Um dos fatores mais relativos e discutidos durante toda a história do futebol certamente é a injustiça. Tal como esta palavra é associada a problemas de nosso cotidiano, a mesma é bastante recorrente quando citamos a carreira de determinados jogadores.

Uns foram ofuscados pela ampla competitividade e o brilho de jogadores brilhantes de suas épocas, como Djorkaeff e Hagi; outros, historicamente marcados por falharem em momento determinantes como o goleiro Barbosa do Maracanazo em 1950, e o personagem do texto em questão.

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Detentor de uma Bola de Ouro, único jogador italiano a disputar três Copas do Mundo e um dos poucos que atuou por Juventus, Milan e Internazionale, Roberto Baggio é até hoje marcado pelo pênalti desperdiçado em 1994, que garantiu o tetracampeonato mundial a Seleção Brasileira. Contudo, seu desempenho pela competição mais importante de todas vai bem além desta falha.

1990: A jovem promessa

Baggio iniciou sua carreira pelo modesto Vicenza, ainda com seus 13 anos de idade. Destaque desde as categorias de base, o então 'italianinho' chamou logo a atenção dos grandes clubes do país, assinando em 1985 com a Fiorentina. Por conta de uma grave lesão, ele só começou a atuar mesmo pelo clube viola no ano seguinte. 

As temporadas subsequentes serviram para a afirmação de Roberto Baggio em solo italiano. Desempenhos fantásticos garantiram a presença do jovem atleta na Copa do Mundo de 1990, realizada onde? Na Itália, claro...

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Mesmo terminando em decepção, a Copa de 90 subiu o patamar de Baggio na Europa

Divino começou a competição como opção no banco de reservas, e foi destaque na última partida da fase de grupos, diante da Tchecoslováquia, ao marcar um gol antológico na vitória italiana por 3 a 0. O gol unido de um grande desempenho em campo garantiu Baggio entre a equipe que iniciaria as próximas partidas, nas vitórias diante Uruguai e Irlanda nas oitavas e quartas de finais respectivamente, e na semi diante da Argentina de Maradona. No duelo em Nápoles, vitória hermana nas penalidades e o fim do que seria então o tetracampeonato italiano.

Roberto despontava pela primeira vez como um ídolo nacional (Foto: Getty Images)
Roberto despontava pela primeira vez como um ídolo nacional (Foto: Getty Images)

1994: O maior trauma

Após a queda em 90, Baggio mesmo deixou de ser promessa e passou a ser uma grande realidade na Itália, acertando logo após o fim do torneio mundial com a poderosa Juventus de Turim, clube que mais vestiu a camisa durante toda a sua carreira (mais de 300 vezes). Contudo, o acerto foi contra sua vontade, o que causou uma sequência de problemas em seus primeiros meses pela Velha Senhora. O que logo se resolveu.

Pela Juve, Baggio foi artilheiro por três vezes da Uefa Champions League

Atuações de gala, artilharia, e Baggio elevou o nível da Juve no início da década de 90. O ápice aconteceu na antiga Uefa Cup (atual Uefa Europa League) de 1992/93. A Juventus venceu as duas partidas da decisão contra o Borussia Dortmund, sagrando-se campeã da competição. Não tinha como negar: Roberto Baggio era o maior da Europa naquele momento! O jogador conquistou a Bola de Ouro (que não era levada por um italiano desde Paolo Rossi) e foi para a Copa dos Estados Unidos com status de protagonista. 

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No início da competição, nada de empolgação. Uma derrota, uma vitória e um empate contra Irlanda, Noruega e México respectivamente, classificando-se apenas como um das melhores terceiras colocadas. Em seguida, Baggio começou a brilhar. Em mais uma partida fraca dos italianos a equipe precisou que Divino marcasse duas vezes: primeiro de pênalti para igualar tudo no tempo normal; e em seguida, na prorrogação para garantir a classificação diante da Nigéria

Seu 'xará', Dino Baggio, também brilhou ao lado de Roberto em 94

Nas quartas de finais, veio a Espanha de Luis Enrique e Guardiola. O empate em 1 a 1 perdurou até os instantes finais, quando Baggio novamente brilhou, marcando o segundo gol italiano, garantindo sua equipe entre as quatro melhores nos Estados Unidos. 

A Bulgária do lendário Stoichkov seria a adversária da Itália na semifinal, e jogo trouxe duas notícias extremas para o lado azul desta história: o ponto positivo foi que Baggio marcou duas vezes no primeiro tempo, assegurando a vitória que se confirmaria depois em 2 a 1; a má, é que Roberto se lesionaria no segundo tempo, fazendo-o atuar no sacrifício na decisiva partida seguinte.

A final todos nós sabemos: a Itália de Baggio enfrentaria o Brasil de Romário. Em um jogo truncado, sem muitas chances claras ou jogadas brilhantes, a partida foi decidida nos pênaltis, e Baggio seria novamente o nome do jogo, mas negativamente. Desta vez. Divino isolou sua cobrança quando a contagem marcava 3 a 2 para o Brasil, e o tetracampeonato finalmente chegou... mas para a seleção canarinho!

O fatídico chute na decisão no Rose Bowl (Foto: Getty Images/Henri Szwarc)
O fatídico chute na decisão no Rose Bowl (Foto: Getty Images/Henri Szwarc)

1998: Recorde e adeus!

Diante de mais um fiasco nos Estados Unidos, Baggio voltou a sorrir vestindo a camisa da Juventus mais uma vez. Diante de mais alguns títulos alcançados, o jogador mudou de ares novamente em 1995/96: quando se transferiu para o Milan

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Baggio decaiu de rendimento atuando pelo Diavolo, perdendo assim um pouco de seu espaço na Seleção Italiana. Há um ano da Copa do França, deixou Milão e se transferiu para o Bologna, onde se destacou na temporada 1997/98, retomando a confiança do comandante Arrigo Sacchi e garantindo assim sua vaga na Copa.

Foi com o pênalti anotado diante do Chile que Baggio se tornou o único italiano a marcar em três edições de Copa do Mundo

Na França, Baggio terminou sua primeira partida da mesma forma como deixou a Copa dos Estados Unidos, mas desta vez, com um desfecho feliz. Baggio converteu sua penalidade que garantiu a vitória italiana diante do Chile na estreia da Copa, por 3 a 2.

Na partida seguinte também no triunfo diante da Áustria por 2 a 1, e depois, só voltou nas quartas, diante da dona da casa: a França. O placar inalterado no tempo normal e uma decisão nos pênaltis não traziam boas lembranças à Baggio, que até converteu sua cobrança, mas o mesmo não pode-se dizer de seus companheiros, que fizeram o ícone se despedir das Copas com uma eliminação nos penais por 4 a 1.

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Mesmo em baixa, Baggio conquistaria um feito para poucos em sua volta à Itália, quando assinou com a Internazionale, afirmando assim sua passagem pelos três grandes da Itália. Mas novamente, sem grandes atuações. Em 2000, chegou ao Brescia, onde ficaria pelos próximos quatros anos, tornando-se ídolo máximo do clube e aposentando-se em seguida.  

O adeus de Divino! (Foto: Getty Images/Stu Forster)
O adeus de Divino em mundiais! (Foto: Getty Images/Stu Forster)