Após um ano de transição no qual uma nova esperança pareceu surgir, o Santos chega para a disputa do Campeonato Brasileiro com a ambição de conquistar voos ainda maiores que apenas a sétima posição do ano anterior.

A chegada de Oswaldo de Oliveira consolidou a presença de alguns Meninos da Vila na equipe titular e o futebol ofensivo voltou a dar as cartas na Vila Belmiro mesmo depois da decepção de perder o Campeonato Paulista para o Ituano. Jogando um futebol bonito e cheio de gol, o Peixe acredita que pode ser protagonista. Neste guia, a VAVEL Brasil comenta toda a preparação do Santos para o Brasileirão.

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Memória

O ano de 2004 era o segundo do regulamento por pontos corridos no Campeonato Brasileiro e o Santos que havia sido o último campeão a ter disputado uma final estava confiante em conquistar o país pela segunda vez em três anos.

O time tinha perdido vários jogadores do título de 2002, como Renato, Alex, Fábio Costa, Maurinho e Diego, mas contratou Ricardinho para o meio-campo e Deivid para o ataque. Além disso, tinha conseguido a manutenção de Robinho para 2004. O técnico era Wanderley Luxemburgo, campeão com o Cruzeiro em 2003.

O Brasileiro de 2004 foi uma briga acirrada entre o Santos e o Atlético-PR. As duas equipes se alternavam na liderança da competição rodada após rodada com uma pequena vantagem para o time paranaense. O Peixe só conseguiu a liderança na penúltima rodada após derrotar o São Caetano e assistir o Vasco de Joel Santana, ameaçado de rebaixamento, conseguir vencer o Furacão.

O Santos sofreu muitos percalços ao longo da caminhada. Robinho, melhor jogador do Brasileiro, teve sua mãe sequestrada por 41 dias e nesse período ele não teve condições de atuar. O clube também perdeu vários mandos de campo por conta de objetos atirados pelo torcedores na Vila Belmiro.

Na última rodada, uma vitória por 2 a 1 sobre o mesmo Vasco jogando em São José do Rio Preto deu o segundo título brasileiro ao Santos. A dupla de ataque, Deivid e Robinho, marcou 21 gols cada e foi a principal arma da equipe ao longo da competição.

Elano, Ricardinho, Robinho e Deivid foram o destaque de 2004 (Foto: Divulgação / Santos)

Na última edição...

O Santos começou o Campeonato Brasileiro de 2013 apontado como um dos times que brigaria para não ser rebaixado, principalmente com a saída de Neymar e Muricy Ramalho. Mas sob comando de Claudinei de Oliveira a equipe conseguiu uma classificação tranquila.

A diretoria contratou diversos veteranos que não conseguiram render ao longo do Brasileiro, como Marcos Assunção, Renato Abreu, Renê Júnior e Everton Costa. Além de jovens com qualidade questionável como William José. A queda de rendimento de Durval e Léo também preocupavam a comissão técnica. A solução para a equipe foi, novamente, apostar nas categorias de base.

A surpreendente campanha fez o Santos sonhar com uma vaga para a Copa Libertadores da América, mas a inconsistência da equipe e a falta de experiência de Claudinei e de alguns jogadores fizeram a equipe perder pontos considerados fáceis e não conseguir a classificação.

A sétima posição, quatro pontos atrás do Botafogo, quarto colocado, foi uma campanha respeitável para o grupo de jovens jogadores que se misturavam a um grupo sólido de veteranos. As presenças de Aranha, Cícero, Arouca e Edu Dracena deram consistência para o crescimento do futebol de Gustavo Henrique, Alison, Gabriel e Geuvânio.

O nome de 2013: Cícero

O cenário para o Santos parecia ser mais preto do que branco quando o time perdeu Neymar, vendido ao Barcelona, o técnico Muricy Ramalho, demitido após o Campeonato Paulista, e também sofreu com as diversas lesões do argentino Montillo, mas o meia Cícero assumiu a responsabilidade de liderar a equipe no Campeonato Brasileiro.

Cícero chegou ao Santos no início de 2013 vindo de uma passagem frustrante pelo São Paulo, e depois de um bom Estadual virou o artilheiro a equipe no Brasileiro. Foram 15 gols na competição nacional e 24 ao todo no ano.

Além dos gols, o jogador foi o responsável pelas cobranças de falta e deu várias assistências ao longo do campeonato. O meia virou o comandante do meio-campo sendo responsável pela saída de bola da equipe, cobranças de faltas e chutes de longa distância, e além disso, aparecia muitas vezes na área para finalizar. Sua contribuição foi decisiva para a surpreendente campanha da equipe.

O início da temporada:

O Santos terminou o ano de 2013 de maneira esperançosa, uma nova leva de garotos estava subindo das categorias de base e a promessa do novo treinador Oswaldo de Oliveira em aproveitá-los parecia bastante séria. Além disso, o time antes mesmo do fim do ano anunciou a contratação de Leandro Damião.

O bicampeonato da Copa São Paulo de Futebol Júnior foi a senha para Oswaldo aproveitar os garotos aliada com a saída de Montillo e a falta de reforços (chegaram apenas Damião, Rildo e Lucas Lima) para o Campeonato Paulista.

Depois de três partidas oscilantes, duas vitórias por 1 a 0 e um empate com o Audax, o Santos começou a deslanchar com a goleada em cima do Corinthians por 5 a 1. A sequência de cinco vitórias terminou com uma derrota frustrante por 4 a 1 diante do Penapolense.

A partir dali, Oswaldo consolidou o esquema com quatro jogadores ofensivos e Arouca e Cícero formando a dupla de volantes e a equipe passou a encantar seus torcedores terminando a primeira fase do Campeonato Paulista com a melhor campanha marcando 39 gols em 15 jogos e tendo 100% de aproveitamento da Vila Belmiro. Nas quartas de final, o Santos conseguiu uma nova goleada, 4 a 0 sobre a Ponte Preta e na semifinal passou dramaticamente pelo único algoz na temporada, 3 a 2 no Penapolense.

A grande decepção do início do ano nem foi perder o título do Campeonato Paulista na disputa de pênaltis após perder a primeira partida por 1 a 0 e conseguir o mesmo placar no segundo jogo. O que ficou marcado foi o péssimo futebol apresentado em nos 180 minutos da decisão.

Quem comanda: Oswaldo de Oliveira

Depois de dois anos no Botafogo, um título do Campeonato Carioca e também classificar o clube carioca para uma Copa Libertadores da América depois de muitos anos, Oswaldo de Oliveira aceitou o desafio de comandar o Santos em 2014. A rejeição da torcida santista seria o primeiro empecilho a ser vencido pelo carioca de 64 anos. Em 2005 o técnico teve uma passagem curta pelo Peixe no qual dirigiu o time por 16 jogos com nove vitórias, quatro empates e três derrotas e depois de sua saída não deixou saudades.

No seu retorno optou por uma escalação mais conservadora utilizando uma dupla de volantes formada por Alan Santos e Arouca, aproveitando Cícero e Montillo mais a frente e Thiago Ribeiro e Geuvânio no ataque. E logo em seu segundo jogo, contra o Grêmio Audax pelo Campeonato Paulista, foi xingado pela torcida e respondeu com um gesto de “banana”. Mas a partir daí a relação de Oswaldo com o santista só melhorou.

Depois da saída do argentino para o futebol chinês e da chegada do atacante Leandro Damião, Oswaldo optou pela escalação de um quarteto ofensivo formado pelo centroavante ex-Internacional, por Thiago Ribeiro e os “Meninos da Vila” Gabriel e Geuvânio. Essa foi a principal obra do treinador que transformou o time no melhor ataque do Campeonato Paulista, vencendo vários jogos de goleada e encantando o torcedor.

Outro ponto positivo que o treinador atingiu foi o de aproveitar os jogadores da base que foram bicampeões da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Além dos titulares do ataque, efetivou Gustavo Henrique (que se lesionou) e Jubal na defesa, e deu chances para Lucas Otávio, Serginho, Diego Cardoso e Stéfano Yuri que ainda não tinham atuado pelos profissionais.

A mudança de postura para o segundo jogo da decisão do Campeonato Paulista quando resolveu voltar ao esquema com dois volantes ao sacar Gabriel para a entrada de Alison pode ser preocupante para o Campeonato Brasileiro, mas os últimos trabalhos de Oswaldo mostram que ofensividade é o seu foco.

Oswaldo de Oliveira quer conquistar o primeiro título pelo Santos (Foto: Divulgação / Santos FC)

Quem decide: Leandro Damião

Os 42 milhões de reais pagos ao Internacional em uma negociação que envolveu a participação de uma nova parceira, a Doyen Sports, fizeram de Leandro Damião a contratação mais cara da história do Santos.

Com isso, o atacante de 24 anos chegou com a obrigação de marcar muitos gols e ser o principal nome da equipe para a temporada de 2014 e no começo não pareceu corresponder ao investimento.

Nos primeiros jogos, ainda fora de forma, Damião parecia tornar a equipe do Santos mais lenta e menos eficaz, mas com o passar dos jogos foi melhorando fisicamente e o entrosamento com os companheiros de ataque começou a aparecer.

A principal função de Damião é marcar gols e foram cinco no Campeonato Paulista, mas além disso, o centroavante serve como pivô para a chegada de Geuvânio e Thiago Ribeiro pelos lados do campo e renderam até assistências do jogador para os companheiros.

A derrota no Campeonato Paulista poderá acrescentar uma pressão extra nos ombros de Damião e por isso ele deverá mostrar que poderá liderar o ataque santista em uma boa campanha no Campeonato Brasileiro senão poderá virar um “mico” no elenco da equipe.

A evolução tática de Damião e o seu entrosamento com a equipe, misturados com sua natural propensão a marcar gols são as maiores esperanças do Santos para uma grande campanha no Campeonato Brasileiro.

Quem promete: Gabriel

Muito antes de estrear nos profissionais, Gabriel era conhecido pelos torcedores do Santos e pintava como a cara do futuro da equipe após a saída de Neymar. E seu sucesso nas categorias de base lhe renderam o apelido de “Gabigol”.

Antes de completar 17 anos, Gabriel estreou pelo Santos no Campeonato Brasileiro de 2013 contra o Flamengo em maio. Em agosto, marcou o seu primeiro gol com a camisa do Peixe contra o Grêmio pela Copa do Brasil. Foram 14 jogos e dois gols no ano passado.

Com a chegada de Oswaldo de Oliveira, Gabriel ganhou a posição de titular e em 2014 já marcou sete vezes em 16 jogos no Campeonato Paulista. Além disso, o jovem entrou para a história ao marcar o gol número 12.000 do Santos, contra o Botafogo-SP.

Para o Brasileiro, Gabriel já desponta como o principal candidato a revelação. Podendo atuar tanto no meio-campo quanto no ataque, o garoto tem sido fundamental para o bom início de ano do Santos.

Gabriel é a principal promessa na Vila Belmiro em 2014 (Foto: Divulgação / Santos)

O desafio

O grande desafio do Santos no Campeonato Brasileiro será conseguir o equilíbrio entre ataque e defesa. A tática ofensiva da equipe montada por Oswaldo de Oliveira se mostrou muito pródiga em marcar gols, mas deixa a dupla de zagueiros muitos desguarnecida o que fez com que o técnico diversas vezes duvidasse de sua formação escalando um outro volante ao lado de Arouca.

A campanha de 2013 deu uma nova esperança ao Santos, mas o time precisa dar mais um passo em busca do reconhecimento dessa geração pós-Neymar. A luta por uma vaga na próxima Copa Libertadores da América poderá ser essa evolução esperada pela torcida e por todos que envolvem o clube.

A campanha na primeira fase do Campeonato Paulista deixou uma boa impressão na equipe de que no sistema de pontos corridos o Santos tem tudo para brigar nas primeiras posições, mas nem sempre os estaduais podem servir como parâmetro.

Se o Oswaldo conseguir o tão sonhado equilíbrio tático, o Santos pode pensar em brigar pelas primeiras posições, mas enquanto isso não ocorrer será apenas um time recheado de garotos que é divertido de assistir, mas que não vence (ou convence).

Avaliação VAVEL

Por tudo que se viu na disputa do Campeonato Paulista sob o comando de Oswaldo de Oliveira, o Santos entra no Campeonato Brasileiro de 2014 brigando por uma vaga na próxima Copa Libertadores da América. O time ainda necessita de alguns reforços no setor defensivo e com um pouco de sorte pode até aparecer entre os que brigam pelo título.

O entrosamento entre os jogadores de ataque e um melhor encaixe do centroavante Leandro Damião na equipe são cruciais para qualquer pretensão santista na temporada. A esperança ainda existe, mas agora a ela se junta a pressão por bons resultados e o Santos tem que corresponder para seguir sonhando.