Em julho, as expectativas do Napoli para a temporada eram outras. Depois de uma temporada em que muita coisa não deu certo, era a hora de recomeçar algumas coisas do zero. Apesar da manutenção da espinha dorsal do time, novas contratações e, especialmente, novas figuras, como as do diretor-esportivo Cristiano Giuntoli, e a do técnico Maurizio Sarri.

Vieram boas contratações junto ao Empoli, como Hysaj e Valdifiori, algumas voltas de empréstimo como a de El Kaddouri, outras contratações pontuais como Chiriches e, além dos empréstimos do goleiro Gabriel e do meia Chalobah, as mais exaltadas, a volta de Reina como titular do gol napolitano, e a contratação de Allan para a volância.

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Boas contratações. Mas que vistas em comparação com as milionárias contratações de Juventus, Roma, e principalmente Milan e Inter, não faziam os napolitanos serem cotados para a vaga da Uefa Champions League, com algumas opiniões dizendo que nem na Uefa Europa League o Napoli se classificaria. Que dirá brigar em algum momento por título. Ainda mais depois do caso da contratação fracassada de Soriano no último dia da janela de transferências. 

Na pré-temporada, o Napoli testou novos esquemas táticos. Saiu do tradicional 4-2-3-1 de Benítez para o 4-3-1-2 que Sarri usou por muito tempo no Empoli. Após o sucesso na pré-temporada, vieram os primeiros jogos: primeiro, uma derrota de virada na estreia para o Sassuolo por 2 a 1. Depois, apesar de abrir dois gols de vantagem frente a Sampdoria com a primeira doppietta na temporada, sofreu o empate com outra doppietta, mas dessa vez de Éder.

Logo depois, empate por 2 a 2 com o Empoli fora de casa, e foi o pior começo do Napoli desde o rebaixamento em 2000/01. Era uma época enorme de críticas. Até Diego Maradona fez a sua. Muitos, tal qual Diego, passaram a achar que Sarri não era um nome à altura da grandeza do Napoli. O treinador reagiu com humildade às críticas e começou a trabalhar em um novo esquema tático: o 4-3-3.

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O resultado começou a surtir efeito em uma semana especial. Primeiro, na estreia da Europa League diante do Brugge, uma goleada por 5 a 0, com a formação do 4-3-3 fazendo as jogadas pelo meio e pelas pontas fluírem com qualidade. Depois, o 5 a 0 na Lazio, com um futebol tão espetacular quanto, e a resposta dentro de campo para as críticas, com destaque para o show de Higuaín.

Depois dessa semana de "manitas", o empate em 0 a 0 contra o catenaccio do Carpi não se tornou tão ruim. E viria o tão desejado e aguardado clássico contra a Juventus, que acabaria sendo o jogo que decolou a temporada napolitana. Uma ótima atuação, defensivamente segura, e ofensivamente com partidas excepcionais de Insigne e Higuaín, que marcaram os gols que ganharam o clássico contra a rival bianconera por 2 a 1. 

A partir daí, o Napoli decolou na temporada. Uma vitória com um golaço de Higuaín por 2 a 0 contra o Legia Varsóvia na Europa League, e aí os partenopei vinham embalados pro clássico contra o Milan. Aquele jogo no San Siro se tornaria inesquecível, pela atuação do time, e pelos 4 a 0, que foi a segunda maior derrota da história do rival rossonero em seus domínios.

Depois de uma pausa pra data Fifa, outro jogo importante para ascensão na tabela diante da Fiorentina, um jogo de xadrez, equilibrado, que o Napoli saiu à frente com Insigne, depois sofreu o empate com Kalinic. O gol de Higuaín novamente decidiu tudo e deu aos napolitanos, além da vitória, a vice-liderança. Em seguida, mais uma sequência de vitórias: diante do Midtjylland na Europa League por 4 a 1, o gol decisivo de Higuaín diante do Chievo, o monólogo nos 2 a 0 contra o Palermo, até que veio o empate sem gols diante do Genoa, com reclamação partenopea pelo pênalti não marcado em Higuaín.  

Enquanto o time reserva ia goleando de novo o Midtjylland e já resolvendo a vida na Europa League cedo, outra vez Higuaín seria manchete, após marcar o gol da vitória diante da Udinese. Logo após outra parada pra data Fifa, o clássico contra o Hellas Verona, com dificuldade, mas com vitória importante por 2 a 0 diante de um público adversário hostil e por vezes racista com cânticos de discriminação territorial contra os napolitanos.

Aí se chegava a um ponto importante da temporada: confronto direto contra a líder Internazionale, era a chance de pela primeira vez no campeonato e em 25 anos ser líder isolado de uma rodada da Serie A. O San Paolo estava lotado, a ansiedade era imensa pra aquela noite de 30 de novembro. E os dois gols de matador de Higuaín fizeram o sonho ficar vivo. Apesar do gol de Ljajic, Reina foi herói com uma defesa épica no último minuto, e fizeram com a vitória de 2 a 1 a liderança voltar aos pés do Vesúvio. O sonho do scudetto que antes, apesar do futebol apresentado, era loucura, passava a ser possível.

Mas tudo voltaria a se perder com a derrota por 3 a 2 para o Bologna, com um misto de partida ruim com gol irregular, falha de Reina e Higuaín quase salvando tudo no fim. Depois, um 0 a 0 com a Roma em uma noite inspirada de Szczesny, enquanto na Europa League o time napolitano passou como um trator por Brugge e Legia, e na Copa Itália, começou com um 3 a 0 sobre o rival Verona. E a série sem ganhar na Serie A voltaria a ser derrubada em importante vitória por 3 a 1 diante da Atalanta, que encerrou o ano com o Napoli na cola das líderes Inter e Fiorentina. O retorno do ano seria com a vitória diante do Torino por 2 a 1. 

E com a goleada sobre o Frosinone por 5 a 1 na última rodada do turno, com os shows de Hamsík e Higuaín, pela primeira vez desde 1990, o Napoli terminou o turno como líder, muito graças ao tropeço da Inter horas antes diante do Sassuolo, fazendo a liderança cair no colo napolitano. Em meio a isso tudo, veio a eliminação na Copa Itália após derrota para a Inter com o time reserva. Se dentro de campo a saída do torneio não foi tão dolorosa tecnicamente, fora de campo o foco era nas polêmicas entre Sarri e Mancini fora dele, com acusações de homofobia por parte do técnico interista.

A liderança seria mantida por algumas partidas de grande nível mais uma sequência de vitórias: na primeira virada da temporada diante do Sassuolo, show de bola na Sampdoria, outro espetáculo futebolístico diante do Empoli, em goleada por 5 a 1, vitória no clássico marcado por racismo contra Koulibaly diante da Lazio por 2 a 0, e em seguida, vitória magra com o Carpi. Tudo isso embalaria o Napoli para uma boa sequência de vitórias que o manteve por seis rodadas na liderança no campeonato. E havia um clássico aguardado mundialmente na 25ª rodada.

Tudo se encaminharia para um duelo direto contra a perseguidora direta, a Juventus, que vinha de uma série incrível de vitórias desde outubro. O clássico vinha igual até os minutos finais, quando Zaza chutou de longe, a bola desviou em Albiol e entrou. A liderança mudava de mãos e ia para a Juve. Em meio à derrota no jogo de ida para o Villarreal com os reservas, a Juve vacilaria diante do Bologna, era a chance de ouro de voltar à liderança, mas o Napoli tropeçou no catenaccio montado pelo Milan de Sinisa Mihajlovic e empatou por 1 a 1, perdendo a chance de assumir a ponta novamente na rodada seguinte.

Depois, mesmo jogando melhor diante do Villarreal no San Paolo com time misto, veio a eliminação, com um lance de azar. As atenções se voltavam só para a Serie A, onde em um jogo parelho, o Napoli empatou fora de casa diante da Fiorentina, em um resultado bom para o jogo, mas ruim pela distância aumentada para a Juve. Quando a sequência difícil acabou, no mês de março o Napoli soube colocar as coisas no lugar: vitória de virada contra o Chievo em casa, vitória contra o Palermo fora por 1 a 0, e depois com a estrela de Higuaín brilhando na hora certa para virar o jogo diante do Genoa. 

E depois da data Fifa, derrota para a Udinese por 3 a 1, e em seguida, após expulsão em campo, a polêmica suspensão para Higuaín por quatro partidas, que depois seria reduzida a três que gerou enorme comoção e revolta por parte da torcida napolitana, que perdia ali seu grande nome do campeonato. E a distância aumentou, depois se manteve após a vitória que praticamente despachou o rival Verona para a Serie B. E o tiro de misericórdia nos sonhos remotos de título que faziam a torcida sonhar com um milagre, veio após a derrota polêmica no clássico contra a Inter. Depois, uma goleada com show de Mertens e Gabbiadini com um 6 a 0 diante do Bologna. 

E veio o clássico contra a Roma: a volta de Higuaín, e a necessidade de vencer para praticamente garantir a classificação para a Champions. Por diversos minutos, o Napoli se portou como quem joga para empatar. E nos minutos finais, foi punido com a derrota e o gol de Nainggolan. As rodadas finais tiveram caráter mais decisivo do que nunca. A Roma não perdeu seus jogos, e o Napoli também não. Os napolitanos venceram a Atalanta com alguns momentos de tensão, mas maioria de tranquilidade. Depois, importante vitória diante do Torino que facilitou tudo para o confronto no San Paolo.

Era só vencer o Frosinone para garantir o objetivo da temporada em julho. O objetivo que Sarri disse na pré-temporada: "De Laurentiis [presidente do clube] pediu para trazer o Napoli de volta à Champions". E o jogo, apesar de ser contra um já rebaixado, veio com dificuldade. Dificuldade para marcar o gol nos primeiros minutos. A Roma ainda saiu à frente diante do Milan, a tensão aumentava. Mas lá estava Hamsík para abrir o placar. E com o show de Higuaín na segunda etapa, veio a classificação.

Veio o recorde de pontos, o maior na história do Napoli na Serie A, com 82. Veio o recorde de gols do clube, 106 em uma temporada, batendo os 104 de 2013/14, e o recorde do maior artilheiro em uma temporada da história, e ele era de Gonzalo Higuaín, que chegou a temporada criticado, mas abraçado por Sarri, e passou o recorde da temporada 1949/50 de Nordahl, então no Milan, marcando 36 gols.

Foi uma temporada inesquecível para o torcedor do Napoli pelo futebol apresentado, pelos momentos de brilho, briga pelo título e pelos clássicos vencidos. Mas diferente da temporada passada, onde o torcedor tinha medo do futuro que estava por vir após as saídas de Riccardo Bigon e Rafa Benítez, hoje ele confia nas figuras de Cristiano Giuntoli e do técnico Maurizio Sarri. E principalmente, terá no coração a figura dos grandes jogadores dessa temporada, como Koulibaly, Jorginho, Allan, Insigne, Callejón, e principalmente, o capitão Hamsík e o maior artilheiro de todos os tempos em uma só edição da Serie A: Higuaín, que entrou de vez no panteão dos ídolos de sempre dos azzurri partenopei