O futebol é uma coisa maravilhosa, né? Sempre dizem por aí que é impossível não se apaixonar por esse jogo e eu concordo. E eu acho que posso dizer com certa tranquilidade que hoje eu vivo o dia mais feliz da minha vida como torcedor da Roma.

Sim, sou jornalista. A gente tem esse negócio de que evita falar o time. Mas todo mundo entrou pro ramo do jornalismo esportivo por causa -ou culpa - de um time. Como membro da "geração Playstation", eu tenho um time europeu. Fugindo um pouco do padrão, eu torço pra Roma.

E acho que essa é a relação mais conturbada que eu já vivi. Desde 2006, eu visto com um orgulho imenso o vermelho e amarelo da Associazione Sportiva Roma. Ninguém entende direito como é que eu gosto de um time que nem tem tanto destaque assim. Tem tradição, é verdade, mas faltam títulos. Só que nada disso importa quando a gente ama um clube. Critiquem o que quiserem, falem que é babaquice e bobagem essa história de torcer pra time europeu. Tô nem aí.

Eu sinceramente tava desacreditado. Como jornalista, analisando o que aconteceu em campo, até gostei da atuação no jogo da ida. Mas o 4 a 1 foi um baque enorme. Eu tava triste demais porque achei injusto toda vida. Considerando que a Roma sofre com problemas psicológicos desde 2013/14, pra mim o 3 a 0 na volta era 99% impossível.

E provavelmente era mesmo. Mas não tem impossível no futebol. Eu ainda nem tava em casa quando Dzeko abriu o placar. Até ali, eu não botava muita fé. Mas ali, amigo....ali eu incorporei o torcedor que existe em mim. Até o pênalti sobre o mesmo Edin, eu ainda tava conseguindo analisar alguma coisa, falando das linhas de marcação e da tática PERFEITA que Eusebio Di Francesco - quem diria - montou.

Depois que De Rossi converteu, eu sinceramente esqueci a parte jornalista e virei 100% torcedor. Pedi perdão ao Daniele por todas as críticas e pedidos de aposentadoria. Foi impossível ficar sentado.

Desculpa pelas críticas, ídolo. Você é um dos motivos pelos quais eu torço pela Roma (Foto: NurPhoto/Getty Images)
Desculpa pelas críticas, ídolo. Você é um dos motivos pelos quais eu torço pela Roma (Foto: NurPhoto/Getty Images)

Com o gol de Manolas, esquece. Foi o gol que todo romanista sonha em ver há anos. Talvez décadas. Foi gigante. Gigante como um zagueiro grego subestimadíssimo. Se falasse espanhol e jogasse pelo Barcelona, seria reverenciado a todo instante.

Eu não sei se era mais Manolas ou Under. Mas só sei que, ali onde eu chorei, qualquer um chorava (Foto: Lluis Gene/AFP/Getty Images)
Eu não sei se era mais Manolas ou Under. Mas só sei que, ali onde eu chorei, qualquer um chorava (Foto: Lluis Gene/AFP/Getty Images)

Quando o juiz finalmente apitou o fim do jogo, eu sinceramente não tive reação. Eu vi todo mundo comemorar, os jogadores do Barça desolados. Mas eu tava sem reação. A ficha levou uns 15 minutos pra cair. E só aí eu chorei. Tô chorando até agora. O que vier pela frente não importa. De verdade. Se tomarmos 7 a 0 nas semifinais, eu não ligo. Já fizemos uma das histórias mais épicas do futebol mundial.

A relação de praticamente todo torcedor que eu conheço da Roma é de amor e ódio a esse time. Sei lá quantas vezes já disse a frase "eu odeio amar a Roma". Por repetir tanto essa frase, não sei como consegui fazer uma namorada se tornar romanista. Mas hoje eu só amo. Eu já vi esse time tomar 7 a 1 do Manchester United em 2007. Eu vi os giallorossi tomarem outro 7 a 1 do Bayern em 2014. Já vi muito vexame, muita "romada". Vi o maior rival ganhar a Copa Itália em cima da gente em 2013. Cara, a gente foi vice da Champions DENTRO DE CASA em 1984. Perdendo nos pênaltis para o Liverpool.

Mas hoje, nada disso importa. A Roma é semifinalista da Champions League 2017/18, revertendo uma desvantagem de 4 a 1, com gol aos 35 minutos do segundo tempo. Com atuação gigantesca de uma de suas bandeiras (pena que Totti já se aposentou. Podia ter saído das tribunas só pra bater o pênalti). Ganhando do todo poderoso Barcelona, invicto em La Liga. O Barça de Messi, que nada conseguiu fazer no Olimpico.

Se não somos gigantes - sei lá, cada um com suas ideias - hoje fomos. Imensos. Do tamanho da história da Cidade Eterna. Como diz nosso hino: minha Roma, você nasceu grande. E grande há de seguir.

"Roma, Roma mia.
Nun te fà 'ncantà
Tu sei nata grande
E grande hai da restà"

Hoje, mais do que nunca: GRAZIE ROMA!