O ano de 2017 foi especial para o futebol marroquino. A seleção do Marrocos se classificou à Copa do Mundo depois de 20 anos de ausência com uma campanha irreparável: três vitórias, três empates, nenhuma derrota, 11 gols marcados e nenhum gol sofrido; tudo isso em um grupo com Costa do Marfim, Gabão e Mali. Quem também teve muitos motivos para comemorar nesta temporada foi o maior campeão do país, o Wydad Casablanca, que conquistou a Liga dos Campeões da África (CAF Champions League) e o campeonato nacional (Botola).

O caminho para o Mundial de Clubes

A campanha que rendeu aos alvirrubros o segundo título da maior competição interclubes do futebol africano foi um verdadeiro teste cardíaco para os seus torcedores. Começou com uma vitória contra o Mounana (do Gabão) nos pênaltis (5 a 4, após triunfo por 1 a 0 em seus domínios e derrota por 1 a 0 fora de casa), na fase preliminar. No Grupo D, onde enfrentaram Al-Ahly (Egito), Zanaco (Zâmbia) e Coton Sport (Camarões), os marroquinos acumularam 12 pontos (quatro vitórias e duas derrotas) e ficaram na liderança.

Era chegado o mata-mata. Logo de cara, nas quartas de final, o Mamelodi Sundowns, atual campeão. O Wydad vendeu caro a derrota de 1 a 0 na África do Sul. No Marrocos, venceu pelo mesmo placar e levou a eliminatória para as grandes penalidades, disputa na qual ganhou por 3 a 2. Depois de despachar o dono do cinturão, viu pela frente o Union Argel, vice-campeão de 2015. Segurou o empate em 0 a 0 na capital da Argélia e construiu um triunfo categórico de 3 a 1 em Casablanca.

A grande decisão reservou o reencontro com o gigante Al-Ahly, maior campeão da Champions League (oito títulos em 10 finais jogadas) e maior campeão do Egito (39 taças). Na primeira fase, tudo igual: cada um venceu por 2 a 0 em seu reduto. Mas agora era diferente. Era a final, o típico jogo que separa os meninos dos homens.

Parecia que tudo iria por água abaixo quando os Diabos Vermelhos abriram o placar do jogo de ida, logo aos três minutos. No entanto, os Reis do Marrocos não se deram por vencidos e arrancaram um valioso empate em 1 a 1 em plena Alexandria. Uma vitória simples na maior cidade marroquina - porém, não se engane: a capital federal é Rabat - bastaria para soltar o grito de campeão africano, preso na garganta desde 1992. No Estádio Mohammed V, 65 mil pessoas empurraram o Wydad Casablanca rumo ao título. Foi o dia dos sonhos do jovem atacante Walid El Karti, de 23 anos, que anotou o único gol do embate. Vinte e cinco anos depois, o lado vermelho de Casablanca é o dono da África!

Veja o gol do título:

Se você não estiver satisfeito(a) em ver apenas o gol da final, você pode conferir os melhores momentos do jogo. É possível ver como o clima de decisão deixa os narradores pilhados.

Com o título internacional, o WAC ganhou o direito de participar do Mundial de Clubes da Fifa, a ser disputado nos Emirados Árabes Unidos. O escrete vai estrear no torneio intercontinental no próximo sábado (9), contra o Pachuca, do México, campeão da CONCACAF Champions League, em Abu Dhabi. O vencedor enfrenta o Grêmio, campeão da Libertadores, na semifinal.

Esta é a primeira participação do Wydad no Mundial, pois, em 1992, ano do seu outro título continental, o torneio que reúne os campeões das seis confederações filiadas à Fifa mais o campeão nacional do país-sede ainda não existia.

Hegemonia doméstica

O 14º título de liga nacional dos Reis do Marrocos veio em grande estilo, com 19 vitórias, nove empates e apenas duas derrotas. Foram 66 pontos no total, sete a mais que o vice-campeão, o Difaâ El Jadidi. Parêntese importante: os alvirrubros não perderam um jogo sequer como visitante.

Em âmbito nacional, o clube também coleciona nove copas nacionais (Coupe du Trone; em português, Copa do Trono), da qual é o segundo maior campeão, atrás apenas do FAR Rabat (11), e cinco títulos da antiga Liga de Futebol do Marrocos, competição organizada pela Federação Francesa de Futebol entre os anos de 1916 e 1955, época em que o Marrocos ainda era colônia da França - a independência veio em 1956. A Real Federação Marroquina de Futebol não reconhece os títulos antes da independência do país.

A torcida do Wydad Casablanca é capaz de criar uma atmosfera fantástica em seu estádio. Veja:

Os destaques do Wydad

Getty Images

Apenas quatro dos 29 jogadores do elenco do Wydad Athletic Club são estrangeiros: o zagueiro burquinês Mohamed Ouattara (24 anos), o zagueiro marfinês Cheick Comara (24), o atacante nigeriano Chisom Chikatara (23) e o atacante marfinês Guillaume Nicaise Daho (22). Entre os destaques estão o goleiro Zouheir Laâroubi (33 anos), os zagueiros Amine Atouchi (25) e Youssef Rabeh (32) os meias Brahim Nekkach (35 anos; capitão do time), Salaheddine Saidi (30) e Walid El Karti (23) e os atacantes Mohamed Ounajen (25) e Achraf Bencharki (23). Nota-se que é um grupo o qual mescla juventude e experiência.

Artilheiro da última edição do Botola com 19 gols, o atacante liberiano William Jebor retornou ao Al-Nassr, da Arábia Saudita, pois o seu vínculo de empréstimo chegou ao fim. Outra transferência recente que significou uma grande perda para o Wydad foi a saída do atacante congolês Fabrice Ondama para o Club Africain, da Tunísia.

O técnico dos Reis do Marrocos é o marroquino Hussein Amotta, de 48 anos. Ele caiu nas graças da torcida alvirrubra logo em sua primeira temporada. Não é para menos: conquistou a "dobradinha" Botola + Champions League. Amotta também é querido por outra torcida de seu país: a do FUS Rabat, por quem foi campeão da Copa das Confederações Africanas (que equivale ao peso da Europa League na Europa e da Copa Sul-Americana na América do Sul, por exemplo) em 2010.

Amotta não titubeia ao frisar o objetivo do clube no Mundial de Clubes da Fifa: o maior campeão marroquino quer chegar à final, feito alcançado pelo arquirrival Raja Casablanca em 2013, quando o Marrocos sediou o certame. "Nossos jogadores poderão mostrar que são capazes de atrair olhares de grandes times europeus. O desejo deles de progredir deve nos ajudar a ter bons resultados nos Emirados. Nós buscamos a final", afirmou o treinador em entrevista ao site da Fifa.

Raja Casablanca, o grande rival

A cidade de Casablanca tem dois lados: o vermelho e o verde. Wydad e Raja sustentam uma das maiores rivalidades do futebol africano. E mundial também, por que não?

De acordo com o portal Wydad-Raja.com, o Dérbi de Casablanca já foi jogado 135 vezes. Conhecido pelos brasileiros por ter participado do Mundial de Clubes em 2000 e 2013, ocasiões nas quais foi derrotado pelo Corinthians (2 a 0) e venceu o Atlético-MG (3 a 1), respectivamente, o Raja Casablanca tem ligeira vantagem no confronto direto, com 41 vitórias e 37 derrotas. Curiosamente, o empate foi o resultado que mais se repetiu no duelo: 57 vezes.

Comparando-se os títulos, vem mais equilíbrio: são 14 campeonatos, nove copas e duas Champions do Wydad contra 11 campeonatos, oito copas e três Champions do Raja.

Esse vídeo sensacional mostra como é um dia de clássico em Casablanca: