No futebol, ultimamente, visando o sucesso definitivo para os times em geral, tem-se criado uma fórmula para alcançar tal feitio, organizada de fora de campo em direção às quatro linhas. O argumento principal se baseia em "planejamento" das diretorias das instituições, que forma um ambiente arrumado resultante no almejo de conquistas.

No entanto, quando esse paradigma é quebrado, se fala sobre as "emoções do futebol", que, de fato, é um esporte para lá de surpreendente. Um desses casos está ocorrendo com a Croácia, finalista da Copa do Mundo 2018, comandada por Zlatko Dalic, técnico que está há apenas nove meses na equipe e possui 13 jogos de experiência no cargo, sendo seis deles na Rússia.

Dalic foi convidado para exercer a função no ano passado, às vésperas de um importantíssimo confronto válido pela última rodada das Eliminatórias para o Mundial, diante da Ucrânia, fora de casa. O recém-chegado ao menos pôde convocar sua seleção e acordar bases de contrato, mesmo assim, conseguiu o triunfo por 2 a 0 e encaminhou sua seleção para a Repescagem da competição, onde garantiu a passagem para Rússia, diante da Grécia.

Foto: Divulgação/FIFA
Foto: Divulgação/FIFA

No emocionante confronto diante dos ucranianos, um detalhe especial: o treinador teve seu primeiro contato com os jogadores apenas 48h antes da partida, no aeroporto rumo à Kiev. Somente após a classificação, Dalic se reuniu com dirigentes e acertou suas definições do vínculo, com bases salariais sete vezes inferiores ao comandante de sua próxima adversária equipe, Didier Deschamps.

Poucos treinadores aceitariam a tentativa de cumprir a difícil missão, porém, Dalic não é apenas um treinador comum. Há 20 anos, na primeira participação da Croácia em Mundiais, o hoje treinador partiu para a França e observou de perto as três primeiras partidas na competição. No entanto, como ainda era um jogador em ativa, teve de retornar ao seu país e à pré-temporada de seu clube, na época, o Hadjuk Split. O técnico comentou sua decisão de assumir a seleção em situação delicada:

"Não houve negociação, não houve mensagens trocadas. Eu apenas aceitei. Porque era o sonho de uma vida. Eu não tinha dramas, não tinha dilemas, eu não queria nem assinar um contrato. E assim foi", disse o treinador.

Dalic comemora classificação para final com Modric, craque croata. Foto: FIFA/Getty Images
Dalic comemora classificação para final com Modric, craque croata. Foto: Divulgação/FIFA

Após a histórica campanha, Zlatko Dalic e seus comandados são considerados heróis nacionais pela população atualmente. O futebol no país passa por diversos problemas de infraestrutura, fazendo com que a maioria dos jogadores tenha de sair do país para exercer a profissão em alto nível - apenas dois atletas da seleção atuam na Croácia. Em entrevista, o treinador fez questão de exaltar o feito na diante das dificuldades apresentadas:

"Quando você olha as condições e a infraestrutura que nós temos, nosso resultado é um milagre. Daqui a três meses vamos jogar contra a Espanha e Inglaterra pela Liga das Nações e não temos um estádio apropriado para jogar. Somos um milagre. Este talvez seja um dos grandes feitos esportivos da história da Croácia", afirmou Dalic.

A exposição momentânea de Zlatko Dalic serve para alertar sobre a falta de treinadores croatas no cenário futebolístico europeu. Mesmo com o crescente rendimento do futebol local, plantando frutos que resultam em excelentes jogadores para os grandes times do continente, ainda é raro ver equipes comandadas por integrantes do país. Dalic aproveitou para repudiar a situação e chegou a fazer audacioso desafio:

"Nós não somos respeitados na Europa, embora tenhamos grandes resultados. Temos grandes técnicos croatas e eles são subestimados. Eu comecei por baixo, nada veio de graça na minha vida. Muitos técnicos começam em grandes times por causa do nome que tinham como jogadores. Me dê o Barcelona ou Real Madrid e eu vou ganhar títulos", disse Zlatko Dalic.

Jogadores croatas classificam classificação ao fim da partida contra Inglaterra. Foto: FIFA/Getty Images
Jogadores croatas classificam classificação ao fim da partida contra Inglaterra. Foto: Divulgação/FIFA

É importante citar que organização numa instituição de futebol tem total importância para o sucesso, tendo diversos exemplos no Brasil do que pode ocorrer em caso de burlar a indicação. Porém, o futebol ainda reserva situações inesperadas, que fazem despertar ainda mais a paixão dos fãs pelo esporte. O caso da federação croata não é exemplo a ser seguido, no entanto, causou resultado que nem mesmo o mais detalhista dirigente de qualquer instituição poderia esperar, podendo resultar em ainda mais, num inédito título de uma seleção com apenas cinco participações, batendo uma tradicionalíssima equipe, como a França.

A final entre as equipes ocorre neste domingo (15), ao 12h, no Estádio Lujniki, em Moscou.