Dois pontos em nove disputados. Quem não acompanha a Copa América pode até criticar o Japão se baseando apenas nos dois empates e na derrota pelo Grupo C. Se analisarmos bem os números da seleção japonesa veremos que os nipônicos não foram meros figurantes na competição sul-americana, além dos destaques individuais que acenderam.
Goleada por 4 a 0. Dessa forma negativa o Japão estreou na Copa América. O placar tão elástico não foi condizente com o que realmente os japoneses mostraram no Morumbi. Depois, o 2 a 2 com o Uruguai elevou o status asiático na competição, já que o jogo foi equilibrado e polêmico em relação ao VAR. E no fechamento da fase de grupos, o confronto direto com o Equador por uma vaga nas quartas, foi justamente quando o maior problema dos samurais veio à tona: a perda de gols.
Cria, mas não aproveita
Saindo da Copa América sendo a terceira equipe que mais finalizou na primeira fase, o Japão demonstrou seu alto poderio de criação de jogadas. Foram 39 finalizações (o líder no quesito é o Brasil, com 54), o mesmo número que a 100% Colômbia e o classificado Peru. Argentina (36), Chile (34) e Paraguai (25) avançaram às quartas tendo menos chutes que o eliminado Japão.
Esse foi o grande ponto de destaque da seleção treinada por Hajime Moriyasu, a quantidade de oportunidades criadas para finalização. Entretanto, se o setor de criação é só flores, o de definição das jogadas, o ataque, é só espinhos.
De todas as 12 seleções que marcaram presença na primeira fase, a japonesa ficou empatada com a peruana como as menos eficientes para concluir as jogadas em gol. Abaixo, está o ranking de "Chutes para marcar um gol", ou seja, o Japão precisa chutar 13 vezes para poder marcar um mísero gol — é um número muito ruim.
Fonte: Footstats
Com essa ineficiência do ataque, os japoneses ficaram de fora do mata-mata da Copa América, mas o treinador nipônico já sabe qual lição de casa precisa fazer para as próximas competições: corrigir a pontaria.
Defesa que não desarma
Se do meio para frente a seleção oriental tem pontos a serem elogiados, do meio para trás o time não tem o mesmo desempenho. Tanto Osako (goleiro diante do Chile) quanto Kawashima (titular nos outros dois jogos) fizeram 19 defesas, fazendo com que o Japão fosse a seleção que o goleiro mais trabalhou. E no mundo do futebol, o ditado "quando o goleiro trabalha muito significa que a zaga joga mal" é muito mais que certo.
Outro quesito que exalta o bom trabalho dos sistemas defensivos é a quantidade de desarmes — o que não é o caso dos japoneses. A equipe de Hajime Moriyasu é a última nesse critério. Em três jogos, fez apenas 31 desarmes certos. Vale lembrar que o líder desse ranking é o Uruguai, com 56. O Brasil é apenas o oitavo, com 40.
Meio de campo organizado
Os Samurais jogam no 3-5-2, almejando muito o domínio do meio de campo. O grande "mente pensante" do time nipônico é o camisa 7 Gaku Shibasaki. Todas as jogadas passam pelo jogador de 27 anos, do Getafe-ESP. "Shiba", como é apelidado pela torcida, tem a característica de acelerar e esfriar o ritmo de sua seleção, e ele foi o sétimo jogador que mais deu passes: 178 (líder é o Daniel Alves, com 221).
Olha o Japão, uma seleção que tem Gaku Shibasaki como o grande maestro do time. Camisa 7, capitão, habilidoso, com visão de campo, calmo e organizador: excelente meio-campista. 🇯🇵 #CopaAmerica pic.twitter.com/LbvyP36X3l
— Repórter Leonardo José #CopaAmerica (@ReporterLeoJose) June 21, 2019
Assim, o conjunto japonês é o quarto que mais troca passes: 1.122, só atrás de Brasil (1.830), Argentina (1.339) e Colômbia (1.209).
Lição pós-Copa América
Sabendo de todos os pontos levantados, a seleção japonesa, que tem uma média de idade acerca de 22 anos, não mostrou um péssimo futebol, mas também não encheram os olhos do público. O setor de meio de campo nipônico foi o grande diferencial da equipe. Nakajima, Shibasaki e Kubo (recém-contratado pelo Real Madrid) foram os grandes nomes do país na América do Sul e precisam ser lapidados para a sequência da cerreira.
Hajime Moriyasu também precisa achar soluções rápidas para a volância asiática, que deixa os armadores adversários pensarem jogadas. No mais, além da falta de pontaria, o time do Japão precisa ter a famosa "malícia do futebol" para bater de frente constantemente com fortes equipes nacionais.