Alguns times ou seleções parecem sofrer com a maldição do “quase”. A Holanda, que já teve times espetaculares, como o Carrossel Holandês comandando pela lenda Johann Cruyff, venceu apenas uma Eurocopa, batendo na trave em três Copas do Mundo, quando foi vice em 1974, 1978 e 2010. Outra delas era a seleção de Portugal. Sua melhor campanha em um campeonato mundial veio em 1966, quando Eusébio foi o grande nome da competição. O resultado? Apenas um terceiro lugar.

A seleção de 1966 foi responsável por, inclusive, eliminar o Brasil, campeão em 1962, da competição. Vale lembrar que, 4 anos depois, a Seleção Brasileira conquistou o tri no México. O futebol português viveu momentos complicados nas décadas seguintes, demorando quase 20 anos para voltar a disputar um torneio importante. Só em 1984, a seleção dos patrícios voltou a jogar pela fase final da Eurocopa. A maldição do quase teve seu auge em 2004, quando os portugueses chegaram à decisão da Euro, mas acabaram sendo derrotados pela Grécia, dentro de casa. No entanto, 2016 fica marcado na história como o ano em que Portugal conquistou o primeiro título de sua história, liderada por Cristiano Ronaldo.

O terceiro lugar na Copa de 1966, com a lenda Eusébio

Portugal nunca havia se classificado para nenhuma Copa do Mundo até 1966. O cenário era desolador para os lusitanos, que eram saco de pancadas de outras seleções europeias até então. Tudo começou a mudar com o técnico brasileiro Otto Glória, que já havia conquistado títulos portugueses com Benfica, Belenenses e Sporting. Foi neste momento que alguns jogadores com ascendência africana, nascidos em países colonizados por Portugal, começaram a ganhar espaço na seleção lusa. Um deles faria total diferença na história do futebol português: Eusébio.

O atacante já havia sido campeão europeu com o Benfica antes da Copa de 1966, mas foi na Inglaterra que o jogador se consagrou. Principal destaque do esquadrão português na competição, Eusébio não só comandou a sua seleção, como acabou sendo artilheiro da competição, com nove gols marcados.

Eusébio em ação contra a Hungria, em 1966 (Foto: Allsport Hulton/Arquivo)
Eusébio em ação contra a Hungria, em 1966 (Foto: Allsport Hulton/Arquivo)

A campanha de Portugal naquele ano foi surpreendente. Na primeira fase, o grupo dos lusos contava com Brasil, Hungria e Bulgária. A seleção portuguesa não tomou conhecimento de nenhum dos três, vencendo as três partidas e avançando ao mata-mata, para enfrentar a maior zebra da competição. A Coreia do Norte havia chegado às quartas-de-final depois de eliminar a Itália na fase de grupo, mas acabou derrotada pela Seleção das Quinas em jogo espetacular. Depois de os norte-coreanos abrirem 3 a 0 ainda no primeiro tempo, Eusébio comandou a virada, marcando quatro gols, em partida que terminou com o placar de 5 a 3.

Nas semifinais, os lusitanos acabaram caindo antes a seleção da casa, que viria a ser campeã mais à frente, liderada por Sir Bobby Charlton. Na decisão do terceiro lugar, os adversários foram os soviéticos, que acabaram derrotados por 2 a 1. Portugal conquistou a melhor campanha de sua história nas Copas logo em sua primeira participação no torneio. No entanto, o desempenho do país ficou longe do esperado nos anos que vieram a seguir.

Décadas de seca e volta por cima nos anos 2000

Depois do sucesso em 1966, Portugal passou décadas complicadas no futebol. O país só conseguiu uma classificação para um torneio de grande importância no ano de 1984, quando disputou a Eurocopa. Depois de avançar às semifinais, passando pelo seu grupo, acabou eliminada pela França, país-sede da competição. A esperança só seria renovada nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998, com a chamada “Geração de Ouro” do futebol português, bicampeã mundial sub-20.

Contando com nomes como Vitor Baía, Costinha, Pauleta, Rui Costa, Nuno Gomes e liderada por ninguém menos que Luís Figo, a seleção portuguesa acabou decepcionando e nem conseguiu se classificar para a fase final, disputada na França. Precisando vencer a Alemanha, acabou tendo Rui Costa expulso de uma maneira bizarra. Enquanto saía de campo para ser substituído, o meia levou o segundo amarelo por “cera”. Com um a menos, os lusos não conseguiram segurar a vantagem mínima que tinham contra os alemães e acabaram cedendo o empate, sendo eliminados.

A sorte da seleção portuguesa começou a mudar na Euro 2000, quando mais uma vez fizeram boa campanha, mas pararam nas semifinais. Os adversários, assim como em 1984, foram os franceses. Em jogo bastante parecido, mais uma vez as equipes empataram em 1 a 1 pelo tempo regulamentar e o finalista só seria decidido na prorrogação. Com um gol de pênalti, Zidane deu a vitória à França, que eliminava Portugal pela segunda vez em uma Eurocopa.

Fernando Couto e Sergio Conceição lamentam e eliminação na Euro 2000 (Foto: Lutz Bongarts/Bongarts/Getty Images)
Fernando Couto e Sergio Conceição lamentam e eliminação na Euro 2000 (Foto: Lutz Bongarts/Bongarts/Getty Images)

Derrota em casa na Eurocopa 2004 e redenção na França em 2016

Em 2004, a Eurocopa foi sediada em Portugal, dando à Seleção das Quinas uma nova chance para melhorar seus resultados. A equipe também contava com uma nova estrela em ascensão: Cristiano Ronaldo, com apenas 19 anos à época, já ganhava espaço no time, ao lado das mesmas estrelas de 1998. Outro jogador que foi incorporado ao grupo era Deco, brasileiro naturalizado português. Vitor Baía, no entanto, já não fazia parte do plantel.

Depois de perder para a Grécia na estreia por 2 a 1, Luiz Felipe Scolari, campeão do mundo com o Brasil em 2002, reformulou totalmente a equipe titular e conseguiu a classificação depois de vencer Espanha e Rússia. Na fase de mata-mata, o primeiro adversário foi a Inglaterra, responsável por eliminar a Seleção das Quinas na Copa de 1966. A partida ficou marcada na história. Depois de Michael Owen abrir o placar, Hélder Postiga empatou no fim e forçou a prorrogação. Nos tempos extras, Rui Costa colocou Portugal na frente, mas Lampard deixou tudo igual mais uma vez. Nos pênaltis, o goleiro Ricardo foi o herói, defendendo uma cobrança e marcando a sua.

Na sequência, os portugueses tinham a Holanda pela frente, tentando chegar à final de uma Euro pela primeira vez em sua história. O objetivo foi alcançado depois de bater os neerlandeses por 2 a 1, com gols de Cristiano Ronaldo e Maniche. O adversário da final seria a Grécia, para quem os portugueses haviam perdido na primeira fase. Em casa, contra um país sem tradição, os lusos acabaram caindo numa das derrotas mais doídas de sua história. Charisteas deu números finais à partida, vencida pelos gregos por 1 a 0, no único título da seleção helênica.

Rui Costa chora em meio ao papel picado da festa grega na final da Euro 2004 (Foto: François Guillot/AFP/Getty Images)
Rui Costa chora em meio ao papel picado da festa grega na final da Euro 2004 (Foto: François Guillot/AFP/Getty Images)

A redenção veio em 2016, na Eurocopa realizada na França. Com Cristiano Ronaldo como grande figura, tendo como destaques o goleiro Rui Patrício, além de João Moutinho, Pepe, Nani e Quaresma, além das promessas Raphaël Guerreiro e Renato Sanches, a seleção portuguesa vinha sem muito crédito. Na primeira fase, três empates contra Islândia, Hungria e Áustria contribuíram para que as expectativas não fossem muito grandes.

A classificação veio, mesmo com o terceiro lugar no grupo F. O adversário das oitavas seria a Croácia. A vitória por 1 a 0, na prorrogação foi suficiente para levar os portugueses às quartas, quando passaram por mais um sufoco. Contra a Polônia, a classificação só veio nos pênaltis, depois de empate em 1 a 1. Nas semifinais, a vitória por 2 a 0 sobre o País de Gales garantiu a Portugal sua melhor participação na história da Euro. O adversário da final seria a França, algoz de outras duas competições.

Capitão português, Cristiano Ronaldo levanta a taça como campeão (Foto: Matthias Hangst/Getty Images)
Capitão português, Cristiano Ronaldo levanta a taça como campeão (Foto: Matthias Hangst/Getty Images)

O ano de 2016 marcou a “vingança” dos portugueses e também a redenção. Depois de ser eliminada pela França duas vezes em Euros e de perder um torneio dentro de casa, Portugal conseguiu finalmente conquistar seu primeiro título da história. Mesmo com Cristiano Ronaldo saindo de campo lesionado logo no começo da partida, os lusos resistiram à pressão francesa e levaram o jogo para a prorrogação, quando Éder, um atacante nascido na África, assim como Eusébio, deu a vitória a Portugal, aos 3 minutos do segundo tempo da prorrogação. Nascia, assim, o capítulo mais glorioso da história do futebol português, que podia se considerar campeão da Europa pela primeira vez.

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Sobre o autor
Gabriel Menezes
Jornalismo na UFRJ. Coordenador e setorista de Botafogo; Coordenador de Futebol Americano e Italiano