Quem olhava a tabela da Serie A após a décima rodada não apostaria no quinto título seguido da Juventus. A derrota para o Sassuolo deixava a equipe de Turim estacionada nos 12 pontos, 11 atrás da líder Roma e outros nove de Inter, Napoli e Fiorentina. Muitos pontos para tirar, outros tantos rivais para superar e, na conta, um dos piores início de Serie A em 53 anos. As saídas de Vidal, Pirlo e Tévez foi um duro golpe para Massimiliano Allegri administrar.

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Por todos os lados já se falava sobre o possível novo número 1 da Itália. A Roma parecia que finalmente sairia do papel de coadjuvante para destronar a Vecchia Signora, que se apoderava há anos no trono. A Internazionale ressurgia de temporadas ruins para brigar na ponta, com uma defesa revigorada por Roberto Mancini. Liderado por Gonzalo Higuaín, o Napoli era outro postulante, assim como a surpreendente Fiorentina, do bom técnico Paulo Sousa.

Mas e a Juventus? A equipe que vinha de uma temporada com o título da liga, campeã da Copa Itália e finalista da Champions League era excluída dos pretendentes ao título. Mas o passado e o futuro mostraram a todos que desconsiderar a maior campeã italiana da história era um erro. A derrota para os neroverdi, lá em outubro de 2015, foi o ponto de partida de uma ressureição épica, que até para os torcedores bianconeri parecia impossível.

A ascensão não foi fácil e começou de forma dramática. O marco da reviravolta ficou destinado no dérbi contra o Torino, que vinha sedento para derrubar mais ainda os rivais e se aproximar das primeiras colocações. Após Pogba abrir o placar com um lindo chute de fora da área, o Toro igualou o placar na segunda etapa com Bovo. O 1 a 1 parecia ser o resultado final da partida, mas Cuadrado não deixou. O colombiano balançou as redes quando o cronometro marcava 93 minutos. Vitória suada, importante, mas que em uma perspectiva a diante preocupava, tamanha dificuldade para conquistar três pontos.

O enredo do título começou a ganhar seus protagonistas a partir daí. Dybala certamente é um deles. Artilheiro da equipe no campeonato, com 19 gols, a joia argentina ainda não tinha despontado na Velha Senhora. As três partidas seguintes provariam que, em Turim, ninguém mais sentiria a ausência de Carlitos. Contra o Empoli, um gol na vitória por 3 a 1. Na sequência, Paulo marcou o tento do triunfo diante do Milan, na época, confronto direto por vaga na Uefa Europa League. Contra sua ex-equipe, o Palermo, o hermano não foi às redes, mas serviu seu companheiro Mandzukic na vitória por 3 a 0. Dybala finalmente era realidade na Juventus.

Dybala e Morata celebram vitória no Juventus Stadium (Foto: Getty Images)
Dybala e Morata celebram vitória no Juventus Stadium (Foto: Getty Images)

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A Juventus chegaria a incrível marca de 15 vitórias na Serie A. E alguns jogos foram chave para o êxito do time de Turim, todos, carregados de tensão e emoção. Primeiro, em casa contra a Fiorentina. A Viola saiu à frente logo aos três minutos e parecia que a retomada iria por água abaixo. Mas a reação foi quase que imediata: Cuadrado igualou o placar. A partida seguiu truncada até os dez minutos finais, quando Mandzukic deu fim à agonia da torcida no Juventus Stadium e virou o placar. Dybala ainda ampliaria aos 91 minutos. Festa em Turim.

Principais rivais da Juve na disputa pelo título, Roma e Napoli eram jogos cruciais para as pretensões da equipe de Allegri no segundo turno. Os bianconeri não tiveram sucesso no primeiro embate, contra ambas, mas agora os recebia em sua casa. Contra o time da capital, na 21ª rodada, o drama até o gol da vitória durou 77 minutos. Foi encerrado após Dybala romper o paredão polonês Szczesny e garantir três pontos fundamentais, que deixaram a Juve manter a diferença para o Napoli em dois pontos (47 a 45).

Pogba e Dybala: dupla brilhou em diversos jogos na Serie A (Foto: Getty Images)
Pogba e Dybala: dupla brilhou em diversos jogos na Serie A (Foto: Getty Images)

Quatro rodadas à frente, agora acumulando 14 triunfos seguidos, Juventus e Napoli fizeram a "final" do Campeonato Italiano. Os azzurri, com 56 pontos, buscavam manter a vantagem de dois pontos para a Velha Senhora (54), portanto, um empate em Turim seria um bom resultado. Para os donos da casa, só a vitória importava. Juve e Napoli tiveram oportunidades, mas Buffon e Bonucci de um lado e Reina do outro evitaram a abertura do placar. Somente aos 88, Simone Zaza, um herói improvável, desentalou o grito de gol da torcida branca e negra com um chutaço de fora da área. Gol que colocava a Juventus no topo com 57 pontos, para não sair mais.

O Napoli ainda teve a chance de retomar a liderança, já que na rodada seguinte a Juve teve sua sequência de 15 vitórias quebrada no empate sem gols com o Bologna. Porém, os azzurri também empataram com o Milan. A Juve seguiu forte, acumulou 26 jogos sem perder e foi campeã com três rodadas de antecedência, após o Napoli tropeçar diante da Roma. A campanha contou com 29 vitórias, quatro empates e cinco derrotas, somando 91 pontos. O time de Allegri teve o segundo melhor ataque, com 75 gols e a melhor defesa, apenas 20 sofridos.

O título escancarou a superioridade da Juventus na Itália. Mesmo com o início ruim, Napoli, Roma, Fiorentina e Inter não tiveram a consistência necessária para brigar com o time bianconero, que após embalar, atropelou todo mundo. Perder jogadores importantes como Pirlo, Tévez e Vidal afetou, mas ao longo da temporada Allegri soube encaixar as peças.

Destaques individuais

Khedira, ainda que sofresse com as lesões, foi importante. Nas 20 partidas que fez no torneio, contribuiu com cinco passes e cinco gols. Além disso, o volante foi importante na articulação do jogo da Juve sem a bola. Pogba sentiu o peso da camisa 10 de início, mas conseguiu assumir a posição de maestro dos bianconeri e foi fundamental com seus gols, passes e dribles.

Khedira, peça mais que importante na campanha vitoriosa da Juve (Foto: Getty Images)
Khedira, peça mais que importante na campanha vitoriosa da Juve (Foto: Getty Images)

Na defesa a Juve foi irredutível. Apenas 20 gols sofridos, graças a atuações milagreiras de Buffon, como na vitória por 2 a 1 diante da Viola na 35ª rodada. A defesa de pênalti do arqueiro garantiu que o título fosse comemorado no dia seguinte. À frente dele, Bonucci se mostrou um líder, o mais destacado do trio de defensores. Eficiente na marcação e na saída de bola. 

Dybala e Alex Sandro (Foto: Getty Images)
Dybala e Alex Sandro (Foto: Getty Images)

Pelo lado esquerdo, Alex Sandro apareceu para resolver de vez as dúvidas do setor. Depois de anos com De Ceglie, Asamoah e Evra, o brasileiro fez excelentes atuações que o colocaram nas graças da torcida. O forte apoio do ala foi preponderante em vários jogos, como diante do Milan em Turim, quando fez a jogada para o gol de Dybala; ou no gol marcado na vitória por 4 a 0 diante da Udinese, no Estádio Friuli.

Mandzukic, Morata, Zaza, Cuadrado, Marchisio, Padoin e tantos outros. A Juve não teve um jogador protagonista na campanha do título: teve um elenco. O Napoli tem Higuaín como o dono do time, a Velha Senhora tem seu time inteiro sendo decisivo. O coletivo é mais forte; as ambições do grupo são primordiais. E nada disso seria possível, sem alguém para adestrar o grupo. Massimiliano Allegri soube conciliar as perdas e remontar uma equipe para o título. O grande passo para a próxima temporada é ser forte na Europa, pois a Itália já tem dona.