Nesta segunda-feira (06), o brasileiro Mazola conversou conosco da VAVEL Brasil sobre o futebol no Irã, os hábitos dos estrangeiros no país islâmico e a preocupação após o ataque dos Estados Unidos. Aos 30 anos de idade, o atleta acumula passagens pelo Figueirense-SC, Ceará, CRB-AL e São Bento-SP antes de embarcar rumo ao território árabe.

O ataque dos estadunidenses, na última sexta-feira (03), aumentou a tensão no Oriente Médio. Por ordem do presidente Donald Trump, o comboio que levava o Qassem Soleimani bombardeado por mísseis e resultou na morte do principal chefe militar do Irã. Como reação, o líder supremo do país, Aiatolá Ali Khamenei, prometeu vingança e disse que nenhum estrangeiro norte-americano era bem-vindo no território iraniano. Diversos países se pronunciaram sobre o caso, entre eles o Brasil, e tentaram amenizar a situação.

No Brasil, o ataque norte-americano e as notícias sobre o caso fez com que muitas pessoas ficassem preocupadas com uma possível terceira guerra mundial. Diversos comentários foram feitos em redes sociais, vários memes foram produzidos e divulgados na internet. Todos estes fatores deixaram os brasileiros que vivem no Irã em estágio de atenção. Mazola, que joga no Tractor Sazi (IRN) e está de férias no Brasil, opinou sobre o assunto. 

“Os iranianos são muito fechados e não discutem tudo abertamente. Não sei, por exemplo, o que eles pensam sobre os Estados Unidos. Por outro lado, eles tratam muito bem os brasileiros. Admiram o nosso jeito de ser e de se relacionar. Então, estou esperando o desfecho dessa situação para saber se terá condições de voltar. Eu moro em uma cidade pequena, em um hotel que me dá todo suporte, isso me deixa mais seguro. Desde que cheguei lá percebi que eles se preocupam bastante com o bem-estar dos atletas, então, acredito que se tiver algum problema com a segurança não vão colocar os jogadores e os torcedores em risco. Acredito que o melhor é esperar o desfecho de tudo isso e torcer para que acabe tudo bem. Não recebi nenhuma proposta concreta ainda e até o momento volto para o Irã. É claro que se surgisse a oportunidade de ficar no Brasil seria melhor. Se isso não acontecer, volto para cumprir meu contrato até o final de 2020”, disse.

O Irã têm uma cultura muito conservadora por conta da religião oficial do país. Diversos hábitos divergem da realidade ocidental. Por exemplo, em outubro de 2019, as mulheres puderam assistir uma partida de futebol no estádio pela primeira vez. Foram disponibilizados 3.500 ingressos (cerca de 5% da capacidade do local) e elas precisariam ficar em um setor destinado para essas torcedoras. Foi uma ocasião inédita desde a revolução islâmica em 1981. Entretanto, isto ainda não virou um hábito e os iranianos seguem sendo pressionados pela FIFA em prol dos direitos das mulheres. O atleta brasileiro dissertou sobre a sua adaptação e a ambientação de sua esposa aos costumes islâmicos.

“Eles tratam muito bem os estrangeiros, principalmente, os jogadores. Eles são apaixonados por futebol e em todos os lugares que eu estou aparece alguém para pedir foto. Como a cidade que moro é pequena, todo mundo me conhece e acaba chamando bastante a atenção. Tenho as minhas atividades todo dia e, por isso, acabo me adaptando mais rápido aos costumes. Já para a minha esposa é mais difícil. Ela só fica no hotel, não pode ir ao estádio ver os jogos. Quando sai do quarto precisa colocar o véu, além de ter que ter vários cuidados com as outras peças de roupa”, contou.

O Irã vem crescendo no cenário futebolísco em âmbito mundial. Em sua última participação na Copa do Mundo, em 2018, enfrentou os países Espanha, PortugalMarrocos em partidas válidas pelo Grupo B. Os Iranianos jogaram muito bem e ficaram em terceiro lugar com 1 vitória, 1 empate, 1 derrota e 4 pontos. Apenas um ponto impediu a sua classificação para a fase eliminatórias. Com uma boa média de público, Mazola descreveu como é o futebol no país. 

“Já joguei em grandes clubes e confesso que me surpreendi com o futebol do Irã. O estádio está sempre cheio e muita gente ainda fica do lado de fora. Quando acertei com o Tractor achei que fosse ser uma liga mediana, mas o campeonato é bom. O principal time é o Esteghlal, que fica em Teerã, e basicamente é como se fosse o Flamengo. Tem uma grande torcida, tanto que no jogo contra eles tinha umas 100 mil pessoas no estádio. Eles se preocupam com os atletas e tentam ter a melhor estrutura possível. Teve um dia que a condição do ar não estava em condições favoráveis e, por isso, a partida foi cancelada”, relatou.

O próximo duelo do Tractor Sazi (IRN) será contra o líder Persepolis (IRN) em partida válida pelo Campeonato Iraniano. Na temporada 2019-2020, o clube de Mazola está em 3° lugar com apenas quatro pontos de diferença para o 1° colocado.