Definitivamente, este 20 de abril de 2014 ficará para sempre na memória de todos os torcedores do Zwolle. O domingo de Páscoa marcou a história do modesto clube do leste holandês Prins Hendrik Ende Desespereert Nimmer Combinatie Zwolle. Neste dia, o clube de nome grande foi gigante para cima do maior de todos: o Ajax.

Tendo chegado à final da KNVB Beker apenas duas vezes em sua história – nas temporadas 1927/1928 (como PEC) e 1976/1977 – e sendo vice nas duas ocasiões, o Zwolle chegou à decisão de 2013/2014 após passar por Fortuna Sittard (2×0), Wilhelmina ’08 (4×0), Excelsior (4×1), JVC Cuijk (5×1) e NEC Nijmegen (2×1).

Por ter enfrentado adversários considerados fracos – e também por ser visto como um time deste nível -, chegou à final como a grande zebra da competição, enquanto o Ajax, que passou por FC Volendam (4×2), ASWH (4×1), IJsselmeervogels (3×0), Feyenoord (3×1) – seu grande rival -, e AZ Alkmaar, por 1×0, era tido como o franco favorito.

Qualquer um apontaria uma vitória fácil do Ajax, que estava com uma mão e meia no prato da Eredivisie e é, com folga, o melhor time da Holanda há pelo menos quatro anos. Seria a primeira KNVB Beker de Frank de Boer, que é tricampeão holandês, mas que nunca havia conquistado a Copa. Tinha tudo para ser. Mas não foi.

O Ajax, crente que levaria este título, foi para o jogo ligeiramente desconcentrado, além de mostrar muita tranquilidade. Logo no início, aos três minutos, já abriu o placar com van Rhijn, que soltou a bomba de fora da área e acertou o chute. Gol do título? De forma alguma. O jogo estava apenas começando.

Após o gol, vários sinalizadores foram atirados no gramado do De Kuip, forçando a paralisação da partida. Edwin van der Sar, ídolo e diretor geral do Ajax, teve que entrar em campo e pedir calma à minoria baderneira. Depois de 25 minutos, a partida foi reiniciada.

Esta pausa acabou sendo o divisor de águas no jogo. Enquanto o Zwolle voltou muito motivado, o Ajax relaxou, sentindo-se confortável com a vantagem. Começou a jogar apenas no toque de bola, mas sem tanta eficiência. Acabou sofrendo as consequências, e elas não demoraram para aparecer. Aos oito, Ryan Thomas empatou o jogo e, três minutos depois, virou. O Ajax, que mostrava tranquilidade, começou a ficar nervoso. O esperado domínio não se concretizou, o time passou a errar muito e, com base nestes erros, o Zwolle fez história.

Vermeer, que operou milagres na semifinal contra o AZ Alkmaar, não conseguiu salvar o Ajax no jogo mais importante da competição. Não mostrou a segurança que apresentou contra o time de Dick Advocaat, foi apenas um dos jogadores que não mostraram tudo o que sabem e que acabaram pagando caro. O setor ofensivo do time de Amsterdam, composto por Sigthorsson, Schöne e Bojan, esteve muito abaixo da média, mas nada foi pior do que o lado esquerdo dos comandados por Frank de Boer. Boilesen e Serero estavam em um dia péssimo e o Zwolle, que apesar de limitado não é bobo, se aproveitou disso.

Mostrando um futebol rápido e objetivo, o time de de Ron Jans aumentou a vantagem com Guyon Fernandez – que está emprestado ao Zwolle. Sabe qual é seu time? Feyenoord. Jogava em casa. Aproveitando-se da saída de Vermeer, fez o terceiro e, após jogada rápida pela direita – setor mais lento do Ajax nesta partida -, fez o quarto de cabeça. Logo no início da segunda etapa, após confusão na área, van Polen marcou o quinto. Era a cereja no bolo do Zwolle.

Com a histórica goleada de 5×1 construída, o time de Jans se fechou e esperou o apito final. Aos 90 cravados, veio a glória. Veio a confirmação do maior título da história deste clube centenário que, até antes deste jogo contra o Ajax, tinha como maior feito os títulos da Eerste Divisie em 1978, 2002 e 2012 e os vices da KNVB Beker em 1928 e 1977.

O Zwolle provou que, mesmo com limitações, é possível alcançar a glória. Um time desacreditado por muitos conseguiu escrever seu nome em cima de um gigante, em cima do maior do país e um dos maiores do mundo. Agora, resta saber se a equipe conseguirá surpreender na Europa League da próxima temporada – o título da Beker garantiu vaga para os Blauwvingers nos playoffs da competição continental. Mesmo que não consiga, não tem problema. O que vier agora para este modesto clube é lucro. A história já foi feita.

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Sobre o autor
Bruno Secco
Jornalismo. Apaixonado por uma boa música e pelo bom futebol.