Com pontapé inicial marcado para o dia 17 de junho e com o ato final agendado para 2 de julho, a Copa das Confederações de 2017 já bate à porta. Os olhos do planeta estarão voltados à Rússia. Quatro cidades vão receber a competição: Moscou, São Petersburgo, Kazan e Sochi. O evento-teste para a Copa do Mundo de 2018 vem gerando muita expectativa entre os apaixonados por futebol. Questionamentos não faltam.

Como o país vai abrigar um evento de grande porte em meio à vulnerabilidade enorme às brigas entre hooligans nas ruas, ou até mesmo em estádios, fatos registrados na Uefa Euro 2016, na França?

No documentário produzido pela emissora pública britânica BBC, Russia's Hooligan Army (Exército Hooligan da Rússia, em tradução livre), que retrata a rivalidade entre os "ultras" russos e ingleses - a qual esteve à flor da pele no duelo entre Rússia e Inglaterra, na última Eurocopa -, um hooligan da cidade russa de Rostov fala de "festival de violência" nas próximas competições - informações do jornal britânico The Guardian. Motivo suficiente para deixar apreensivos os organizadores dos torneios Fifa, bem como os espectadores.

A Rússia do presidente Vladimir Putin sairá prestigiada de um evento de interesse mundial num momento de extrema turbulência na política externa, com suas polêmicas posições nas Guerras da Crimeia e da Síria?

A Federação Russa anexou a Crimeia, região da Ucrânia, ao seu território, contrariando os interesses da comunidade internacional. Em relação ao país do Oriente Médio, o Kremlin é aliado declarado do ditador Bashar al-Assad, presidente sírio desde o ano 2000, e definiu os recentes bombardeios dos EUA, agora presididos pelo magnata Donald Trump, como "atitudes irresponsáveis".

Desconfiança também atinge a seleção, que sofre com maus resultados e constantes trocas de técnicos

Rússia foi derrotada por 2 a 0 pela Costa do Marfim em amistoso, em março (Foto: TASS/Getty Images)

Talvez o nacionalismo tenha sido a maior herança do regime soviético. Evidentemente, os jogos da seleção russa são oportunidades para os torcedores locais externarem seu amor à pátria e seu sentimento de nação. A Copa das Confederações, inclusive, será realizada em território russo no ano do centenário da Revolução Russa de 1917, movimento que deu ponto final ao czarismo e serviu de embrião para a formação da União Soviética, Estado socialista o qual esteve entre os grandes protagonistas políticos e econômicos do globo entre 1922 e 1991.

Contudo, a seleção da Rússia não está bem das pernas e tem ferido o orgulho nacional. Portanto, além da desconfiança em torno da organização do evento, outra indagação pode ser feita: a equipe nacional russa será capaz de fazer uma boa campanha e encher os olhos de seus adeptos? Os últimos resultados e as constantes trocas de técnicos tornam o futuro das Águias Douradas uma incógnita.

A decepção com Fabio Capello

Capello levou a Rússia de volta a uma Copa do Mundo, mas a eliminação no Mundial foi precoce (Foto: Getty Images)

Depois de ficar ausente de duas Copas do Mundo seguidas (Alemanha 2006 e África do Sul 2010), a Rússia se encheu de esperança por uma reviravolta no futebol ao carimbar o passaporte para a edição de 2014, sediada no Brasil. As Águias se classificaram diretamente ao certame e deixaram a repescagem nas mãos de Portugal. Àquela altura, eram comandadas por Fabio Capello.

O italiano chegou logo após a Euro 2012. Na ocasião, os russos, treinados pelo holandês Dick Advocaat, amargaram eliminação na fase de grupos. Venceram a Tchéquia, empataram com a Polônia e perderam para a Grécia. Advocaat, que estava na Rússia desde 2010, "pediu o boné". E Fabio veio para o seu lugar.

Em suas convocações, Capello priorizava jogadores que atuavam na própria Rússia. Era o técnico de futebol mais bem pago do mundo, com salário anual de US$ 11 milhões, e tinha contrato válido até 2018. Resultado de um forte investimento da União de Futebol da Rússia (UFR), visando a recuperação do prestígio mundial dos tempos de URSS.

Entretanto, o ex-técnico de Milan, Juventus, Roma, Real Madrid e seleção da Inglaterra não vinha fazendo justiça à monstruosa remuneração que recebia. Com um futebol pragmático, colecionou resultados aquém dos desejados.

Mesmo sendo apontada como a segunda força do Grupo H da Copa do Mundo 2014, a Rússia acabou colecionando mais uma eliminação precoce. Foi derrotada pela Bélgica, ficou apenas no empate com Coreia do Sul e Argélia e terminou a primeira fase na terceira colocação. Somou apenas dois pontos.

Capello ainda conduziu as Águias Douradas nos seis primeiros jogos das Eliminatórias para a Euro 2016. Foi sacado em decorrência de uma campanha irregular, com duas vitórias, dois empates e duas derrotas. Seu último jogo foi uma derrota de 1 a 0 para a Áustria.

O "bombeiro" Leonid Slutsky até arrumou a casa, mas decidiu sair após a Euro 2016

Leonid Slutsky treinava a seleção russa e o CSKA Moscou ao mesmo tempo (Foto: Getty Images)

A vaga deixada pelo italiano foi preenchida pelo russo Leonid Slutsky, um dos técnicos mais prestigiados do país. Acreditem, ele teve de conciliar seu longevo trabalho no CSKA Moscou com a seleção nacional.

Mesmo tendo uma missão difícil, o "bombeiro" começou muito bem. Classificou a Rússia à Euro 2016 com quatro vitórias nos últimos quatro jogos das Eliminatórias. Em novembro de 2015, graças a um triunfo de 1 a 0 sobre Portugal em amistoso, Slutsky igualou o ex-técnico Pavel Sadyrin: ambos venceram os primeiros cinco jogos à frente do selecionado russo. Meses depois do feito histórico na seleção de seu país, o treinador conquistou a edição 2015/2016 da Premier League russa pelo CSKA, tendo sido este o sétimo título nacional de Slutsky - ao todo, ele tem três troféus da PL, duas Copas da Rússia e duas Supercopas pelo clube dos militares.

A vida estava boa demais para Leonid Slutsky, isso não se pode negar.

Mas o final de 2016 foi uma época de difíceis escolhas. Leonid decidiu deixar tanto a seleção, após mais uma eliminação na fase de grupos da Euro (perdeu para Gales e Eslováquia e empatou com a Inglaterra), quanto o clube, por motivos pessoais. Talvez tenha sentido a necessidade de respirar novos ares. No último dia 9 de junho, ele assinou contrato com o Hull City, da segunda divisão inglesa.

O novo técnico está tendo muita dor de cabeça

Stanislav Cherchesov assumiu a seleção da Rússia após a Euro 2016 (Foto: Getty Images)

Agora, o treinador é Stanislav Cherchesov. O russo deixou um trabalho sólido no Legia Varsóvia, onde havia conquistado a "dobradinha" (Campeonato Polonês + Copa da Polônia), para realizar o sonho de comandar a seleção de seu país. Não se intimidou com o ambiente desfavorável em sua terra natal e aceitou o desafio.

Porém, nesta reta final de preparação para a Copa do Mundo, o time não dá sinais de entrosamento. Com tantos técnicos diferentes, os jogadores têm dificuldades de assimilar as ideias repassadas.

O retrospecto de Cherchesov no comando é modesto. Até agora, três vitórias, três empates e três derrotas; 13 gols marcados e 12 gols sofridos; aproveitamento de 33%.

Vale sublinhar: como a Rússia tem classificação antecipada à Copa das Confederações e à Copa do Mundo como país-sede, os preparativos da delegação se resumem a partidas amistosas.

A estreia do ex-goleiro de Spartak Moscou, Lokomotiv Moscou, Tirol Innsbruck (Áustria), Dynamo Dresden (Alemanha) e seleção da Rússia na área técnica das Águias Douradas aconteceu em 31 de agosto de 2016, no empate sem gols frente à Turquia na Antalya Arena, na cidade turca de Antalya. Seis dias depois, no Estádio Lokomotiv, em Moscou, uma vitória magra contra Gana: 1 a 0, gol do atacante Fyodor Smolov.

Em 9 de outubro veio o primeiro revés: 4 a 3 para a Costa Rica no Estádio FK Krasnodar, em Krasnodar. A equipe mostrou poder de reação: chegou ao empate depois de sair atrás no placar. Perdia por 3 a 1 e conseguiu um 3 a 3. Destaque para o centroavante Artem Dzyuba, autor de dois gols. O ponta-direita Alexander Samedov também deixou sua marca. Entretanto, o cansaço físico dos donos da casa pesou, e os costarriquenhos chegaram ao quarto gol nos acréscimos.

No dia 10 de novembro, mais uma derrota: 2 a 1, de virada, para o limitado Catar no Estádio Al-Sadd, em Doha - Samedov assinou o gol das Águias. Ser superado por uma seleção que não tem chance de ir ao Mundial é motivo suficiente para ligar o sinal de alerta, ainda mais quando o tropeço tem até pênalti perdido - pelo atacante Aleksandr Kokorin,

Vitória sobre a Romênia "no apagar das luzes" foi o segundo triunfo da Rússia na "Era Cherchesov" (Foto: TASS/Getty Images)

O segundo triunfo da "Era Cherchesov" aconteceu cinco dias depois, na Akhmar Arena, em Grozny. Outra vitória pelo placar mínimo. Dessa vez, contra a Romênia. O único gol do embate foi anotado aos 48 minutos do segundo tempo, pelo meia Magomed Ozdoev, que entrou em campo no decorrer da etapa complementar.

Em mais uma série de amistosos em seu território, a Rússia colecionou novos tropeços. Sofreu 2 a 0 da Costa do Marfim, em Krasnodar, e empatou em 3 a 3 com a Bélgica, no Estádio Olímpico Fisht de Sochi - em 24 e 28 de março deste ano, respectivamente.

Embora seja um grande feito marcar três gols - do zagueiro Viktor Vasin, do meia Aleksey Miranchuk e do atacante Alexander Bukharov - contra uma das seleções mais promissoras da atualidade, o desempenho do sistema defensivo foi preocupante.

Nos últimos amistosos antes da Copa das Confederações, nos respectivos dias 5 e 9 de junho, as Águias não encontraram muitas dificuldades diante da Hungria, em Budapeste, e ficaram no empate com o Chile, em Moscou. Os gols da vitória na Groupama Arena foram anotados pelos atacantes Fyodor Smolov e Dmitry Poloz. Também teve um gol contra do atacante húngaro Márton Eppel. Quem balançou as redes contra o Chile na VEB Arena, por sua vez, foi o zagueiro Viktor Vasin.

Olho neles

Cherchesov tem aproveitado os amistosos para fazer rodízios e testar diversas opções e esquemas táticos (4-2-3-1, 4-3-3, 3-4-3, 3-5-2 e até mesmo 5-4-1 e 5-3-2 - a formação com cinco jogadores de defesa é uma das grandes novidades do futebol nesta década). O objetivo é criar um time sólido em todos os setores. A presença de buracos nas mais variadas posições, fruto de uma falta de compactação, foi o ponto mais crítico do trabalho dos últimos técnicos. O atual comandante também busca tirar o melhor de cada jogador, numa tentativa de driblar as limitações técnicas que vêm à tona em cada partida.

Os XI iniciais das Águias Douradas podem ser formados por: Igor Akinfeev (goleiro do CSKA Moscou; titular da seleção desde 2004); Romam Shishkin (lateral-direito do Krasnodar), Georgi Dzhikiya (zagueiro do Spartak Moscou), Viktor Vasin (zagueiro do CSKA Moscou), Fyodor Kudryashov (lateral-esquerdo do Rostov); Denis Glushakov (volante do Spartak Moscou), Aleksei Miranchuk (meia do Lokomotiv Moscou), Aleksandr Samedov (meia do Spartak Moscou), Yuri Zhirkov (meia do Zenit); Dmitry Poloz (atacante do Rostov) e Fyodor Smolov (atacante do Krasnodar).

A VAVEL Brasil se baseou nos jogadores mais acionados nos últimos amistosos para montar este time e utilizou o tradicional esquema 4-4-2. Mas devemos avisar: a seleção não tem um padrão tático definido. Tomemos como exemplos os úitimos amistosos: contra a Hungria, Cherchesov arumou a Rússia no 3-5-2; contra o Chile, no 5-4-1.

Observam de fora e têm condições de cavar uma vaguinha entre os titulares, a depender do esquema adotado pelo comandante: Igor Smolnikov (lateral-direito do Zenit), Dmitri Kombarov (lateral-esquerdo do Spartak Moscou), Aleksandr Golovin (meia do CSKA Moscou) e Aleksandr Bukharov (atacante do Rostov).

Um brasileiro de nascimento entre os convocados

Revelado no futebol paranaense, Guilherme Marinato é o terceiro goleiro da seleção russa (Foto: Epsilon/Getty Images)

O terceiro goleiro da Rússia é Guilherme Marinato. Nascido em Cataguases, nas Minas Gerais, o arqueiro jogou nas categorias de base do PSTC-PR em 2001 e 2002. Em 2003, ascendeu ao profissionalismo no Atlético-PR. No Furacão, passou a maior parte do tempo no banco de reservas. Suas atuações, embora tenham sido poucas, chamaram a atenção do Lokomotiv Moscou, que comprou seu passe em 2007.

Depois de muito tempo morando no país, Guilherme se naturalizou russo em 2015 e abriu caminho para convocações à seleção. Foi chamado pela primeira vez em novembro do mesmo ano, para os amistosos contra Lituânia e França. Em 28 de março de 2016, no triunfo de 3 a 0 frente aos lituanos, na Otkrytlye Arena, em Moscou, o brasileiro de nascimento se tornou o primeiro jogador naturalizado a defender a ex-URSS ao substituir o companheiro de posição Stanislav Kritsyuk no intervalo.

Marinato esteve entre os convocados para a Euro 2016 e agora, também frequentando o banco de reservas, foi chamado à Copa das Confederações. Dessa vez, vai defender as cores da Rússia na pátria que o acolheu,

Guilherme é ícone do Lokomotiv. Pelo clube da capital federal, já entrou em campo 163 vezes e conquistou a Copa da Rússia em 2014/2015 e 2016/2017.

Outro "compatriota" nosso, o zagueiro Mário Fernandes, ex-Grêmio e hoje no CSKA Moscou, esteve na lista de pré-convocados à Copa das Confederações. Entretanto, foi cortado por lesão.

Os 23 jogadores chamados para a Copa das Confederações 2017

Goleiros
Igor Akinfeev
(CSKA Moscou), Vladimir Gabulov (Arsenal Tula) e Guilherme Marinato (Lokomotiv Moscou)

Defensores
Dmitri Kombarov
(Spartak Moscou), Igor Smolnikov (Zenit), Roman Shishkin (Krasnodar), Fyodor Kudryashov (Rostov), Viktor Vasin (CSKA Moscou), Ilya Kutepov (Spartak Moscou), Ruslan Kambolov (Rubin Kazan) e Georgi Dzhikiya (Spartak Moscou)

Meias
Yuri Zhirkov
(Zenit), Denis Glushakov (Spartak Moscou), Aleksandr Samedov (Spartak Moscou), Aleksandr Golovin (CSKA Moscou), Aleksei Miranchuv (Lokomotiv Moscou), Aleksandr Yorokhin (Rostov), Dmitri Tarasov (Lokomotiv Moscou) e Yury Gazinsky (Krasnodar)

Atacantes
Fyodor Smolov
(Krasnodar), Maksim Kamunnikov (Rubin Kazan), Dmitry Poloz (Rostov) e Aleksandr Bukharov (Rostov)

Rumo à Copa das Confederações

Copa das Confederações de 2017 acontecerá entre os dias 17 de junho e 2 de julho (Foto: Alexander Hassenstein/Fifa)

Aliar a juventude, presente nas convocações de jóias de Spartak Moscou, Lokomotiv Moscou e Rostov, à experiência, com jogadores de CSKA Moscou e Zenit, é a esperança para uma boa campanha na Copa das Confederações. Nota-se, na convocação, a predominância das quatro maiores potências do país (Spartak, CSKA, Zenit e Lokomotiv) e das maiores forças emergentes do futebol local (Rostov, Rubin Kazan e Krasnodar). Outro clube presente na lists é o Arsenal Tula. Todos os 23 convocados jogam em território russo.

A Rússia está no Grupo A, juntamente com Portugal, México e Nova Zelândia, respectivos campeões da Eurocopa, Copa Ouro e Copa das Nações da Oceania - Alemanha, Chile, Camarões e Austrália formam o Grupo B. A tendência é que russos, portugueses e mexicanos briguem pelas duas vagas no mata-mata e os neozelandeses sejam meros figurantes na chave.

Mas não é exagero afirmar que, em relação aos seus potenciais concorrentes, as Águias Douradas levam desvantagem devido ao entrosamento escasso. Esta falta de integração entre os jogadores do plantel existe por conta da falha de planejamento da federação de futebol do país e, também, por causa das constantes trocas no comando técnico.

Em meio a tanto desmantelo, o apoio e a grande presença da apaixonada torcida russa podem ser um plus de motivação para a delegação.

A "Mãe Rússia" não aguenta mais cair na primeira fase. E não quer pagar mico em sua primeira participação em Copa das Confederações. Desde que a competição recebeu a chancela da Fifa, só um país-sede não foi ao mata-mata: a Arábia Saudita, em 1997.

Tabela

17/06/2017 (sábado) - Rússia x Nova Zelândia - Estádio Krostovsky, São Petersburgo - 12h*
21/06/2017 (quarta-feira) - Rússia x ´Portugal - Otkrytlye Arena, Moscou - 12h*
24/06/2017 (sábado) - México x Rússia - Kazan Arena, Kazan - 12h*

* Horário de Brasília

Notas

• A outra praça da Copa das Confederações é o Estádio Olímpico Fisht de Sochi, utilizado na Olimpíada e Paralímpiada de Inverno em 2014
• O palco da grande decisão, marcada para o dia 2 de julho, será o Estádio Krostovsky, em São Petersburgo

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