Presidente do Schalke 04 desde 2001, Clemens Tönnies demonstrou seu lado racista no evento do Dia do Ofício, em Paderborn, no começo de agosto. Dono da empresa Rheda-Wiedenbrück, o empresário do ramo alimentício causou reações de personalidades da Alemanha que lutam contra preconceito e xenofobia.

Na ocasião, um dos temas do discurso de Tönnies foi a possível instituição de um imposto para combater as mudanças climáticas, principalmente em países africanos. Ao invés de incentivar o briga contra o efeito estufa, Tönnies propôs o financiamento e construção de 20 usinas elétricas na África a cada ano. Mas, o pior ainda estava por vir.

Ele justificou sua proposta dizendo: "Assim, os africanos parariam de derrubar árvores e de fazer crianças quando fica escuro", fazendo alusão à iluminação noturna para diminuir a taxa de natalidade africana no futuro.

No entanto, o público do evento (cerca de 1.600 pessoas) pouco se mostrou indignado com o preconceito destilado pelo presidente dos Azuis Reais. Não houve vaias ou sequer uma gesto de protesto. Nem o arcebispo, convidado de honra, Hans-Josef Becker, sentado na primeira fila da plateia foi capaz de conter a fala ou se revoltar publicamente contra Tönnies. Surpreendentemente, grande parte das pessoas ainda aplaudiram o racista que estava no palanque.

Para colocar panos quentes, Clemens Tönnies pediu afastamento do cargo no clube após repercussão internacional. O Conselho da equipe de Gelsenkirchen aceitou o pedido de licença, mas declarou que a acusação de racismo era "infundada". Vale lembrar, que o S04 tem em seu estatuto um artigo que repudia qualquer forma de xenofobia ou preconceito.

Há quem se mostra indignado com o racismo

Ex-jogador de FC Köln, Wolfsburg, Stuttgart e Bayern de Munique, Pablo Thiam nasceu em Guiné e cresceu em Bonn, cidade do leste alemão. Atualmente, ele dirige a base do Wolfsburg, além de ser responsável pelo setor de integração do clube, que luta contra qualquer tipo de discriminação e racismo. Logo, Thimas demonstrou sua indignação dizendo que pequenas desculpas não bastam, cobrando atitudes de Tönnies.

"Estou estupefato. Simplesmente me faltam palavras. Nem sei o que dizer. Com seu discurso, o presidente do Schalke contraria frontalmente todo trabalho que estamos desenvolvendo pelo diálogo e pela integração de migrantes e refugiados."

"São desculpas de meia-pataca. Por acaso ele se desculpou com a população africana que insultou? Não. O seu pedido de desculpas se dirigiu exclusivamente aos próprios alemães. Nenhuma palavra sobre os africanos alvos da sua manifestação."

Thiam é figura importante no futebol alemão para a projeção de causas sociais (Foto: Reprodução / Wolfsburg
Thiam é figura importante no futebol alemão para a projeção de causas sociais (Foto: Reprodução / Wolfsburg)

Hans Sarpei, que também tem origem africana, já foi jogador do Schalke e foi outro ex-futebolista que se manifestou publicamente.

"Do clube e do senhor Tönnies espero que as palavras sejam seguidas por ações. É preciso se distanciar claramente de toda e qualquer discriminação e xenofobia. O presidente deve pedir desculpas publicamente a todos os africanos."  

Medida correta de um fã famoso

Peter Lohmeyer, celebridade de cinema na Alemanha, é também um dos mais famosos fãs de carteirinha do Schalke 04. Porém, depois do racismo praticado contra os africanos pelo presidente do clube, Lohmeyer decidiu não fazer mais parte do quado de sócios da equipe azul.

"Faço isso porque sou fanático pelo Schalke, clube que sempre esteve na vanguarda e na luta contra discriminação e racismo. Tenho muito orgulho disso. Agora vem um açougueiro rico e questiona essa postura. O clube sempre se orgulhou de mostrar o cartão vermelho para palavras e atos racistas. Quem contraria esse preceito não é Schalke de coração. Está lá por outros motivos; quiçá por interesses pessoais."

Torcida pede a renúncia de Tönnies

Em jogo da Copa da Alemanha, a torcida azul pediu a renúncia do presidente ao expor faixas com os dizeres: "Tönnies raus!", que significa "Fora, Tönnies!".

Schalke foi à Baixa Saxônia e venceu o Drochtersen/Assel por 5 a 0 sob protestos (Foto: Reprodução / Arquivo Público)
Schalke foi à Baixa Saxônia e venceu o Drochtersen/Assel por 5 a 0 sob protestos (Foto: Reprodução / Arquivo Público)

Algo que há de se observar no mundo do futebol, é a grande falta de pronunciamentos de outros clubes grandes da Alemanha. Diretores esportivos influentes, como Watzke, do Borussia Dortmund, ou Rummenige e Hoeness, do Bayern, não disseram à mídia ao menos uma palavra sobre o episódio racista. Logo esses três, que, sob holofotes, exuberam comentários sobre responsabilidades sociais.

O que se toma de lição

É fato que em nenhum momento podemos chamar o clube em si de racista, nesta ocasião — longe disso. Ainda mais quando se percebe o grande movimento dos adeptos azuis, tanto na Alemanha quanto no Brasil, através de fã-clubes, repudiando Clemens Tönnies.

Em contrapartida, é de se espantar o silêncio das diretorias de outro clubes europeus numa era em que o combate ao preconceito racial e à xenofobia precisa ser amplamente destacado.

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