23 de abril de 2013. Esta será uma data em que jamais o atacante Michael irá se esquecer. Foi neste dia que ele marcava um gol que daria a vitória ao Fluminense. Pouco tempo atrás, havia marcado três gols numa mesma partida diante do Macaé, no dia 27 de março. O atacante estava no momento único em sua carreira, de reserva a titular absoluto, o atual camisa 20, que há dois anos estava nas categorias de base, viveu um dos piores momentos de sua vida.

'Acabei conhecendo coisas novas, que todo adolescente conhece, mas... acabei fazendo a escolha errada' – reconhece o jogador

Michael foi pego no exame antidoping por uso de cocaína e pegou 16 meses de suspensão. O jogador, que só a partir daquele momento apenas poderia treinar, recebeu todo o apoio do clube. O técnico da época Abel Braga o definiu como filho e sempre ofereceu ajuda. Demissão por justa causa, algo possível neste caso, foi descartada pelo presidente Peter Siemsen. ''Ele teria que apresentar ao tribunal exames toxicológicos mensais e também fazer palestras a jovens das divisões de base do Fluminense'' – explica o advogado Mário Bittencort.

Após disso, o atacante deu início a uma longa etapa de recuperação. No entanto, a dependência da droga não era uma tarefa fácil e então, pediu a internação. ''Optamos pela estratégia da internação quando o próprio Michael chegou um dia falando que não estava se sentindo confortável aqui fora. A modalidade de tratamento mais intensiva é a internação. A partir daí, ele teve uma progressão muito satisfatória'' – relembra o psiquiatra Gabriel Landberg.

Outra pessoa que foi fundamental na recuperação de Michael, além do psiquiatra Gabriel Landberg, foi a Rafael Nogueira, psicóloga. ''O tempo todo que ele esteve lá eu tive apoio do clube, algo fundamental porque tive autonomia para tratar o Michael não como um jogador de futebol, mas como um jovem normal. E isso foi o melhor que a gente pôde fazer por ele, tratá-lo como um sujeito... como um outro qualquer.''

O jogador se emocionou e foi às lágrimas quando lembrou dos 'anjos', como ele define os médicos que o trataram, e reconhece que ainda tem muita coisa pela frente: ''Eu acho que sim, que eu tenho uma pequena dependência... tenho sim, não vou negar, fiz meu tratamento, faço meu tratamento semanal. Mas é algo difícil. Pensei em parar, como eu disse eu achei que não ia dar conta. Eu vinha treinar e fazia tudo que todo mundo fazia, mas todo mundo ia ao jogo e eu ficava aqui. Ia para minha casa, então... aquilo foi me corroendo por dentro, sabe? Eu achei que uma hora eu ia explodir.''

''Logo no início eu fui apresentado a mais dois anjos desses, né, que eu digo que nós temos vários anjos: a doutora Raquel e o doutor Gabriel. Vou ser eternamente grato a esses dois, que  que me recuperaram como homem, sabe? Eu passei um período internado na clínica. Foram quarenta e três dias, assim, de muito sofrimento... Foi um dos piores momentos da minha vida, te confesso. Porque eu nunca imaginei isso para mim. Eu saí de casa com a intenção de ter uma boa vida, de dar uma boa vida ao meu pai...''

Anselmo Morais, pai do jogador, não soube explicar como o filho entrou para o mundo das drogas: ''A gente não consegue explicar, mas entrou e... eu falo para você que foi um dos momentos mais difíceis da minha vida''

18 de janeiro de 2014. Esta também será outra data em que Michael jamais irá esquecer. Foi neste dia que o jogador deu a volta por cima, marcando um dos gols do Fluminense na estreia do Campeonato Carioca de 2014. Ali, nasceu um novo Michael: ''Eu falei nas minhas palestras que a gente é o que é. E pode ser o que a gente quiser. Basta sonhar e acreditar no seu sonho.  Hoje eu sou feliz. Hoje eu me sinto... um novo Michael.''