Se Josep Guardiola autoproclama-se o ladrão de ideias, um dos principais ‘roubados’ atende pelo nome de Arrigo Sacchi. De cara, é possível traçar muitos paralelos entre a dupla, seus métodos de jogo e formas de executar o modelo de futebol – como diferenças, também.

Recentemente, porém, Sacchi deu a entender que seu Milan era mais ofensivo e até superior ao atual Bayern de Munique comandado por Pep. Mas será que ele tem razão, será que sua squadra rossonera de 25 anos atrás venceria este Bayern? Isso é impossível dizer, mas dá para analisar o que cada um faz melhor ou tem de pior, as armas que seriam utilizadas na épica e fantasiosa guerra tática.

As semelhanças entre o Milan de Sacchi e o Bayern de Pep

Seria leviano começar essa parte sem citar as duas grandes coisas que unem os times: a zona e as pressões. Arrigo introduziu a marcação por zona no período dominante dos encaixes individuais, fazendo sua equipe defender com base na pelota e no espaço, ‘ignorando’ o jogador rival – tanto em bolas paradas quanto com ela em movimento. Guardiola, por sua vez, bebeu da fonte e, já que fica menos tempo sem a posse que Sacchi (uma das distinções abordadas a seguir), mantém isso sobretudo em escanteios.

Ao atacar, ambos seguem respeitando o perímetro e dividindo-o entre os atletas, mas, diferentemente da fase defensiva, há grande liberdade para as famosas trocas de posição, sempre coordenadas para manter uma boa distribuição no campo adversário. Outro conceito compartilhado é o de pressionar fortemente o oponente que detém a redonda, principalmente logo após perdê-la, começando a defender no ataque e exaltando a arte de fazer tudo conjuntamente.

Entretanto, realizar a pressão sobre a saída inimiga e pelas regras dissemelhantes de cada época, já é algo que distingue o dueto e será aprofundado daqui a pouco. A altura da linha de defesa também os aproxima, sempre adiantada e opressora.

Mesmo que aquele Milan fizesse de tudo para deixar os atacantes em impedimento, dando uns passos à frente pouco antes do passe (à época, mesma linha era impedimento), e este Bayern avance os defensores para limitar a área de jogo rival, sem necessariamente buscar a condição irregular, há igualdade.

Rodar bem a esfera e saber manejar blocos de marcação é mais um fator congruente, assim como deixar só dois ou três jogadores atrás da imaginária linha da bola nos instantes ofensivos. Coragem para dar passes verticais, apoios ao companheiro para dar opções, zagueiros talentosos tecnicamente para não subtrair qualidade na criação, muita crença dos esportistas nas ideias do técnico... Tudo iguala, tudo deixa as esquadras lado a lado.

As diferenças, pois nem tudo é exatamente igual

Pep diz que “quanto mais rápido a bola vai [ao ataque], mais rápido ela volta [à defesa], e portanto suas equipes constroem ações ofensivas de forma pensada, com muitos passes, controle. Mas Sacchi aparentemente não vê assim, pois seu Milan dificilmente enxergava problemas em iniciar e terminar ataques em mínimos segundos, em subir ao campo adversário como um faminto grupo guerrilheiro.

Logo, isso acarreta outra distinção: os milanistas de 20 anos atrás não passavam tanto tempo com a bola nos pés quanto os bávaros de hoje. Levando em conta que era permitido recuar ao goleiro e este segurar o balão nas mãos, o Milan também não pressionava muito à frente, e sim permita um certo avanço para só então apertar e roubar.

Ainda que o conjunto de Munique seja extremamente camaleônico, em geral utiliza um 4-3-3 logicamente diferente do 4-4-2 ‘sacchiano’ – tais números podem significar pouquíssimo no futebol, ainda mais se tratando de Sacchi e Guardiola, mas são os pontas de partida e têm importância. A intensidade física acaba por ajudar o técnico bávaro, dotado de um auxílio absurdo por todos os lados; a mental, todavia, parece mais inclinada aos homens do careca italiano.

Por fim, pelo já citado fato de não preocupar-se em defender investidas inimigas, Arrigo pôde exibir um trabalho defensivo mais vasto, perfeitamente coordenado e brutalmente lindo.

Mas então, quem é melhor? Quem foi mais ofensivo? Quem ganharia?

São perguntas difíceis demais para um ser tão simples quanto o apaixonado por futebol. Na verdade, talvez ninguém queira realmente saber o que aconteceria no final desse encontro. Porque é mais cômodo se divertir, curtir, se emocionar e festejar cada time separadamente, cada qual com a sua maneira, seus detalhes. E estamos errados, afinal? Essa resposta pode ficar por conta de Sacchi e Guardiola, os gênios que nos deram tudo isto.

Colaborou Charlie Viki (@charlieviki).