Surpresa resume bem o sentimento do torcedor do Union Berlin. O clube  anunciou nessa quinta-feira (28) o afastamento do atacante Sebastian Polter, ídolo da torcida, porque o jogador se recusou a reduzir o salário durante o período de pandemia de coronavírus. 

O atacante, que tem contrato com o time da capital até o final da temporada, continuará treinando com os companheiros, mas não será mais relacionado para os jogos. Um dos principais heróis da classificação inédita do time para a Bundesliga, Polter está no clube desde 2017. Nesse período, foram 104 jogos e 46 gols. Na temporada atual, foram 13 partidas e dois gols. 

"É um dos valores fundamentais do Union Berlin que nós formemos uma sólida e unida comunidade, em que apoiamos uns aos outros e o clube. Sebastian foi o único jogador do elenco, comissão técnica e departamento de futebol a não fazer isso, infelizmente. Não é compreensível e é na verdade extremamente decepcionante. Então decidimos que o Sebastian não vai mais fazer parte do time em dias de jogo, imediatamente" declarou o presidente do clube, Dirk Zingler

Muito mais do que um afastamento

A história do Union Berlin ajuda a entender o por que o clube tomou essa decisão. O primeiro Union Berlin surgiu em 1910, como substituto do Olympia Oberschöneweide. O clube tinha o nome de um subúrbio perto de Berlin, onde moravam muitos metalúrgicos. Desde então, a fama de popular da agremiação se espalhou pelo lado oriental da capital alemã, contrastando com a de outros clubes da cidade, que tinham raízes na classe média.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Oberschöneweide foi uma das áreas que o Exército Vermelho entrou para render os nazistas na capital alemã e integrou a parte oriental da Alemanha. Por isso , não podia enfrentar as potências da área ocidental alemã, como Borussia Dortmund, Bayern de Munique e o vizinho Hertha Berlin. 

Disputando a Oberliga, liga oriental de futebol, o time começou a encher seu estádio e incomodar o regime comunista, que financiava o rival Dynamo Berlin. O clube ganhou ainda mais força nas décadas de 60 e 70, quando ganhou apoio de punks e hippies. O grande momento da equipe chegou no dia 27 de janeiro de 1990, quando o Union Berlin enfrentou o Hertha Berlin para 55.000 pessoas no Estádio Olímpico. 

O clube é, até hoje, muito ligado à sua comunidade. Em 2009, o  estádio An der Alten Försterei precisava de ampliações para chegar a capacidade mínima de 20 mi torcedores exigidos pela segunda divisão alemã. Como o Union passava por dificuldades financeiras, cerca de dois mil torcedores dedicaram 140 mil horas de trabalho voluntário para terminar o projeto.  Os torcedores ainda compraram ações para evitar que a diretoria precisasse vender os naming rights do estádio. 

Ações como campanhas de doações de sangue e combate ao racismo e as anuais festas de Natal na sede do clube mostram que o Union Berlin é muito mais do que um clube de futebol. É um símbolo na luta contra a intolerância.