Encontrar jogadores que se propõem a discutir e refletir sobre o futebol atual não é uma tarefa fácil. Xavi Hernández, um dos maiores meio-campistas da história do Barcelona e da Seleção Espanhola, porém, é um ponto fora da curva. Ele, que anunciou sua aposentadoria recentemente e pretende virar treinador, concedeu uma longa entrevista ao jornal El País, onde analisou o cenário atual do futebol e criticou a onda de técnicos com características reativas.

Para Xavi, o Barcelona de Pep Guardiola (2008-2012) reformulou o futebol e obrigou os adversários a copiarem o estilo de jogo ou criarem uma antítese para poder superá-lo. O expoente da segunda alternativa, na visão do ex-atleta, é Diego Simeone, atual treinador do Atlético de Madrid.

"[no Atlético de Madrid] estão jogadores talentosos como Koke fechados atrás, diminuindo os espaços, tentando acabar com as superioridades. O futebol explorou o físico e a tática. Agora o que falta explorar é a técnica, o porquê de as coisas acontecerem, o como atacar. Isso é o talento! E ainda não está suficientemente desenvolvido. Porque no futebol de alto nível existem mais Simeones do que Guardiolas", observou.

Xavi usou o exemplo da Premier League, campeonato cujo líder é o Manchester City de Guardiola – 15 pontos à frente do segundo colocado, Manchester United –, para corroborar sua análise de que o estilo de jogo contra-ofensivo aumentou nos últimos anos.

"Pode ver na Premier League: quais equipes jogam como Guardiola? Três? Quatro? E quais equipes jogam como Simeone e te deixam o controle da partida? 70%. No Campeonato Espanhol acontece a mesma coisa. A desculpa desses técnicos é: 'Eu não posso competir contra o Manchester City e o Barcelona'. Mas fazem a mesma coisa contra o Leganés!", destacou.

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Segundo Xavi, os técnicos de times de menor porte precisam ser mais atrevidos contra as equipes mais qualificadas; isto é, marcar com linha alta e sufocar a saída de bola do adversário, de modo a impedir que o goleiro e os zagueiros ganhem campo e construa o jogo.

Xavi e Guardiola durante treino do Barça, em 2009 (Foto: Jasper Juinen/Getty Images)
Xavi e Guardiola durante treino do Barça, em 2009 (Foto: Jasper Juinen/Getty Images)

"Guardiola começou a dominar as partidas [na Premier League], e disseram: 'Certo, vou deixar a bola e só correr atrás'. E falta explorar o domínio de jogo. Ter mais atrevimento. Eu estou em um time pequeno, e se jogo contra o Barcelona o que quero é tirar a bola do Barcelona. A pergunta é: como me defendo do Barcelona? Como Paco Jémez [técnico do Las Palmas]: vou adiantar a pressão na saída de bola deles. Se você der campo, Ter Stegen joga com Piqué, Piqué sobe ao meio-campo, e para mim é morte anunciada", sublinhou.

Xavi defende que os jogadores são parte essencial dessa engrenagem e, portanto, o conhecimento torna-se fundamental para obter êxito no futebol atual. "Mais do que mudanças de posição, devemos falar de entendimento. Não precisamos ensinar o jogador a mudar de posição, e sim a entender as coisas", refletiu.

O ex-jogador ainda comparou o nível do futebol praticado hoje em dia ao futebol americano. "O futebol se tornou algo parecido com o futebol americano. Nada mais é por acaso", argumentou.

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