia, o NK Rijeka alterou seu nome completo para o atual, Hrvatski Nogometni Klub Rijeka (em português, Clube de Futebol Croata Rijeka). Desde a soberania do Estado croata, o clube nunca caiu de divisão. Antes do título deste ano, suas melhores campanhas haviam sido os vice-campeonatos de 1998/1999, 2005/2006, 2013/2014, 2014/2015 e 2015/2016 e os terceiros lugares de 2003/2004, 2008/2009 e 2012/2013. Boa parte dessas campanhas é reflexo do dinheiro injetado por Gabriele Volpi.

Mas nem só de bons desempenhos na HNL viviam os Azuis e Brancos. Vieram outras taças: três da Copa da Croácia (2004/2005, 2005/2006 e 2013/2014) e uma da Supercopa Croata (2014).

As participações em competições europeias são frequentes. Os adriáticos representaram a Iugoslávia em diversas edições da Copa da Uefa (atual Uefa Europa League) e das extintas Copa Intertorto e Taça dos Vencedores de Taças. Como clube da Croácia, manteve a tradição de jogar torneios internacionais. O ponto alto foi a participação na Uefa Champions League de 1999/2000. Àquela altura, foi eliminado pelo Partizán Belgrado na segunda eliminatória. Com o título de 2016/2017, os Bijeli retornarão à maior competição interclubes da Europa em 2017/2018 - entrarão na segunda fase preliminar.