Em entrevista coletiva concedida após a derrota do Olympique de Marseille para o Caen, neste sábado (08) o argentino Marcelo Bielsa anunciou a sua demissão do cargo de treinador do clube.

Bielsa foi contratado em maio de 2014 e fez um excelente primeiro turno no Campeonato Francês. Porém, na metade final da Ligue 1, o clube caiu de produção e perdeu a tão sonhada vaga na Uefa Champions League. Além disso, o OM caiu nas duas copas nacionais de forma precoce e o seu trabalho no clube francês chega ao fim após ter sofrido a derrota para o Caen.

El Loco comentou sobre o revés sofrido na estreia oficial da temporada: “Eu estou triste e frustrado porque eu não esperava essa derrota. No primeiro tempo, tivemos problemas em criar jogadas. O segundo período foi satisfatório, poderíamos ter ganho. Não é desculpa para a derrota. Nós tivemos 12 oportunidades de gol. Com tantas ocasiões, temos de ganhar”, declarou.

O anúncio foi feito na coletiva, surpreendendo até mesmo a Social Media do Marseille, que realizava a cobertura da entrevista em tempo real no Twitter. Segundo o clube, El Loco entregou a carta de demissão ao presidente antes de realizar a coletiva com a imprensa, tornando a carta pública com o auxilio do tradutor. A Rádio RMC publicou o conteúdo da carta, traduzida abaixo:

"Senhor Labrune

Eu comunico hoje que não continuarei a ser o treinador do Olympique de Marseille. Gostaria de explicar os motivos da minha partida. Tornei esta carta pública por considerar necessário esclarecer a minha posição. Se desejar uma coletiva de imprensa, eu posso lhe acompanhar.

Depois de uma série de encontros que se passaram durante o mês de maio, junho e julho, nós chegamos a acertar um acordo sobre o termo de renovação para as temporadas 2015/2016 e 2016/2017 du contrato que terminou em 1º de julho de 2015. A partir da metade de julho, mesmo se tudo não era oficial, todos os membros da equipe técnica que eu dirijo trabalharam pensando que tudo era claro e que não esperavamos nada mais além de receber os contratos impressos.

Na última quarta, fui chamado pelo diretor geral do clube Philippe Pérez para uma reunião, na qual participou o advgado Igor Levin, representante de Margarita Louis-Dreyfus. Eles me informaram que queriam mudar alguns pontos do acordo que nós já haviamos firmado. Ambos me disseram que possuiam o poder para assumir essa portura. Levei em conta todas as mudanças que eles desejaram colocar sobre o contrato.

Após a reunião, tomei a decisão que lhes apresento agora. Mesmo pensando que não, tudo que aconteceu faz parte da sua autoridade. Não sei se houve um consenso ou se você não tinha conhecimento. Como vocês já sabem, recusei várias ofertas importantes pois o meu desejo era seguir no Marseille. Não me arrependo do que foi feito, porque fiz com bastante entusiasmo. Estava bastante atraido por esse projeto. Me adaptei nos últimos tempos às mudanças constantes do projeto esportivo, mas depois de três meses de discussão e com dois dias para o início das competições oficiais, eu não posso aceitar a situação de instabilidade que foi provocada pela mudança nos termos do contrato.

Minha posição então é de não continuar trabalhando com vocês. Ela é definitiva. O trabalho em conjunto exige um mínimo de confiança que não temos mais. Não quis alterar a preparação da partida contra o Caen, por isso esperei para falar desta carta. Lhes agradeço por terem pensado em mim para dirigir o Olympique de Marseille. Trabalhei com grandes futebolistas. Pude desfrutar do Vélodrome e do incrível público presente. Lhes saudo.

Marcelo Bielsa"

Após a leitura da carta de demissão, Bielsa explicou para a imprensa da França os motivos de sua saída do OM na coletiva.

Poderia detalhar os pontos contratuais que foram modificados?
Não, esse acordo é particular.

O recrutamento de jogadores pesou na sua decisão de deixar o OM?
Não. Foram mudanças que aconteceram no acordo em que chegamos.

Os dirigentes foram informados depois da partida?
Não, eu dei a carta para o presidente antes de vir para cá.

E os jogadores?
Não, vim para a sala de imprensa para me dirigir até eles. Quis respeitar a dor da derrota antes de informa-los. Perguntei eles se poderiam esperar pela explicação e para dizer adeus.

Razões foram esportivas ou financeiras?
Nenhuma das duas. Repito que durante uma conversa com Vincent Labrune, Luc Laboz e Philippe Perez, nós chegamos a um acordo sem qualquer empecilho. Claramente não havia nada mais a ser resolvido. Então, aconteceu essa reunião de quarta, com Perez e Igor Levin, o advogado da acionista. Não sei se devo conversar com o presidente, mas ele não estava no encontro em que as mudanças foram efetuadas.

O que fará no momento?
Terminei meu trabalho aqui, retornarei para o meu país

Quando você escreveu a carta?
Escrevi na quarta após a reunião.

Então na coletiva da quinta você sabia que iria partir...
Quinta eu dei algumas respostas para não afetar a preparação para a partida. Ninguém sabia da minha decisão até agora.

Haverá uma encontro com Vincent Labrune?
Não há discussão a ser feita. Chegamos a um acordo, mas o clube através de duas pessoas desejaram a alteração. Eu expliquei minha decisão em escrit para evitar alguma confusão.

Isso significa que Labrune não é o verdadeiro mandatário do OM?
Não mesmo. Ele sempre foi a autoridade acima de mim e sempre reconheci isso.

Não acha que isso é um desrespeito junto ao clube?
Eu respeitei totalmente o clube, não vejo algum erro no meu comportamento. Fiz todos os meus esforços para seguir no OM. Quando não estive em Marseille, estive na Argentina. Foi dito que estava de férias e que não estava trabalhando, enquanto observei trinta jogadores assistindo quinze partidas por semana. Sempre trabalhei com o pensamento focado em continuar aqui. Isso é o que eu queria, era o meu desejo. Chegamos a um acordo, mesmo com o clube tendo o direito de mudar a sua opinião. Eu tenho o direito de tomar essa decisão. Não tenho problema com o clube ou com o presidente. Mas quando as coisas são modificadas após um acordo, não podemos ter a mesma confiança.

O que dirá para os jogadores que foram requisitados por você?
Nenhum jogador vem através de mim. Não é bom para um clube como o Marseille precisar de um treinador para trazer jogadores.

Você será treinador do México?
Lhe falarei algo e espero que você acredite em mim. Para continuar em Marseille, houveram algumas ofertas que não entraram no meu interesse, algumas delas que triplicavam meu salário. Não falei com ninguém da Federação Mexicana. Não estou saindo daqui para partir pra outro lugar. Tivemos um acordo e houveram mudanças. Não quero dizer que isto é errado.

Mas por dois meses foi atingido um consenso e, quando pensei que assinaria os documentos, o acordo foi modificado. Somente escutei e tomei conhecimento das alterações. Perguntei se eles tinham autoridade para realizar as tais mudanças e o diretor geral e o advogado da acionista disseram que sim. Não quero aceitar as novas mudanças, sobretudo como aconteceu. Não há nada de errado com a minha decisão quando as coisas acontecem desta maneira.

Em um comunicado divulgado no site oficial do clube, o presidene Vincent Labrune declarou que está extremamente surpreso com a decisão de Marcelo Bielsa e as declarações feitas na última quinta (8) não estão em sintonia com o que foi dito neste sábado. O comando técnico do clube ficará por conta de Franck Passi, integrante da comissão técnica permanente, de forma provisória. Na próxima rodada, o Olympique encara o Stade e Reims, fora de casa, no domingo (16). O clube ocupa a 19ª posição após ter disputado a primeira rodada da Ligue 1.