A temporada 2015/16 terminou e deixou o Sul da Itália satisfeito, talvez não tanto quanto se chegou a esperar à certa altura da Serie A. Porém, os frutos do trabalho do técnico Maurizio Sarri foram colhidos e pode se dizer que o Napoli teve uma ótima temporada. Um início conturbado pôs em dúvida as capacidades do treinador partenopeo, mas a consistência tática da equipe mesclada com a extraordinária fase do artilheiro Gonzalo Higuaín recolocaram os azzurri nos trilhos, e fizeram com que o time chegasse quase até a última rodada brigando pelo scudetto.

O título não veio, mas sim o vice-campeonato e com ele a vaga direta para competição mais cobiçada da Europa: a Uefa Champions League, que proporcionou grande alento para toda a torcida napolitana, que não via um elenco tão forte e bem treinado desde a era Maradona, e que agora esperam nesta temporada que vem a seguir essas alegrias sejam maiores ainda.

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Contudo, engana-se quem presume que o Napoli se resume apenas em seu centroavante matador. Uma defesa segura e regular, orquestrada pelo até então desconhecido senegalês Kalidou Koulibaly, capacitou a equipe de Sarri, dando-o tranquilidade para por em prática seu jogo ofensivo e de posse de bola. Outra arma fundamental foi a trinca de meio campo, formada pelo brasileiro e ex-Vasco Allan, o também brasileiro, porém naturalizado italiano, Jorginho, e o capitão e ídolo Marek Hamsík. Dando suporte defensivo e aparecendo com frequência no campo do adversário para armar e até finalizar ataques, os três volantes também foram fundamentais para a campanha napolitana.

Os azzurri tiveram um início de temporada difícil, Sarri ainda não havia encontrado um estilo de jogo e isso o obrigou a abandonar seu habitual esquema – tudo ainda era visto como uma grande aposta. Demorou pouco mais de cinco rodadas para que o time se encontrasse e que a aposta desse certo. O treinador napolitano precisava se livrar de fantasmas que assombravam a torcida e consertar erros que permaneciam na equipe, entre eles a defesa. Setor que foi tão criticado na temporada passada quando Raúl Albiol jogava ao lado de Miguel Britos. Com a saída do uruguaio, Koulibaly teve sua grande chance e a cada jogo que se passava conquistava seu espaço e se tornava mais importante para equipe.

Koulibaly e Albiol: dupla de zagueiros superou as expectativas (Foto: Divulgação/Napoli)
Koulibaly e Albiol: dupla de zagueiros superou as expectativas (Foto: Divulgação/Napoli)

O até então desconhecido Kalidou Koulibaly conquistou sua titularidade no time do Sarri e a confiança da torcida, jogando ao lado de Albiol, que evoluiu bastante ao longo da temporada. Fechando a defesa temos o lateral-direito Elseid Hysaj, que como seu treinador, também veio do Empoli, outro que fez uma temporada acima da média, substituindo o já veterano Maggio, dono da posição nas temporadas anteriores.

Do outro lado, temos Faouzi Ghoulam: este deu mais velocidade à ponta e soube cumprir bem sua função tática. Fechando assim a defesa napolitana, os quatro deram consistência ao time, não se prenderam apenas à função defensiva, mas também deram certa ofensividade ao time. Chegaram a ficar sete jogos consecutivos sem levar um único gol. Nesta edição da Serie A, o Napoli tomou 22 gols a menos que no campeonato passado, tendo sofrido 32 gols nesta temporada e 54 na anterior – uma redução considerável. Terminando com uma média de menos que um gol por jogo, o Napoli criou uma defesa concisa e podemos dizer que até invejável.

Na linha em frente à zaga, três jogadores quebram o pensamento arcaico do volante brucutu que não sabe jogar com a bola nos pés e só defende. Maurizio Sarri não inventou a roda com sua trinca de volantes. O esquema 4-4-3, com três meio campistas em linha, dois pontas e um centroavante já era usado nas temporadas anteriores por Rafael Benítez. Na ocasião, o trio de meio campo era formado, na maioria das vezes, por Bherami, Inler e Hamsík. Na parte final do trabalho do espanhol à beira do gramado, David López já havia substituído Bherami, pois este se transferirá para o Hamburgo.

O que o atual treinador do Napoli fez foi aperfeiçoar esse sistema com jogadores mais técnicos e que passassen segurança para equipe na transição do campo de defesa para o de ataque, bem como na recomposição rápida após a perda da posse de bola. Allan, que chegou da Udinese, substituiu Inler, que se transferiu para um desacreditado Leicester, naquela época. Jorginho que já estava no elenco tomou a posição de David López. E, claro, o símbolo dessa guinada napolitana nos últimos anos, o capitão Marek Hamsík comandou o meio campo.

Adeus aos "brucutus": Allan, Jorginho e Hamsík deram muita qualidade ao meio-campo (Foto: Divulgação/Napoli)
Adeus aos "brucutus": Allan, Jorginho e Hamsík deram muita qualidade ao meio-campo (Foto: Divulgação/Napoli)

Um time com mentalidade ofensiva, com boa média de posse de bola, linhas altas e pressão na saída de bola do adversário. Esse foi o Napoli na temporada 2015/16. Talvez o suporte de todo o esquema tenha sido o meio campo napolitano. Juntos, os três atletas somaram, em toda temporada, 11 gols e 24 assistências, além de terem atuado em quase todos os jogos da Serie A. A regularidade também foi chave para o sucesso do trio. Mas, acima de números, é preciso olhar com melhores olhos para esse setor de campo dos azzurri, que com certeza foi a base para o sucesso de jogo do Napoli nesta temporada.

Não se pode negar a campanha extraordinária que o clube fez, trouxe de volta esperança aos torcedores, com o que denominam “sarrismo”. O time acumulou 25 vitórias, sete empates e apenas seis derrotas ao longo da Serie A, graças a um elenco bem estruturado, organizado e unido. Que joga junto à sua torcida e vibram a cada gol. Um grupo que não depende apenas de um, mas sim que atuam como um todo: este foi no Napoli que encantou a Itália nesta temporada.