A seleção da Holanda vive períodos turbulentos nos últimos anos. Ausente da Eurocopa em 2016 e da Copa do Mundo de 2018, com mudanças de treinadores, aposentadoria de alguns jogadores e sem revelar grandes talentos nos últimos anos, as perspectivas não são tão animadoras para as próximas gerações da Oranje. Contrário a esse momento, a equipe feminina de futebol da Holanda, as Oranje Leeuwinnen tiveram um mágico ano de 2017, coroado com o título inédito da Uefa Women's Euro, na qual foram o país sede. 

Trabalho nas categorias de base e classificação para a Copa do Mundo de 2015

Até então, a Holanda nunca havia disputado uma Copa do Mundo de Futebol Feminino. Em sua primeira Eurocopa em 2009, a equipe foi uma das gratas surpresas ao chegar as semifinais após vencer a França na fase anterior. A equipe comandada por Vera Pauw e que tinha como principais nomes Kristen van de Ven, Manon Melis, Daphne Koster e Anouk Hoogendijk, fez histórias com a boa campanha, mas não conseguiu repetir o feito na qualificação para o mundial em 2011, tendo a Noruega como sua "asa negra" na tentativa de chegar ao torneio. 

Quatro anos depois, a geração semifinalista já não era mais a mesma para a Eurocopa realizada na Suécia. Com Roger Reijners assumindo na vaga de Vera Pauw, a equipe teve uma leve renovação com a chegada de jogadoras como Lieke Martens e Daniëlle Van der Donk, mescladas com os nomes mais experientes do time. Ainda assim, a equipe deixou a desejar na competição, sendo eliminada ainda na primeira fase em um grupo complicado com Alemanha, Islândia e novamente, a Noruega, grande algoz da equipe. 

Novamente, Noruega e Holanda travaram um duelo em seu grupo para a qualificação para a Copa do Mundo Feminina de 2015, no Canadá. Com o aumento de vagas para o mundial, de 16 para 24 equipes, as Leeuwinnens se classificaram para a repescagem e após passar pela Escócia e pela Itália, disputariam a Copa pela primeira vez em sua história. 

Nesse período, o time já havia modificado seu panorama tático. Saia o 4-2-3-1 e retornaria o tradicional 4-3-3. Após uma irregular primeira fase, com uma vitória, um empate e uma derrota, a equipe foi eliminada nas oitavas de final pelo Japão, que viria a ser vice-campeão do torneio, vencido pelos Estados Unidos pela terceira vez. 

Paralelo a isso, o trabalho nas categorias de base tem sido extremamente satisfatório. Campeã da Euro sub-19 em 2014 e com três semifinais, a equipe tem crescido nas categorias 

Euro 2017: Sarina Wiegman e uma nova mentalidade para a equipe holandesa

Em 23 de dezembro de 2016, Arjan Van der Laan foi demitido pela KNVB, tendo estado no cargo de treinador da Holanda por quinze meses, após substituir Reijners. Novamente, assim como após a saída de Reijners, assumiria interinamente Sarina Wiegman, posteriormente efetivada no início de 2017. 

“Estatisticamente falando, é muito pequena a chance de sermos campeãs, mas vamos tentar”, disse a treinadora antes da estreia na Euro, diante da Noruega.

Com a missão de fazer uma boa campanha com a Holanda na Eurocopa, Wiegman não promoveu mudanças táticas para o time e sim, novas ideias e filosofia de trabalho. Após a quinta colocação na tradicional Algarve Cup e o bom rendimento em amistosos, a seleção holandesa estava preparada para a Euro, onde enfrentaria Dinamarca, Bélgica e Noruega na primeira fase. Na teoria, era um grupo extremamente complicado. 

Com competência e pulso firme, treinadora foi extremamente importante no primeiro título europeu da equipe. (Foto: Catherine Ivill/Getty Images)
Com competência e pulso firme, treinadora foi extremamente importante no primeiro título europeu da equipe. (Foto: Catherine Ivill/Getty Images)

Após três vitórias em três partidas, a equipe mostrou aspectos interessantes em campo:o 4-3-3 permanecia, mas com algumas particularidades, como laterais praticamente fixas (pouco subiam para a área), duas volantes com bom passe e armação de jogo (Spitse e Groenen), além de manter Lieke Martens como winger e não como meia armadora, papel assumido por Van der Donk. Além disso, Wiegman ainda na primeira fase tirou a então capitã, a zagueira Mandy van den Berg e colocou Stephanie Van der Gragt com o objetivo de elevar a estatura defensiva da equipe e por conta de uma lesão da titular. 

Após vitórias contra a Suécia (quartas de final) e Inglaterra (semifinais), a decisão contra a Dinamarca foi equilibrada, mas mantendo seu panorama de jogo, o título inédito veio com um 4 a 2 com excelente exibição de Groenen, Martens, Miedema e Spitse, jogadoras chaves na conquista. 

E o futuro?

Wiegman renovou seu contrato com a KNVB até 2020. A grande missão da Holanda é garantir a classificação para a Copa do Mundo em 2019 de forma direta e buscar fazer uma boa campanha na França. 

Com incentivos nas categorias de base, com estrutura, comprometimento e formando jogadoras de qualidade que após se desenvolverem na Vrouwen Eredvisie, migram para ligas de maior nível. As perspectivas de que a Holanda se encaixe entre Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra, principais potencias na modalidade é extremamente animadora, nos restando aguardar o progresso dos próximos anos.

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Sobre o autor
Bruno Bezerra
Escrevo sobre futebol feminino, futebol europeu, cearense, além de rugby e handball. Outros textos em sites como Planeta Futebol Feminino, Vavel (Reino Unido), Bundesliga Brasil e Surto Olímpico.