Nesta quarta-feira (9), o Sport conquistou o terceiro título da Copa do Nordeste após empatar em um gol com o Ceará. Com a vitória por 3 a 1 no placar agregado, os rubro-negros levantaram a taça de campeão regional em pleno Castelão - a "orelhuda" da "Lampions League", como os nordestinos chamam carinhosamente.

Indubitavelmente, o principal nome da vitoriosa campanha do Leão da Praça da Bandeira veio do banco de reservas: o técnico Eduardo Baptista. O ex-preparador físico da equipe foi efetivado como treinador numa época em que o Sport era tratado como carta fora do baralho no Nordestão. O time tinha conquistado apenas um ponto nos três primeiros jogo e foi apontado pelo ex-técnico Geninho como eliminado. Eduardo, com seu espírito motivador, transformou o elenco, pôs seu notável conhecimento do plantel em prática e conseguiu superar todos os prognósticos. Mais um fato o qual prova que não existe lógica no futebol.

O Sport somou oito pontos na fase de grupos e se classificou para as quartas-de-final como segundo colocado do grupo D. Na primeira fase do mata-mata, eliminou o CSA de Oliveira Canindé, campeão da edição passada com o Campinense, em dois jogos dramáticos, após triunfar por 2 a 1 na soma dos dois placares. Na semifinal, o adversário era o rival Santa Cruz. Com vitórias por 2 a 0 na ida e 2 a 1 na volta, os leões foram soberanos no Clássico das Multidões e chegaram à grande decisão, na qual enfrentariam o Ceará, time com o melhor ataque do certame.

O status do Vozão não intimidou os rubro-negros. No primeiro compromisso da final, contou com o massivo apoio da torcida e venceu por 2 a 0. Na volta, soube lidar com a eventual pressão dos cearenses e arrancou a igualdade em 1 a 1. De eliminados a campeões, os comandados de Eduardo Baptista fizeram os adeptos da Ilha do Retiro se lembrarem de outro Baptista que levou o Sport ao topo: Nelsinho, pai de Eduardo, campeão da Copa do Brasil de 2008.

Seguindo os passos do pai: Eduardo Baptista iniciou sua carreira de técnico no início deste ano e já conquistou um título (Foto: Lino Sultanum)

Naquele ano, o plantel do Sport Recife poderia não ter um primor de técnica, mas tinha vontade e sabia aproveitar o fator casa, recursos que coincidentemente lembram o time campeão do Nordestão neste ano de 2014. Na copa nacional, eliminou os modestos Imperatriz e Brasiliense nas fases iniciais e, depois, obteve memoráveis classificações ao despachar Palmeiras, Internacional e Vasco. Na final, jogou "com o regulamento debaixo do braço" e obteve seu segundo título nacional de ponta - o primeiro foi o Campeonato Brasileiro de 1987, até hoje alvo de ações judiciais por parte do Flamengo, mas sempre com a vitória dos pernambucanos nos tribunais - quando bateu o Corinthians por 2 a 0 e ficou com o caneco devido à regra do gol fora de casa - na ida, foi derrotado por 3 a 1, marcando o gol de honra nos instantes finais.

Assim como a efetivação de Eduardo, a chegada de Nelsinho Baptista ao Sport veio cercada de dúvidas. O primeiro pela inexperiência - afinal, era um preparador físico bastante renomado que assumia o risco de ser treinador e poderia ser demitido do clube a qualquer instante, a depender dos resultados; muitos temiam que ele tivesse o mesmo fim de Mazola Júnior, ex-técnico das categorias de base e do time principal - e o segundo por carregar algo nada glorioso: o fato de não ter evitado o rebaixamento do Corinthians à Série B no ano anterior.

Nelsinho Baptista treinou o Sport entre dezembro de 2007 e maio de 2009 (Foto: Arquivo / Richard Souza)

Mas, na área técnica, os Baptistas demonstraram muita seriedade e foram peças fundamentais nas conquistas da equipe. Nelsinho também conquistou no ano de 2008 o Estadual - além da edição de 2009 -, competição a qual Eduardo ainda pode "copar" em 2014. Se o pai levou o Leão da Ilha do Retiro a uma competição internacional, a Libertadores de 2009, o filho levará o clube a outra, a Copa Sul-Americana de 2014.

"É um exemplo de homem e profissional. Além de filho, trabalhei com ele dez anos. Sempre procurei tirar os ensinamentos dele", disse o atual comandante rubro-negro em entrevista ao Blog do Torcedor.

A relação entre pai e filho é deveras afetuosa. Prova disso foi o telefonema surpresa de Nelsinho, hoje treinador do clube japonês Kashiwa Reysol - e também anda fazendo sucesso em terras japonesas, pois foi eleito o Técnico do Ano na J-League em 2011; tirou o Reysol da segunda divisão e o levou ao topo do futebol do Japão, sendo o primeiro clube recém-promovido a obter o título do primeiro escalão por lá -, a Eduardo logo após a confirmação do título nordestino para as mãos do Sport. Fazendo seu papel de "paizão", Nelsinho Baptista disse ter orgulho do filho, o incentivou a continuar sua curtíssima carreira de treinador e ressaltou a coincidência de ter dado alegrias à torcida leonina. Visivelmente emocionado, Eduardo Baptista retribuiu a gentileza e declarou seu amor a quem o criou e o educou.

O momento se deu na cabine de imprensa do canal Esporte Interativo, detentor dos direitos de transmissão da Copa do Nordeste, no Estádio Castelão e realmente é de emocionar.

A curta conversa estabelece uma certeza: a família Baptista está eternizada no Sport. Mais do que ajudar o Leão a voltar a obter conquistas de maior âmbito, eles devolveram aos torcedores rubro-negros o orgulho de torcer pelo time do coração. E, além do mais, ajudaram o clube a ganhar mais torcedores. Recentes pesquisas apontam que a torcida do SCR é uma das que mais crescem no Brasil.

Se o Sport Club do Recife é o que é hoje, deve muita coisa ao pai Baptista e ao filho Baptista. Se todo rubro-negro fanático quisesse e/ou pudesse, iria ao cartório agora mesmo para acrescentar esse sobrenome ao nome completo.