Durante a época em que o adepto de ideias retroativas Christophe Galtier permaneceu a frente do Saint-Étienne, entre o período de 2009 até o término da última temporada em meados deste ano, se tornou corriqueiro um estilo mais pragmático  praticado pelos Verts - onde a capacidade individual de certas peças no decorrer deste trabalho trouxe êxitos, como por exemplo as ascensões de Pierre-Emerick Aubameyang e Blaise Matuidi. Ademais, mesmo sendo respeitado e tendo sua passagem coroada por um título de Copa da Liga Francesa em 2012-13, o maior campeão da Ligue 1 na história nunca esteve em progressão como coletivo e estagnou a ponto de fazer campanhas medianas nos últimos anos.

Buscando evolução para voltar a competir dignamente dentro da França, a diretoria do clube optou por encerrar este ciclo com Galtier nesta temporada de 2017-18. Para mudar tal característica futebolística e conseguir padrões modernos em âmbito local, um dos técnicos mais disputados na última janela de transferências europeia, Óscar García, desembarcou à região centro-oeste do país - o espanhol que jogou no Barcelona no século passado, acumulou ótimos antecedentes treinando o Red Bull Salzburg. O baque dessa transformação era inevitável, tanto em filosofia quanto na abordagem do clube perante ao mercado. No mais, García recebeu acréscimos técnicos interessantes e soube realizar uma janela coerente e condizente com as necessidades de seu elenco.

Com relação a sequência da temporada do alviverde francês, o clube visitará uma das novidades desta edição do Campeonato Francês, o recém-promovido Troyes, no Stade de l'Aube, nesse domingo (1), às 10h de Brasília. Somando quatro vitórias, dois empates e uma derrota contando com 14 pontos ganhos nas sete primeiras rodadas da Ligue 1, a briga do Saint-Étienne na temporada, pela primeira vez em tantos anos, aparenta ser por vaga em Champions League - competição à parte entre times qualificados, como Lyon, Nice, Marseille e Bordeaux.

Contratando com critérios, Óscar García realizou um mercado coeso

Após uma temporada marcada pelo desempenho mediano de seu sistema ofensivo, que sempre foi enfatizado por jogadores autossuficientes, com pouquíssimos gols anotados neste período, era evidente uma carência no ataque da equipe - que contou com nomes que fogem das características citadas, como os estáticos Robert Berić e Alexander Søderlund. Neste cenário, o ex-Dijon Loïs Diony chegou como esperança de munição mais efetiva para resolver este problema crônico, além dele, outra peça dinâmica e capaz de decidir por conta própria chegou ao ASSE - o talentoso extremo Rémy Cabella, que portou a camisa 10 deixada pelo marroquino Oussama Tannane que, por natureza, não se encaixava na nova conduta dos Verts como equipe.

Com mobilidade e poder de fogo renovado, outro legado que já está sendo visto no trabalho de García na França até aqui é a utilização de garotos da exitosa base do ASSE - que assim como a maioria dos clubes franceses - tende a revelar talentos melhor do que contrata. Dentre os jovens que ganharam espaço nesta pequena revolução liderada pelo técnico espanhol, os principais nomes e que integram a seleção sub-21 da França, são os polivalentes Ronaël Pierre-Gabriel e Jonathan Bamba - o primeiro representante, desponta como uma das maiores esperanças para a problemática lateral-direita dos Bleus nos próximos anos.

Ademais, reforços pontuais como os de Assane DiousséSaidy Janko, Gabriel Silva, Hernani e Alexandros Katranis, representam acréscimos complementares no nível competitivo do Saint-Étienne para o restante da temporada. Em especial os dois brasileiros citados, que podem facilmente impor potência física dentro da Ligue 1 e transformar isto em vantagens para fluir o jogo proativo de Óscar García. O reflexo de vários novos nomes, em entrosamento e entendimento de ideias por parte dos atletas do clube, vem sendo proveitoso no momento - com os picos individuais prevalecendo.

Estabelecendo ideias de jogo, Saint-Étienne finalmente voltou a ser uma ameaça

Desde a estreia diante do Nice, em uma vitória convincente por 1 a 0 perante um time dos mais aclamados no futebol francês nos últimos meses, o ASSE demonstrou bases táticas um tanto quanto peculiares. Contando com perseguições individuais para marcar e movimentos proativos para desarmar e efetuar transições rapidamente, García provou ser um técnico capaz de sobressair dentre os demais do Campeonato Francês, principalmente entre os locais - que em suma, com as exceções de Christian Gourcuff no Rennes e Stéphane Moulin no Angers, pararam no tempo e enxergam o jogo de uma forma ultrapassada. 

Voltando a falar sobre o pontapé inicial do espanhol na França, o que mais impressionou foram as execuções perfeitas nos moldes reativos de recuperar e ser direto para atacar o adversário - neste contexto, um trio móvel, sem referência, formado por Bamba, Hamouma e Cabella, aparenta ser a melhor opção para o clube no cenário. Ademais, na faixa central do campo, os ingressos de Bryan Dabo, Selnaes e Dioussé podem ser essenciais para o funcionamento deste estilo de jogo brutal sem a bola e em sua vez, totalmente vertical. Com isto, o interior brasileiro Hernani, que está procedente do Zenit, perde um pouco de espaço no onze titular - tanto que recebeu poucos minutos até então.

Um dos pontos destacáveis deste início de trabalho, é a forma inteligente na qual o ASSE exerce pressão sobre o adversário: sempre em linhas médias posicionadas à frente da faixa divisória do campo, limitando as possibilidades do rival e facilitando certas recuperações de posse que por viés, são efetivadas como transições em poucos toques. Contudo, um problema enorme também está sendo evidenciado com o tempo no esboço de proposta de jogo do clube - a dificuldade em propor diante de rivais mais alinhados e defensivos, onde a atividade de zagueiros como Loïc Perrin e Theophile-Catherine acabam se tornando mais prejudiciais para o próprio time do que construtivos e efetivos nas quebras de marcação através de passes criteriosos.

Agora, resta ver até onde a primeira temporada de Óscar García no Saint-Étienne será eficiente no ponto de resultados e imposição de conceitos - com o início do trabalho sendo animador, a expectativa fica por conta do desempenho do conjunto ser mais coerente propondo o jogo com critérios. No mais, as metas para tal restante de época serão de disputa por vagas europeias, sonhando até mesmo com algo mais.