O Soccer Bowl foi decidido neste domingo (12), no Kezar Stadium. Em campo, o novato San Francisco Deltas e o tradicionalíssimo New York Cosmos. A vitória por 2 a 0 garantiu o título da North American Soccer League. Heinemann, cobrando pênalti, e Sandoval, nos acréscimos, anotaram os gols da partida. O último californiano campeão da liga foi o Los Angeles Aztecs, em 1974.

Em sua temporada de estreia, o San Francisco Deltas montou um elenco competitivo, destaque para os brasileiros Dagoberto, Jackson Gonçalves, ex-Toronto FC, Reiner Ferreira e Pablo Dyego. O time também trouxe vários jogadores com passagens pela MLS, incluindo os autores dos dois gols. Além deles, Stephens, Tissot, Ouimette e outros. O técnico Marc dos Santos também teve papel fundamental.

Na final, o experiente Dagoberto ficou apenas no banco. O atacante foi contratado em 30 de junho. Nesta temporada, somou 13 jogos, marcou três gols e concedeu três assistências. Ele não atuou nas duas partidas dos playoffs da NASL. O San Francisco foi vice em ambos os turnos, chamados de ‘spring’ e ‘fall’ season. O Miami FC (de Maldini, do técnico Nesta) terminou ambos na liderança.

Comemorar como se não houvesse amanhã, e provavelmente não haverá

A conquista em seu primeiro ano competitivo poderia ser um feito gigantesco para a franquia. Porém, após a festa, o clima de incerteza segue. Em 1º de setembro, a Federação dos EUA anunciou que a NASL não teria o status de Division 2 em 2018, ficando apenas a USL neste patamar. Depois disto, a NASL se movimentou nos bastidores para continuar neste nível da pirâmide, tentando apresentar provas que possui condições de cumprir com as exigências da USSF. Decidiram recorrer à justiça acusando a MLS, SUM (braço comercial da liga) e Federação de conspirarem contra eles, além de apontarem uma infração na Lei Antitruste.

O North Carolina FC vai deixar a NASL e ingressar na USL em 2018. De acordo com os outros proprietários, Steve Malik, dono do NCFC, traiu a liga após ganhar um cargo no Conselho de Futebol da Federação. Acusaram Malik de não ajudar a NASL nos processos de expansão para tentar salvar o campeonato. O San Francisco Deltas não retornará para 2018. O FC Edmonton estuda entrar na CanPL, liga canadense que terá seu início nos próximos anos. Também foi informado que – em média – os clubes da NASL perderam 5 milhões de dólares em 2017.

Para 2018, a NASL conta apenas com: New York Cosmos e Miami FC (os cabeças deste embate), Indy Eleven, Jax Armada, Puerto Rico FC (de Carmelo Anthony, o time é uma incógnita) e CAL UTD e San Diego (as expansões garantidas). Se a liga fechar, esses times terão que buscar um novo campeonato. A juíza Margo K. Brodie manteve a decisão da USSF. Se a NASL quiser continuar na próxima temporada, será com status de 3ª liga no escalão do futebol dos EUA.

Pode parecer que esse status não serve para muita coisa, pois não existe rebaixamento, mas é uma perca comercial gigante. Inclusive, há uma clausula nos contratos das franquias da NASL liberando-as em caso de perda do status D2. A mudança gera transtornos comerciais e dos baixos investimentos. A Federação foi benevolente em igualar as duas ligas com o mesmo patamar em 2017, a USL já superou a NASL em diversos fatores, sem contar que a segunda citada está à beira da falência há anos, sempre perdendo dinheiro. Ter um campeonato neste ano já foi uma vitória, pois vários escritórios foram fechados, funcionários e jogadores terminaram 2016 com salários atrasados e o futuro – naquele momento – era péssimo. A situação não mudou muito.

O futuro das equipes

A debandada da NASL não é novidade. Anos atrás, a prefeitura de San Antonio comprou o SA Scorpions e fundou uma nova franquia, colocando-a na USL. O tradicional Tampa Bay Rowdies, de Joe Cole, e o Ottawa Fury também fizeram a transição. Basicamente você deixa uma empresa e vai para outra, passa a ser sócio de um novo grupo, com melhores perspectivas, lucros e estabilidade em um esporte que desde sempre tem a palavra ‘sobrevivência’ no topo do dicionário.

Protesto durante uma partida do NY Cosmos
(Reprodução/Twitter)

Miami FC e New York Cosmos estão em uma situação delicada. Não financeiramente, pois seus mandatários conseguiram resolver essa situação, mas por conta do processo judicial que corre contra a Federação (acusam a USL de ser favorecida pelo 'cartel' MLS/SUM/USSF). Vejo duas saídas, ambas ruins: ingressar na semiamadora NPSL ou esperar a NISA, uma nova liga que surgirá em breve.

Aos ingênuos que ainda acreditam na boa vontade da MLS em chamar o Cosmos, esqueçam isso. Parem de tentar imaginar o futebol dos EUA como um conto de fadas, onde tudo é certinho. A própria Soccer United Marketing tentou comprar a franquia ano passado por míseros 5 milhões de dólares para simplesmente impedir o time de funcionar na região metropolitana de NY por dez anos. A revelação foi feita pelo Rocco B. Commisso, atual dono da equipe, durante audiência. Ou seja, de acordo com ele, a MLS queria comprar para ficar com tudo referente ao Cosmos (incluindo a relação com Pelé), fechar o time, aniquilar um rival comercial e ainda faturar uma grana em cima do ‘morto’, com venda de camisas e outras coisas. Comercialmente, era o plano perfeito para a Major e demais interessados (leia-se NY City e Red Bulls).

Há esperanças

Obviamente a NASL recorreu da decisão judicial, o desenrolar dos fatos acontecerá nas próximas semanas. Acredito que a Federação vencerá esta batalha, pelo simples fato de que a liga norte-americana de futebol não está cumprindo com as exigências para ter o status abaixo da MLS, como número de equipes, por exemplo, que é o básico. Mesmo assim, de acordo com os próprios chefes da NASL, há seis clubes da NPSL que já se comprometeram a entrar. Resta saber se todos terão condições de se manter. Vale lembra que um dos novos clubes é o San Diego 1904 FC (sim, S = 19ª letra do alfabeto e D = 4ª, por isso o nome do time). Demba Ba, Eden Hazard, Cabaye e Moussa Sow são alguns dos sócios fundadores do time.

O fim também é uma alternativa

Este cenário existe, estamos falando de dinheiro investido, empresas, funcionários. Caso Rocco B. Commisso e Riccardo Silva (dono do Miami, aquele que ofereceu 4 bilhões para a MLS aceitar ter rebaixamento) desistam de seguir com a NASL, ela acabará. Estamos falando de um país onde os campeonatos são concorrentes, apenas o mais forte sobrevive. Se duas empresas lutam por um mesmo objetivo, só uma irá alcançar. A NASL nunca esteve à frente desta corrida, o seu fim já estava sendo anunciado há anos. O feito, neste caso, foi conseguir adiar e ainda bater de frente com a Federação. A NASL cai, mas cai atirando.