Entre o início da temporada de 2012 e setembro/outubro de 2015 o Liverpool se baseou em um ataque rápido e certas vezes sufocante, aproveitando-se quando era conveniente de um contra-ataque também veloz. A posse da bola era a base de toda essa estrutura e o antigo treinador Brendan Rodgers não escondeu isso em nenhum momento. “Gosto de ter a bola nos pés, evita que o adversário tenha chances de marcar”, dizia o norte-irlandês. Conceito de teoria inteligente, porém falho se não for bem executado.

Durantes as três inteiras temporadas que ficou no clube (foi demitido no início da quarta), a estatística de tempo de bola nos pés nos ajuda a entender a era Rodgers: na primeira temporada, 2012/13, conseguiu ter 58% em média no ano inteiro da posse da bola e a ‘grande teoria’ começava a tomar rumos porque sempre precisasse de tempo para adaptar-se às coisas. Na época seguinte, 2013/14, veio a cereja do bolo – ou quase isso. O Liverpool jogava um futebol vistoso e dos mais lindos e eficientes na Europa e por alguns deslizes individuais e coletivos o tão sonhado título da Premier League não veio. Ali foram, mais ou menos 56%, porém em sua grande maioria eficiente e não apenas passes laterais.

A terceira temporada poderia vir a ser a da glória do britânico no comando do time de Merseyside. Poderia. Após a copa, o Liverpool apresentou média de 55% da posse da bola mas, sem o seu principal nome no ano anterior, Luis Suárez, vendido ao Barcelona e com lesões de Daniel Sturridge, parceiro do uruguaio na artilharia vermelha, a equipe não conseguiu ir muito longe. Amargou um sexto lugar na PL e eliminação precoce na Champions League mostraram que a efetividade apresentada na época anterior se passava por Luisito e Sturridge. As melhores não foram apresentadas no ano seguinte e o treinador foi demitido em quatro de outubro.

O destino do Liverpool para o ano de 2015/16 estava bem traçado. Depois da demissão, o alemão Jürgen Klopp assumiu o time da terra dos Beatles depois de uma breve férias que tirou e a chegada do revolucionário trouxe perspectivas de novos horizontes depois dos sucessos obtidos com o Mainz e, principalmente, com o Borussia Dortmund.

Como supracitado, todo mundo precisa de tempo para adaptar à novos trabalhos, moradias, estratégias. Com um clube de futebol não é diferente e para que filosofias sejam impostas, precisasse a paciência e compreensão até que a anterior seja apagada - se for do feitio do novo comandante. A verdade é que a adaptação ao estilo Klopp de comandar as coisas veio logo de cara, na primeira temporada, mais especificamente com a vaga na final da Uefa Europa League.

Mesmo sem ter participado do mercado com os seus gostos, o alemão teve de chegar e tentar impor o que pensa do jogo para quem estava lá e isso nunca é fácil, aparentemente. Porém, o currículo de Klopp conseguiu ter impacto inicial com o que chamamos de confiança. Os jogadores tinham em quem confiar agora, diferente do que Brendan Rodgers passou a ter no final da temporada passada e início desta. Os atletas agora tinham novas perspectivas, como dito.

Em um campeonato de pontos corridos, uma filosofia demora para ser totalmente implantada e isso acontece porque já se sabe quem vai enfrentar quem e quando desde a pré-temporada, portanto tem-se um período maior de preparação contra os já certos adversários. Diferente disso, vem o mata-mata. Nele, você só sabe quem vai te desafiar em campo depois de um sorteio, portanto não se tem ‘todo o tempo do mundo’ para estudar o oponente como nos campeonatos nacionais. E isso certamente é um fator que ajudou esse ‘novo Liverpool’ no meio do ano.

Com a sua postura elétrica e de quem sente e aprecia o futebol, Jürgen conseguiu unir mais ainda uma torcida que já é conhecida pelo seu apoio incondicional ao seu time. Logo na sua entrevista de chegada, não quis se comparar a José Mourinho, falando que era o ‘Normal One’ em alusão ao ‘Special One’, como se descreve o português. Uma atitude de poucos: conseguiu, com uma resposta, ganhar mais respeito de seus torcedores atingindo um rival que não se sentiu ofendido – também pudera.

Tendo citado os atributos extracampo, vem finalmente onde se ganha o jogo: dentro das quatro linhas. O estilo de jogo que ronda a cabeça de Klopp é um pouco arriscado: uma pressão alta inteligente, onde os jogadores devem aprender a trabalhar como uma unidade quando se trata dela. Roubar a bola no campo do adversário e conseguiu trabalhar rápido para ser eficiente, senão induzir o oponente ao erro, além de transição veloz. Para conseguir isso, os jogadores precisam estar fisicamente preparados e com uma mente capaz de absorver, entender e colocar em prática tal estratégia. Isso o Liverpool tinha/tem.

Quando vem o termo ‘transição’ em jogo, é basicamente o ato de ir da defesa ao ataque com a bola e com a rapidez requerida. Ir à frente, pressionar, roubar a bola, marcar, voltar e repetir... É veloz e demanda grande resistência certas vezes. Também características que o material humano de Klopp tem. Ele sabe disso. Ele usou isso.

Agora, se o time tinha tudo – ou quase tudo – o que é necessário pro sucesso, o que faltava pro Liverpool alcançar o sucesso? Motivação. Algo que não é preciso lembrar que o manager alemão tem e sabe dar aos seus comandados. Um exemplo? A virada sobre o Dortmund nas quartas de final. Depois do intervalo, a equipe voltou diferente e conseguiu reverter um resultado que, para alguns, já estava determinado. Não é necessário dissertar sobre isso.

Melhoria tática, consistência, melhoras no meio campo, motivação, estratégia certa no momento certo, posicionamento, transição correta e eficiente (aos poucos vai ganhando essa cara) é o que o Liverpool de Jürgen Klopp tem, assim como o Mainz e o Dortmund do treinador. Nos dois últimos deu certo, se vai dar no inglês é preciso esperar quarta-feira (18) para o fim do primeiro capítulo. 

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Sobre o autor
Gerson  Barbosa
Mais um piloto de Fórmula 1 e jogador de basquete e futebol frustrado que viu no Jornalismo a forma mais prática de estar perto do que ama: o esporte. Contato: [email protected]