No Brasil, a profissionalização de jogadores de futebol pode acontecer a partir dos 16 anos, como previsto na legislação em vigor. Como consequência, jovens cada vez mais novos são inseridos nos elencos visando o amadurecimento. Mas para Everton Camargo, atacante do Eastern, de Hong Kong, esta etapa veio de forma pouco convencional. 

Natural de Soledade, no Rio Grande do Sul, Everton teve passagens pelas categorias de base de Juventude e Paranavaí-PR. Ao completar a maioridade, resolveu servir ao exército, onde permaneceu até os 20. Nesta época, considerou a idade avançada para se reinserir no futebol e passou a jogar somente pelo futebol amador, em Soledade. 

O “caminho das pedras” de Everton Camargo começou em uma final de campeonato amador, em Soledade, aos 23 anos. Após se destacar na competição, um empresário da cidade, que atua na produção e exportação de pedras para Hong Kong, acabou indicando Everton para um teste em um clube hongonguês. Desta vez, o empresário acabou exportando uma pedra bruta bem diferente das que estava acostumado. Assim, o brasileiro encontrou sua oportunidade no futebol profissional. 

O pequeno país, com cerca de 7,5 milhões de habitantes, é um dos quatro tigres asiáticos, grupo de nações que apresentaram acelerado processo de industrialização e desenvolvimento econômico a partir da década de 70.  

“É um país de oportunidades. Quem chega disposto a trabalhar, não só no futebol, em outras profissões também, vai ter oportunidade. É um país muito acolhedor, acolhe muito bem os turistas. O respeito que eles têm pelas pessoas é de ficar impressionado. Uma cultura extraordinária pela educação e pela segurança. Aqui você não precisa se preocupar com nada”, conta Everton. 

Por lá, a bola rola oficialmente desde 1908, quando foi criada a liga da Primeira Divisão de Hong Kong. Em 2014, uma reformulação chega com a criação da Hong Kong Premier League. A temporada 2015/2016, segunda edição da Premier League, foi também a da estreia de Everton Camargo, pelo Wong Tai Sin.  

Ao chegar no país, o atacante teve apenas um turno para mostrar serviço, devido à burocracia para regularizá-lo. Mas o período foi o suficiente para despertar a atenção de outros clubes.

Nas temporadas seguintes, defendeu o King Fung e o Yuen Long. Foram 19 gols em 44 jogos e atuações decisivas que o levaram ao Eastern, um dos clubes mais vezes campeão nacional em atividade no país. Rumo à terceira temporada pelo Eastern, o atacante não parou de balançar as redes. 

“Hoje, eu e minha família colhemos os frutos que a gente plantou lá atrás. A gente passou um pouco de dificuldade. Quando minha esposa se mudou para cá, meu filho tinha apenas três anos. A gente morava em um apartamento pequeno e não sabia muitas coisas aqui. Acabava passando uma dificuldade ou outra. Hoje, graças a Deus, a gente tá vivendo bem, meu filho estudando em uma escola internacional, falando inglês e isso é maravilhoso”, relatou. 

Aos 29 anos, o jogador não esconde a intenção de adquirir a nacionalidade honconguesa e atuar pela seleção do país. “Meu pensamento hoje é de acabar virando local, porque depois de sete anos você consegue trocar o passaporte para Hong Kong e atuar pela seleção. Estou aqui há cinco anos, preciso de mais dois. Meus planos são esses. É minha meta principal agora”, revelou Everton Camargo. 

  • Campeões em inatividade

Com mais de um século de existência, o campeonato nacional equivalente à primeira divisão de Hong Kong possui grandes campeões fora de combate. O maior campeão nacional, o South China AA, com 41 títulos, encerrou sua participação na liga em 2017, pegando de surpresa os torcedores. O baque aconteceu após a saída do gestor Wallace Cheung, que investia no clube.

Outra lenda e o segundo maior campeão nacional é o Seiko FC, com nove títulos. O clube chegou a conquistar o hepta campeonato de forma consecutiva entre os anos de 1978 e 1985. O curioso é que o clube abandonou a Liga da Primeira Divisão de Hong Kong um ano depois. O Seiko FC continua sendo um clube lendário no país.