O futebol é um dos poucos esportes – talvez o único – que consiga juntar em um confronto dois times de realidades tão opostas e protagonistas de extremos, viventes de situações tão paralelas e incomparáveis que parecem fazer parte de um mundo completamente paralelo. Quando se trata de um dos maiores clubes da França e com um dos maiores poderes aquisitivos e valor de mercado no mundo do futebol, a situação fica ainda mais inviável de acontecer.

Mas o futebol proporciona episódios interessantes e exclusivos, onde é registrado o momento único e histórico: o duelo de uma equipe com estrutura e elenco qualificados contra um time esforçado e de poucos recursos. Ambos buscam fazer parte da história – não apenas individual, mas do futebol francês.

A partir das 16h05 desta terça-feira (8), no monumental Stade de France, o gigante Paris Saint-Germain enfrenta o pequenino Les Herbiers, da terceira divisão do país, pela final da Copa da França. De um lado, o maior vencedor do torneio: são 11 títulos obtidos e o quarto consecutivo é objeto de desejo. Do outro, um modesto clube que alcança o maior feito de sua história quase centenária.

Maior façanha

Embora seja fundado em 1919, o Les Herbiers tem pouca tradição nas principais divisões francesas. Em sua galeria de troféus, estão acumuladas conquistas de divisões regionais, bastante inferiores no país. O time disputa atualmente a terceira divisão, ocupa o 13º lugar dentre 17 participantes e nunca esteve perto de subir à Ligue 2. Pelo contrário, esteve mais ameaçado de rebaixamento. Mas a Copa da França foi um ponto fora da curva. Foram sete fases disputadas até chegar à decisão. O clube superou Balma (3 a 0), Romorantin (2 a 1), Angouleme (2 a 1 na prorrogação), Lô Manche (2 a 1), Auxerre (3 a 0), Lens (4 a 2 nos pênaltis após 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação) e Chambly (2 a 0). É a grande oportunidade de estar na seleta lista dos vencedores de um torneio nacional.

Franck Fipe/AFP/Getty Images

O técnico dos Diabos Vermelhos, Stéphane Masala, deixou bem claro que todo o cenário da partida é tão importante quanto os 90 minutos da grande final. O encontro entre o maior campeão da década e um clube de pequenas proporções resume o que é a essência do esporte, segundo o ponto de vista do treinador.

“Esta é a publicidade mais bonita que pode ser feita na Copa da França. É uma grande final porque reúne todo o futebol, amador e profissional. Às vezes, temos o hábito de dividi-los, de se opor a eles, mas amanhã será o festival do futebol com um F maiúsculo. Haverá talento, estrelas, mas também coração e solidariedade. Nossa vida mudou, somos tratados como estrelas. As pessoas costumam nos dizer para aproveitar, curtir, divertir. Para os competidores que nós somos, significa lutar, observar seu oponente nos olhos e enfrentá-los”, afirmou Masala.

Apesar de ampla disparidade, respeito

É injusto comparar Paris Saint-Germain e Les Herbiers. As equipes estão separadas por um abismo. Enquanto um disputa a terceira divisão e tem pouquíssimas conquistas, o outro lado do confronto traz uma equipe ambiciosa, bilionária e de alcance mundial, com fãs em todas as partes do planeta. O PSG busca a conquista da tríplice coroa, a segunda em três anos, e o quarto título nacional na temporada. O time conquistou a Supercopa da França em 2017, garantiu mais um título da Copa da Liga Francesa e faturou o sétimo título da Ligue 1 da sua história. Embora o projeto montado para a conquista da Uefa Champions League tenha falhado, o clube permanece soberano em seu país.

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Entretanto, não há motivos para entrar sem responsabilidade. Em clima de despedida, uma vez que vai deixar o comando técnico do time em algumas semanas, o treinador Unai Emery deixou bem claro que a rotina de treinamentos e de observação da forma como o adversário joga foi mantida. Para Emery, todo o respeito deve ser dado, uma vez que não considera finais de torneios com facilidade, independentemente do adversário.

“Temos uma grande oportunidade para ganhar um título, mas tem que ter cuidado. O Les Herbiers merece estar na final e é o charme da Copa da França permitir que todos sonhem em levantar este troféu. Do nosso lado, nós preparamos esse jogo como em todos os outros; ou seja, com análise de vídeo do adversário, em seguida, a implementação tática no treinamento. Meus jogadores são muitos profissionais e estão cientes de que este não é um jogo como nenhum outro, mas uma boa final para ser vencida. Todas as finais são difíceis”, pontuou o técnico do PSG.